¶ 247 – Empreendedor, acadêmico e visionário, Samuel Benchimol (1924-2002) produziu uma das principais obras intelectuais do País. Estudioso sobre a Amazônia, ele ergueu o grupo Bemol, um dos mais fortes do País, e escreveu diversos livros sobre a formação econômica, social e cultural da região. Foi um dos primeiros teóricos do desenvolvimento sustentável e defensor da tese de que os países ricos devem pagar pela preservação. Sua obra é agora relançada pela Editora 247, que edita Brasil 247, no formato digital. Os livros “A guerra na floresta”, “Zênite e Nadir”, “Amazônia – Um pouco-antes e além-depois”, “Amazônia – Formação Social e Cultural” e “Eretz Amazônia” estão disponíveis como e-books para iPads, tablets com sistema operacional Android e também na Amazon.com. Podem também ser baixados na Livraria 247.
Leia, abaixo, um ensaio da professora Lillian Alvares, da Universidade de Brasília, sobre a importância da obra de Samuel Benchimol:
O Pesquisador e Professor Emérito da Universidade Federal do Amazonas surpreende não apenas pela grandeza com que apresenta os temas relativos à Amazônia, mas também pela urgência com que trata seus problemas ambientais e econômicos, destacando as novas formas de energia limpa e da agricultura, valorizando o desenvolvimento da ciência e tecnologia para controle de clima e da genética, estimulando o desenvolvimento de fertilizantes químicos e orgânicos inofensivos ou menos agressivos, indicando a necessidade de esforços contínuos na educação, no controle de natalidade, na elevação dos padrões de saúde e defendendo a criação do Imposto Internacional Ambiental. Esse último, amplamente justificado e eternizado em suas próprias palavras: a Amazônia tem valor, mas não tem preço; não tem preço, mas tem custo.
Algumas de suas obras seminais são agora veiculadas também em formato digital, ampliando as formas de acesso e disseminando em novas mídias o conhecimento sobre a Amazônia. São elas: “Amazônia: um Pouco Antes e Além Depois (1977)[1]”, “Amazônia: a Guerra na Floresta (1992)[2]”, “Eretz Amazônia: os Judeus na Amazônia (1998)[3]”, “Amazônia: Formação Social e Cultural (1999)[4]” e “Zênite Ecológico e Nadir Econômico Social (2001)[5]”.
A publicação “Amazônia: um pouco-antes e além-depois” é uma coletânea dos principais trabalhos produzidos pelo autor no período compreendido entre 1946 e 1977. O primeiro texto trata da descoberta da Amazônia com narrativa autobiográfica - infância, adolescência, juventude, de sua formação no Brasil, nos Estados Unidos e os primeiros anos profissionais. Seguem análises históricas do nordestino na Amazônia, em especial o cearense, seguido do poético Romanceiro da Batalha da Borracha, elaborado concomitantemente com partes do Velho Testamento. O capítulo contém depoimentos daqueles que viveram os ciclos da borracha, captados por uma perspectiva sobretudo humana. A geografia e ecologia amazônica são tratadas em seguida com destaque para a geografia física e humana do Rio Amazonas e suas extensões várzea e terra firme. Nesse ponto, o autor apresenta propostas de desenvolvimento regional a partir de 12 variáveis independentes e 49 opções estratégicas. O último texto, e parte preponderante da obra, mostra que o entendimento pleno da Amazônia, exige elaborar concepções distintas da região geográfica, da província botânica, da bacia hidrográfica, do conjunto geopolítico, do espaço socioeconômico, da área legal, da formação cultural e do processo de integração brasileira. Nesse panorama, o livro apresenta os principais projetos geopolíticos para a Região, desde 1823 até 1966. Finaliza com o conceito de Oikopolítika Amazônika, tentando caracterizar uma nova ciência política interdisciplinar nascendo entre a fronteira da economia e da ecologia.
Em “Amazônia: a Guerra na Floresta” temos uma obra de natureza eminentemente econômica. Publicada em 1992, no mesmo ano da Conferência Rio 92, causa surpresa pela atualidade. O autor apresenta a trajetória das tentativas de apresentar soluções para os problemas amazônicos. Mostra que as soluções são inadequadas porque a abordagem ao problema é superficial, tratando a Amazônia de maneira uniforme, quando de fato são muitas as realidades lá existentes. Ao preparar os diversos relatos desse trabalho, Benchimol desconstrói mitos, lendas e arroubos românticos, apresentando em contrapartida realidades concretas e tangíveis. Dentre elas, realça a certeza da necessidade do desenvolvimento científico e tecnológico para encontrar o equilíbrio ecológico, econômico, político e social que ele tanto defendeu em vida.
