Sobre intelectuais, quem são, por que são?
Por Cunha e Silva Filho Em: 12/07/2012, às 10H48
Cunha e Silva Filho
Tema por demais controverso, o conceito de intelectual formado por leitores, acadêmicos pertencentes às academias de letras, de ciências, ou as duas juntas, e ainda a grande parcela oriunda do meio universitário e dos grandes centros de estudos avançados nas sociedades de elevada complexidade intelectual, bem como pela mídia, por grupos culturais diversos, pela sua própria natureza , pelos seus inúmeros e intrincados componentes implicados na escala de conhecimentos, de erudição, de experiência, de produção científica ou artística, torna-se uma questão difícil de resolver-se no simples espaço de um artigo.
O que pretendo discutir sobre o tema diz respeito a duas situações reais que dividem opiniões diferentes e sobretudo polêmicas:
1) Em que nível de conhecimento se pode considerar alguém, novo ou velho, um intelectual?; 2) Pode-se definir um jovem como sendo um intelectual? A estas duas indagações, tentarei responder nas linhas seguintes.
A questão de classificar o indivíduo como intelectual não depende, a meu ver, da faixa etária, pois esta não é a medida ideal pela qual se há de avaliar o nível intelectual de uma pessoa.. O que pesa na definição é o amadurecimento, a capacidade de reflexão crítica, a operosidade e o nível de conhecimento revelado por ela. E isso vale tanto para o jovem quanto para o mais velho.A prática tem provado que , no exemplo da vida cultural brasileira, grande parte de jovens intelectuais iniciaram suas vida escrevendo obras que de imediato se fizeram respeitadas no cenário da intelectualidade do país.
Daria alguns exemplos - e estou me limitando apenas ao campo da ensaio, da história, da crítica, da filologia, da linguistica, - Ronald de Carvalho, Graça Aranha, Alceu Amoroso Lima, Álvaro Lins, Afrânio, Coutinho, Nelson Werneck Sodré, Augusto Meyer, Antonio Candido, Gilberto Freyre, Eduardo Portella, José Guilherme Merquior, Roberto Schwarz, Sílvio Elia, Serafim da Silva Neto, Mattoso Câmara, Mário Faustino, entre tantos outros. São autores, são intelectuais que, bem cedo, demonstraram a que vieram e todos eles desenvolveram seus estudos posteriores cada vez mais reafirmando maior profundidade e qualidade ao longo dos anos. Ainda que, em alguns caso, tenham sido interrompidos por morte precoce.
A história cultural tem acentuado que a precocidade é um dos sinais mais indicativos do intelectual. Sua pouca idade é compensada pela formação contínua na incorporação e assimilação de conhecimentos e saberes, de realizações que se devem ao talento e a uma disciplina rigorosa no que concerne aos seus estudos, às horas e anos gastos dedicados às investigações e pesquisas . Tudo feito em pouco tempo, porém com produção intensa e extensa em alguns casos. Por outro lado, a condição de ser um jovem intelectual não se limita apenas a contribuições que deram às suas áreas de estudos, mas ao seu poder de influir sobre a vida social de seu país, seja pela irradiação de seu pensamento, seja pelo respeito e consideração que conseguiu de seu pares e de parte considerável da sociedade.
Estou tomando o conceito de intelectual aqui não apenas considerando-o pela faixa etária, mas pelo seu desempenho e importância que foram naturalmente conquistados pelo seu poder de debater, em sua atuação principal, aquilo que é relevante ao desenvolvimento da sociedade. Estou falando da força saudável que provém do papel do intelectual em ser um elemento ativo , dinamizador, catalizador de ideias que se podem transformar em ações concretas não somente no âmbito de suas investigações como também no debate nacional que se dirige às mais prementes questões de interesse da nação e de sua vida cultural no sentido mais vasto do termo.
É claro que um jovem intelectual é um ser em processo de formação contínuo, mas isso não o impede de atuar fortemente em defesa de grandes causas, seja no terreno das letras, seja no das ciências, das artes e do pensamento social. Por conseguinte, não me parece correto negar levianamente o conceito de intelectual só pela faixa etária. A formação do conhecimento a que já me referi, é uma ação contínua da inteligência.
O mais acertado, na discussão do tema, seria a combinação do novo com o mais antigo, desde que exista a indispensabilidade do talento, da seriedade nos estudos e da capacidade de trabalho , enfim, da produção intelectual. Dissociar os valores novos dos valores mais experientes me parece um erro grave e um lamentável preconceito, tendo em conta que nem sempre o passar do anos é bem aproveitado pelo indivíduo na obrigação que ele tem diante do aperfeiçoamento e de sua continuidade de estudos e pesquisas.
Quando o indivíduo lamenta o tempo perdido que, se fosse aproveitado em anos anteriores de sua formação cultural, essa atitude põe por terra a hipótese de que os anos vividos são, por si sós, atestados de desenvolvimento de melhor qualidade.de conhecimento. A condição do status de intelectual não será, repito, mensurada pela idade, e sim pela dedicação plena da intensidade e extensão do cultivo do saber e de sua transformação em obras de bom ou excelente nível. Não é uma questão meramente de anos de vida.