Sexo e literatura

[Maria do Rosário Pedreira]

Se já é difícil falar de sexo de forma que não pareça didáctica ou ordinária, escrever cenas de sexo em ficção resulta ainda mais difícil. Cai-se facilmente no literariamente feio (como a mulher a lavar-se no bidé depois de fazer amor), no óbvio (como nos romances de quiosque, com seios sempre perfeitos), nas metáforas de mau gosto (poupo-vos a algumas que até sei de cor) ou até nalguma coisa próxima da pornografia (demasiado descritivo). Mas curiosamente parece que a escritora Sally Rooney quebrou o tabu e teve muito sucesso, tal como Miranda July, de quem temos cá publicado De Quatro, ou a estreante Yael van der Wouden que ganhou um prémio importante com A Guardiã, um romance que ao que parece tem umas quantas cenas de sexo sem nunca perder o nível literário. Leio num artigo que me enviaram que os jovens americanos declararam querer ver menos sexo e mais amor platónico e puro no cinema, mas apreciam muito o sexo em romances e livros de fantasia. Será que ver sexo é que é o problema? Será que ao ler cenas de sexo não as vêem nas suas cabeças? Conheço algumas pessoas que leram De Quatro (algumas jovens) que acharam que tinha sexo a mais; e eu própria achei que, depois do maravilhoso As Malditas, Camila Sosa Villada foi excessiva nas cenas de sexo no livro seguinte que li dela. Estaremos a ficar puritanos? Não sei, tenho de ler o premiado A Guardiã para tirar teimas.