São Julião
Em: 17/06/2013, às 08H50
[José Ribamar Garcia]
Você sabe onde fica São Julião? Moço, fica no Sul do estado, depois de Picos, por quê? Vou ser homenageado lá. Quando? Amanhã, de tarde. Pois eu levo você, disse Antenor Rêgo Filho, sempre prestativo. E acrescentou: moço, andei muito por aquelas bandas com o Homero, fazendo campanha. Homero a que se referia era o escritor e ex-deputado estadual Homero Castelo Branco, que acabou de ingressar, por aclamação, na Academia Piauiense de Letras. A que horas vai ser a homenagem? Por volta das 14h. Então, a gente tem que sair daqui bem cedo.
No dia seguinte, às seis e meia, ele estava no hotel. E, antes das sete, no portão da casa da professora Maria Ilza, que ia também e levou junto a filha Mariza.
Antenor, ou mestre Tena, dirigia a caminhoneta, que, sem afobação, engolia o asfalto liso e bem conservado. Eu, no banco do carona, elas atrás. Enquanto Maria Ilza falava de apicultura. Do tempo que andava com o pai pelas matas, à procura de flores silvestres, que rendessem mel de boa qualidade.
Adentramos São Julião ao chegar da tarde. Fomos direto para o prédio da Secretaria de Educação, onde almoçamos acompanhados por alguns professores. Comida simples, com feijão nativo. Cidade do semiárido piauiense, de arquitetura da metade do século passado, de gente amável e concentrada nos afazeres.
Antes da solenidade, mestre Tena resolveu procurar um local, onde se pudesse tomar banho e trocar de roupa. Encontrou uma pousada, ao lado do posto de gasolina. Quanto é o quarto? Tudo bem, queremos dois. Aí o atendente se engasgou. Não encontrou as chaves. Alguém, aí, sabe das chaves dos quartos? Perguntou, olhando para o encarregado. As chaves? Sim, as chaves. Ah, acho que o dono levou. E cadê o dono? Inquiriu mestre Tena. Parece que foi pra Picos, mas num vai demorar não. Dali a Picos, ida e volta, perfazia cerca de
A homenagem aconteceu na quadra do Centro Esportivo do Município. Gente pelas calçadas. De estudantes das escolas municipais e familiares a professores. Dentre estes, Maria Cândida, organizadora do evento; o também escritor Francisco de Assis Sousa; e o talentoso Rocílio Rocha que me presenteou com o desenho do meu retrato. Um artista esse rapaz. Meu livro “Pra onde vão os ciganos?” havia sido lido pelos alunos da oitava série. Além da leitura dos trabalhos feitos sobre alguns dos contos, com premiação para os melhores colocados, houve a peça teatral, baseada no conto que deu título ao livro, apresentada por um grupo de adolescentes. Essa peça, posteriormente, seria encenada em outras cidades da região, inclusive em Picos.
Depois da festa, fomos deixar Maria Ilza e Mariza em Fronteiras, onde passariam o fim de semana. Ela ainda nos levou a uma pousada – que não agradou - e a conhecer a igreja principal da cidade. Após sortido café, com bolo de goma, na casa da mãe dela, retornamos, já noite, a São Julião.
Desta vez, as chaves estavam no local certo. Deixamos o carro e saímos caminhando, à procura de algo para comer. Bem ali tem um restaurante que serve carne de sol, disse o vigia do posto. Ótimo. Era tudo o que se queria. Mas, de carne de sol, nem o cheiro. Nem de outra qualquer. E o que a senhora tem? Sanduíche de “ambugue”. Então nos sirva dois, antes uma cerveja super gelada. De freguês, nós e o trio de jovens numa mesa próxima ao balcão. O pão estava seco e o hambúrguer sem sabor. Pedi três ovos fritos, para dar gosto ao paladar.
Mal começamos a mastigar, a proprietária estendeu uma rede ao nosso lado, e nela deitou um menino de poucos anos. Não custou, o barulho no chão: era a criança mijando. O mijo ainda respingou nos nossos pés. E antes que viesse algum cheiro esquisito, mestre Tena me olhou, naquele olhar que dizia tudo, balançou a cabeça num gesto negativo, e pediu a conta.