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[Bráulio Tavares]

O romance Tarzan dos Macacos foi publicado pela primeira vez no número de outubro de 1912 da revista The All-Story Magazine e iniciou uma das franquias mais bem sucedidas da pulp fiction e da cultura de massas. Edgar Rice Burroughs publicou cerca de 20 romances envolvendo o lord inglês perdido na selva ainda criança e criado pelos macacos africanos. Ao que se diz, foi ele o primeiro escritor a ganhar um milhão de dólares produzindo ficção popular. ERB criou outras séries de grande sucesso: as aventuras de John Carter em Marte, adaptadas há pouco para o cinema, e as histórias de Pelucidar, o reino subterrâneo.
 
Na revista Million (set-out 1991), Brian Stableford dá um balanço na obra desse típico escritor “pulp”. Diz ele que o núcleo do mito de Tarzan está nos dois primeiros livros (Tarzan of the Apes, 1912; The Return of Tarzan, 1913), e que nos romances seguintes Burroughs limitou-se a repetir situações. Quando tentou introduzir novidades, os resultados foram bizarros, e ele dá como exemplo Tarzan e os Homens-Formigas (1924), Tarzan no Centro da Terra (1930), Tarzan e o Homem Leão (1934). Diz ele também que Tarzan e a Cidade Proibida (1938) é obra de um ghost-writer, o qual, ainda por cima, tinha pouca familiaridade com o universo do personagem.
 
O charme de Tarzan, diz Stableford, é que ele tem o coração de um leão e a mente de um aristocrata, e os dois não estão em conflito. Ao conhecer as capitais européias ele as despreza e volta para a selva natal, porque os parâmetros morais na selva são mais elevados do que os das cidades. Tarzan é a mais bem sucedida fantasia do “bom selvagem” não corrompido pela civilização. Sua selva é uma construção bizarra, impossível de encontrar na vida real: muitos dos animais em Tarzan dos Macacos, inclusive os leões, não habitam a floresta. Seus macacos são um composto imaginário de diversos tipos. A primeira versão do livro tinha inclusive tigres que um editor prudente achou melhor suprimir.
 
Stableford diz que em geral compara-se Tarzan com Mowgli, o menino-lobo do Livro da Selva de Kipling, ele também um bebê criado e adotado pelos animais selvagens. A comparação mais precisa (diz ele) seria no entanto com o Peter Pan de James Barrie – alguém que vive numa Terra do Nunca e só é capaz de ser feliz dentro dela. Peter Pan e Tarzan se decepcionam com o mundo civilizado, um mundo forjado pelos adultos, em torno de problemas adultos, ambições e hipocrisias adultas, concessões e negociações típicas dos adultos. Voltar para a selva ou para a Terra do Nunca é voltar para um mundo de aventuras sem risco e violência sem culpa, característicos da infância.