Ao escrever “Eretz Amazônia: os Judeus na Amazônia”, Benchimol conclui que depois dos nordestinos e portugueses, a maior contribuição à formação social e cultural da Amazônia veio dos sefaraditas marroquinos, que chegaram, ao contrário de outros grupos, acompanhados de mulher e filhos, o que já prenunciava o desejo de ficar. A presença judaica na Amazônia tem particular significado no processo de povoamento e desenvolvimento, pois foram eles os pioneiros em muitas atividades e se destacaram pela liderança e contribuição no campo econômico e social. A publicação dedica especial atenção às quatro gerações de judeus na Amazônia e mostra como o Brasil tornou-se a maior nação judaica do mundo com cerca de 16 milhões de judeus e cristãos-novos. A presença judaica na Amazônia carrega consigo a história do povo judeu, que vislumbrou a Eretz Amazônia com assinatura do Tratado de Aliança e Amizade de 1810, que entre outras coisas determinava que não haveria tribunal de inquisição no Brasil.
“Amazônia: Formação Social e Cultural” traça um extraordinário estudo antropológico sobre a formação da sociedade amazônica. A publicação de 1999 foi reeditada em 2007 e é tão atual quanto histórica. O prefácio destaca:
“Ao conhecer os personagens e suas históricas matrizes etnoculturais, a publicação mostra ao leitor as oportunidades que se revelam à medida que a Amazônia é desvendada em seus recursos naturais, minerais, energéticos e no pólo industrial que conseguiu atrair empresas que juntas faturam U$S 16 bilhões anuais em média... Ao encerrar, o volume explica que apesar de múltiplas forças e formas de modernização, a identidade cultural amazônica permanece viva. A ocupação humana, do encontro da cultura ameríndia autóctone com as culturas européias e africanas fizeram surgir a Amazônia Lusíndia, que segundo o autor, o melhor e o maior exemplo de brasilidade que a todos acolhe e os querência no seu vasto, exótico e estranho mundo“.
No livro “Zênite ecológico e nadir econômico-social”, o mais profícuo pensador dos problemas e da singularidade amazônica usa a metáfora geoastronômica para mostrar a situação do apogeu ecológico e perigeu econômico da região. A apresentação da obra realça:
“O ponto central do texto é a tentativa de solução aos problemas econômico-sociais persistentes da região. O autor mostra com clareza que nenhum país e desenvolvido ou subdesenvolvido por acaso ou coincidência. Essa situação é produto de ações ou inações, segundo o autor, imemoriáveis, que os levaram a regressão, estagnação, pobreza, perpetuando condições seculares negativas geradas por suas próprias culturas ou valores. O nadir econômico-social é, portanto, resultado de fatores climáticos, metereológicos, elementos de ordem espiritual e religiosa, fator racial e de gênero, baixa produtividade das empresas, distância e isolamento, criações animais sem reconhecimento de qualidade, manejo florestal inadequado, uso indiscriminado do fogo, desmatamento, dificuldade em sair da pobreza, analfabetismo formal e informal e políticas inadequadas.”
Para finalizar a apresentação do legado científico do grande humanista e pensador, cabe destacar que dentre as homenagens que recebeu, seu nome designa o prédio principal da Universidade Estadual do Amazonas e batiza a Escola Estadual Samuel Benchimol. Após sua morte, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior criou o Prêmio Prof. Samuel Benchimol, cuja primeira edição aconteceu em 2003 e nunca foi interrompida, apoiando inúmeros projetos para o desenvolvimento ambiental, econômico, social e tecnológico da Amazônia. A partir de 2009 uniu-se ao Prêmio Banco da Amazônia de Empreendedorismo Consciente, criando a maior iniciativa de reconhecimento de boas ideias e projetos para a região.
Era também destacada presença na comunidade a que pertencia e importante empresário. Foi presidente do Comitê Israelita do Amazonas, fundador do grupo Bemol/Fogás junto com os irmãos e membro da Academia Amazonense de Letras. Samuel Benchimol será lembrado pela causa que defendeu por toda a vida: “o desenvolvimento sustentável da Amazônia deve respeitar quatro parâmetros e paradigmas fundamentais: ser economicamente viável, ecologicamente adequado, politicamente equilibrado e socialmente justo”.
