Serro (Minas Gerais): poema de Jefferson Bessa

A entrada de Serro parece embarreirar

afastar da incrustação de seus diamantes.

Rastreia a ambição das caminhadas

os passos seguem e retrocedem pesados.

Cercada de pontas de pedras preciosas,

as agudas pedras na Serra do Espinhaço

espetam a entrada. Interferem a passagem.

 

Ao largo aponta para todos os ângulos

e crava aos olhos o pico do Itambé.

Posto bem ao alto parece fiscalizar:

ninguém extrai, ninguém se perde.

 

(A entrada parece ser controlada:

talvez pelos espectros dos dragões

prontos a atualizar as interdições.

Os espectros vivem mortos,

Exigem o contrato de extração.

Não tenho como pagar os direitos régios!

(Não disse tributos, talvez fosse preso.

O governo desterrou um frade

ensinava aos leigos a diferença)

Disseram que os córregos eram do rei

já foram nomeados "Quatro Vinténs e Lucas"

e que eu poderia sofrer o castigo do desterro 

para Angola, Índia ou Nova Colônia

e disseram ainda que os diamantes...

Enquanto falavam, se desfaziam aos ventos

e os dragões passaram para o fundo da cena)

 

Ao entrar, a cidade parece querer expelir.

O vermelho barro se espalha pelo chão

saindo das brechas das pedras do pavimento.

A cor resseca os olhos e a respiração

o peso das ladeiras desce pelos cantos.

Lá no fundo, Serro parece se esconder 

cercada de morros, montanhas, vales.

No topo da funda cidade sobressai a igreja

a pequena Igreja de Santa Rita parece vigiar.

Contudo não existem mais aquelas sentinelas

agora em seus degraus se pode sentar

e o silêncio da cidade vigia nosso olhar.

 

Mergulhada ainda nas suas riquezas,

sua superfície cintila camadas espessas:

depósitos invisíveis de minérios 

reluzentes pelos banhos do tempo

cravados em preto e branco de pedra.

Brilho sem corrida, de calma rigidez.

 

Cintila não da luz de ouro e diamante

mas da onda e da irregularidade do branco

cristalino no espectro de ladeiras e casas 

incrustadas de pedras não extraídas.