Samba-enredo de Machado de Assis

Samba-enredo de Machado de Assis

 




In: Crisálidas

Texto-fonte:

Obra Completa, Machado de Assis, vol. II,

Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.



Publicado originalmente no Rio de Janeiro, por B.-L. Garnier, em 1864.









HORAS VIVAS


por MACHADO DE ASSIS



Noite; abrem-se as flores...

Que esplendores!

Cíntia sonha amores

Pelo céu.

Tênues as neblinas

Às campinas

Descem das colinas,

Como um véu.



Mãos em mãos travadas

Animadas,

Vão aquelas fadas

Pelo ar;

Soltos os cabelos,

Em novelos,

Puros, louros, belos,

A voar.



— "Homem, nos teus dias

Que agonias,

Sonhos, utopias,

Ambições;

Vivas e fagueiras,

As primeiras,

Como as derradeiras

Ilusões!



— Quantas, quantas vidas

Vão perdidas,

Pombas malferidas

Pelo mal!

Anos após anos,

Tão insanos,

Vêm os desenganos

Afinal.



— Dorme: se os pesares

Repousares.

Vês? — por estes ares

Vamos rir;

Mortas, não; festivas,

E lascivas,

Somos — horas vivas

De dormir. —"