Shodoka: A canção da liberdade
Por Rogel Samuel Em: 22/05/2009, às 02H28
Shodoka: A canção da liberdade
Rogel Samuel
Um dos textos mais belos do Zen é este "Shodoka: A canção da liberdade" de Daishi de Yoka (nasceu por volta do ano 665 e morreu em 713), de que traduzo os primeiros versos da tradução de Yasuda Joshu roshi e Anzan Hoshin roshi.
Diz Taisen Deshimaru que "Yoka nasceu em 665, na aldeia de Yoka, de onde vem o seu nome. Tornou-se monge com a idade de vinte anos e deixou sua casa com o objetivo de estudar o budismo em todas as suas formas, bem como os pensamentos de Lao-Tzu e Confúcio. Mas os estudos não o satisfaziam e a dúvida persistia. Um de seus amigos sugeriu que se apresentasse ao Mestre Eno (Houei-Neng, em chinês), o sexto patriarca, no monte Sokei, para compreender a verdadeira essência da filosofia do budismo. Yoka morreu em 713, na postura zazen. Dizem que seu corpo foi embalsamado nessa postura. Depois de sua morte, o imperador lhe deu o nome de Muso, "O Incomparável", Daíshi, "Grande Mestre". Ele escreveu o Shodoka que contém a essência de todos os sutras e do Zen".
Você alguma vez viu alguém no Caminho?
Além da ação e além do aprender,
a pessoa está livre,
não luta contra ilusão
ou não se apega à verdade.
A pessoa vê a natureza da ignorância
como a própria Consciência Essencial,
e a ilusão do próprio corpo da pessoa
é o Reino da Realidade.
Percebendo completamente
o Reino da Realidade como sem objeto,
a pessoa acha em si mesmo a fonte de todas as coisas
e sua própria natureza como a Consciência Desperta.
Os cinco agregados surgem e se deterioram como
nuvens sem propósito,
as três orientações torcidas vêm e vão
como bolhas de água.
A ipseidade se percebe, nem ego nem coisas existem;
num momento causa e efeito são livres.
Se qualquer coisa que eu digo é falsa
que minha língua seja arrancada durante eternidades incontáveis.
Em um único momento de despertar direto
para o Zen de Realidade como uma presença contínua,
as seis perfeições e meios hábeis incontáveis
estão completos.
Os seis reinos de existência são um sonho,
despertando-se não serão achados eles em nenhuma parte.
Nenhum erro, nenhuma felicidade, nenhuma perda, nenhum ganho;
você não achará estes na Natureza Atual.
Tendo deixado de esfregar pó do espelho,
seu brilho é completamente visto.
Quem é que pensa
no não-pensamento e não-existência?
O não-nascido é percebido
dentro do nascido.