Leia, abaixo, um ensaio da professora Lillian Alvares, da Universidade de Brasília, sobre a importância da obra de Samuel Benchimol:
A AMAZÔNIA DE SAMUEL BENCHIMOL: LEGADO HUMANO E CIENTÍFICO
Admirado por Gilberto Freyre, reconhecido como intelectual superior e tratado como o mais amazonófilo dentre os brasileiros, Samuel Benchimol publicou densos estudos sobre a Amazônia, totalizando 110 obras entre artigos e livros publicados a partir de 1942 e só encerrados com sua morte em 2002. Era o mais objetivo, o mais científico, o mais idôneo, no seu conjunto de saberes sobre a Amazônia e o mais lucidamente didático na irradiação do seu conhecimento.O Pesquisador e Professor Emérito da Universidade Federal do Amazonas surpreende não apenas pela grandeza com que apresenta os temas relativos à Amazônia, mas também pela urgência com que trata seus problemas ambientais e econômicos, destacando as novas formas de energia limpa e da agricultura, valorizando o desenvolvimento da ciência e tecnologia para controle de clima e da genética, estimulando o desenvolvimento de fertilizantes químicos e orgânicos inofensivos ou menos agressivos, indicando a necessidade de esforços contínuos na educação, no controle de natalidade, na elevação dos padrões de saúde e defendendo a criação do Imposto Internacional Ambiental. Esse último, amplamente justificado e eternizado em suas próprias palavras: a Amazônia tem valor, mas não tem preço; não tem preço, mas tem custo.
Algumas de suas obras seminais são agora veiculadas também em formato digital, ampliando as formas de acesso e disseminando em novas mídias o conhecimento sobre a Amazônia. São elas: “Amazônia: um Pouco Antes e Além Depois (1977)[1]”, “Amazônia: a Guerra na Floresta (1992)[2]”, “Eretz Amazônia: os Judeus na Amazônia (1998)[3]”, “Amazônia: Formação Social e Cultural (1999)[4]” e “Zênite Ecológico e Nadir Econômico Social (2001)[5]”.
A publicação “Amazônia: um pouco-antes e além-depois” é uma coletânea dos principais trabalhos produzidos pelo autor no período compreendido entre 1946 e 1977. O primeiro texto trata da descoberta da Amazônia com narrativa autobiográfica - infância, adolescência, juventude, de sua formação no Brasil, nos Estados Unidos e os primeiros anos profissionais. Seguem análises históricas do nordestino na Amazônia, em especial o cearense, seguido do poético Romanceiro da Batalha da Borracha, elaborado concomitantemente com partes do Velho Testamento. O capítulo contém depoimentos daqueles que viveram os ciclos da borracha, captados por uma perspectiva sobretudo humana. A geografia e ecologia amazônica são tratadas em seguida com destaque para a geografia física e humana do Rio Amazonas e suas extensões várzea e terra firme. Nesse ponto, o autor apresenta propostas de desenvolvimento regional a partir de 12 variáveis independentes e 49 opções estratégicas. O último texto, e parte preponderante da obra, mostra que o entendimento pleno da Amazônia, exige elaborar concepções distintas da região geográfica, da província botânica, da bacia hidrográfica, do conjunto geopolítico, do espaço socioeconômico, da área legal, da formação cultural e do processo de integração brasileira. Nesse panorama, o livro apresenta os principais projetos geopolíticos para a Região, desde 1823 até 1966. Finaliza com o conceito de Oikopolítika Amazônika, tentando caracterizar uma nova ciência política interdisciplinar nascendo entre a fronteira da economia e da ecologia.
Em “Amazônia: a Guerra na Floresta” temos uma obra de natureza eminentemente econômica. Publicada em 1992, no mesmo ano da Conferência Rio 92, causa surpresa pela atualidade. O autor apresenta a trajetória das tentativas de apresentar soluções para os problemas amazônicos. Mostra que as soluções são inadequadas porque a abordagem ao problema é superficial, tratando a Amazônia de maneira uniforme, quando de fato são muitas as realidades lá existentes. Ao preparar os diversos relatos desse trabalho, Benchimol desconstrói mitos, lendas e arroubos românticos, apresentando em contrapartida realidades concretas e tangíveis. Dentre elas, realça a certeza da necessidade do desenvolvimento científico e tecnológico para encontrar o equilíbrio ecológico, econômico, político e social que ele tanto defendeu em vida.
Ao escrever “Eretz Amazônia: os Judeus na Amazônia”, Benchimol conclui que depois dos nordestinos e portugueses, a maior contribuição à formação social e cultural da Amazônia veio dos sefaraditas marroquinos, que chegaram, ao contrário de outros grupos, acompanhados de mulher e filhos, o que já prenunciava o desejo de ficar. A presença judaica na Amazônia tem particular significado no processo de povoamento e desenvolvimento, pois foram eles os pioneiros em muitas atividades e se destacaram pela liderança e contribuição no campo econômico e social. A publicação dedica especial atenção às quatro gerações de judeus na Amazônia e mostra como o Brasil tornou-se a maior nação judaica do mundo com cerca de 16 milhões de judeus e cristãos-novos. A presença judaica na Amazônia carrega consigo a história do povo judeu, que vislumbrou a Eretz Amazônia com assinatura do Tratado de Aliança e Amizade de 1810, que entre outras coisas determinava que não haveria tribunal de inquisição no Brasil.
“Amazônia: Formação Social e Cultural” traça um extraordinário estudo antropológico sobre a formação da sociedade amazônica. A publicação de 1999 foi reeditada em 2007 e é tão atual quanto histórica. O prefácio destaca:
“Ao conhecer os personagens e suas históricas matrizes etnoculturais, a publicação mostra ao leitor as oportunidades que se revelam à medida que a Amazônia é desvendada em seus recursos naturais, minerais, energéticos e no pólo industrial que conseguiu atrair empresas que juntas faturam U$S 16 bilhões anuais em média... Ao encerrar, o volume explica que apesar de múltiplas forças e formas de modernização, a identidade cultural amazônica permanece viva. A ocupação humana, do encontro da cultura ameríndia autóctone com as culturas européias e africanas fizeram surgir a Amazônia Lusíndia, que segundo o autor, o melhor e o maior exemplo de brasilidade que a todos acolhe e os querência no seu vasto, exótico e estranho mundo“.
No livro “Zênite ecológico e nadir econômico-social”, o mais profícuo pensador dos problemas e da singularidade amazônica usa a metáfora geoastronômica para mostrar a situação do apogeu ecológico e perigeu econômico da região. A apresentação da obra realça:
“O ponto central do texto é a tentativa de solução aos problemas econômico-sociais persistentes da região. O autor mostra com clareza que nenhum país e desenvolvido ou subdesenvolvido por acaso ou coincidência. Essa situação é produto de ações ou inações, segundo o autor, imemoriáveis, que os levaram a regressão, estagnação, pobreza, perpetuando condições seculares negativas geradas por suas próprias culturas ou valores. O nadir econômico-social é, portanto, resultado de fatores climáticos, metereológicos, elementos de ordem espiritual e religiosa, fator racial e de gênero, baixa produtividade das empresas, distância e isolamento, criações animais sem reconhecimento de qualidade, manejo florestal inadequado, uso indiscriminado do fogo, desmatamento, dificuldade em sair da pobreza, analfabetismo formal e informal e políticas inadequadas.”
Para finalizar a apresentação do legado científico do grande humanista e pensador, cabe destacar que dentre as homenagens que recebeu, seu nome designa o prédio principal da Universidade Estadual do Amazonas e batiza a Escola Estadual Samuel Benchimol. Após sua morte, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior criou o Prêmio Prof. Samuel Benchimol, cuja primeira edição aconteceu em 2003 e nunca foi interrompida, apoiando inúmeros projetos para o desenvolvimento ambiental, econômico, social e tecnológico da Amazônia. A partir de 2009 uniu-se ao Prêmio Banco da Amazônia de Empreendedorismo Consciente, criando a maior iniciativa de reconhecimento de boas ideias e projetos para a região.
Era também destacada presença na comunidade a que pertencia e importante empresário. Foi presidente do Comitê Israelita do Amazonas, fundador do grupo Bemol/Fogás junto com os irmãos e membro da Academia Amazonense de Letras. Samuel Benchimol será lembrado pela causa que defendeu por toda a vida: “o desenvolvimento sustentável da Amazônia deve respeitar quatro parâmetros e paradigmas fundamentais: ser economicamente viável, ecologicamente adequado, politicamente equilibrado e socialmente justo”.
[1] BENCHIMOL, S. Amazônia: um pouco-antes e além-depois. Manaus: Umberto Calderaro / Universidade do Amazonas / Codeama, 1977. 840p. Disponível em
. Acesso em 21 de maio de 2013.
. Acesso em 21 de maio de 2013.
[2] BENCHIMOL, S. Amazônia: a guerra na floresta. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, junho/1992. 329p. Disponível em
. Acesso em 21 de maio de 2013.
. Acesso em 21 de maio de 2013.
[3] BENCHIMOL, S. Eretz Amazônia: os judeus na Amazônia. Edição Comitê Israelita do Amazonas, Centro Israelita do Pará e Confederação Israelita do Brasil, São Paulo/Rio de Janeiro. Manaus, 1998, 272p. Disponível em
. Acesso em 21 de maio de 2013.
. Acesso em 21 de maio de 2013.
[4] BENCHIMOL, S. Amazônia: formação social e cultural. 1999. Disponível em
. Acesso em 21 de maio de 2013.
. Acesso em 21 de maio de 2013.
[5] BENCHIMOL, S. Zênite ecológico e nadir econômico-social: análises e propostas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Editora Valer. Manaus, 2001, 224p. Disponível em
. Acesso em 21 de maio de 2013.
. Acesso em 21 de maio de 2013.