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 SAILOR MOON: TERMINA A SAGA DA PRINCESA DA LUA
Miguel Carqueija


Resenha do volume 12 do mangá “Pretty Guardian Sailor Moon” (A linda guardiã Sailor Moon): Editora JBC, São Paulo, 2015; Kodansha, Tokyo, Japão, 2004; criação de Naoko Takeushi. Tradução: Arnaldo Massato Oka.


“Eu acredito no futuro que nós construiremos. É por isso que posso lutar agora.”
(Sailor Moon)

“Usarei o poder do meu cristal lunar prateado para acabar com esta guerra!”
(Sailor Moon)

“A Guerreira da Destruição nunca entenderá a energia forte que as mãos, o corpo e as palavras das pessoas que gostamos e amamos possui!”
(Sailor Moon para Galáxia)


O volume 12 encerra de forma apocalíptica a saga da Princesa da Lua Branca, criada em 1991 pela genial Naoko Takeushi. Entretanto, apesar de toda a expectativa criada em torno desse desfecho, sinto dizer que me decepcionou. Isso porque, pelo pouco que sei de ouvir falar e ler, Naoko Takeushi apressou o final para poder encerrar a saga, o que aliás combina com a fama de temperamentais que possuem os mangakás japoneses.
O que foi dito é que a casa publicadora, Kodansha, ou a produtora do animê, Tohei, ainda desejava um sexto arco. Naoko preferiu encerrar no quinto arco – a fase Stars – em 1997 (o ano de 2004, acima citado, é para a reedição japonesa do mangá, com os 18 volumes compactados para 12, sem nada perder do conteúdo). Ora, no fim tudo acontece muito às pressas e com uma visão mística que, por exorbitante, não chega aonde devia chegar, ou seja Deus. Em outras palavras, parece ter faltado ousadia a Naoko para incluir Deus no desfecho, ainda que a sorte pelo menos da Via Láctea estivesse em jogo.
Após repelir um poderoso ataque energético da Sombra Galática contra Tóquio, Sailor Moon resolve que só lhe resta deslocar-se até o centro de nossa galáxia justamente para enfrentar Galáxia (a antiga Sailor Galáxia) frente a frente e resgatar todas as suas amigas e Mamoru Chiba. Logo porém descobrirá que seu verdadeiro inimigo é Chaos, ou Caos, um demônio que ocupou o caldeirão galático do centro da espiral e onde se formam as estrelas e também as sailors (que são, já se vê, uma raça cósmica). Muita coisa é dita e revelada sobre a guerra entre a luz e as trevas, que convivem juntas e se entrechocam. Mas, acima da disputa pelo controle do caldeirão, quem criou aquilo tudo? O caráter mistico e religioso da história ressente-se de uma falta de maior definição, quase deificando Sailor Moon como um ente eterno e que é capaz, por si só, de salvar e resgatar o universo.
Apesar de tudo, Deus é mencionado esporadicamente ao longo do mangá e reaparece bem no final, na forma do Crucificado cuja imagem é vista no templo católico onde Usagi Tsukino e Mamoru Chiba se unem por fim em matrimônio – isso mesmo, Sailor Moon se casa na Igreja Católica, no final da saga.
Talvez o exagero dos acontecimentos finais do mangá tenham intimidado um pouco a Tohei que, ao adaptar a história para o desenho animado dos anos 90, suavizou bem a trama, evitando o aspecto ultra-polêmico do final, quando se falam coisas como “Nossa estrela da esperança nunca se extinguirá. Enquanto as estrelas brilharem nós estaremos bem, nunca perderemos” (Sailor Moon). Palavras que se referem a fatores sobrenaturais cujas origens não se explicam mas que teriam de remeter a Deus.
Pode ser que Naoko Takeushi tenha querido evitar proselitismo religioso e preferido colocar Deus nas entrelinhas, de diversas maneiras que também aparecem no animê dos anos 90 e na série em ação viva dos anos zero zero.
Mas ficaram – apesar da beleza estética da narrativa – alguns pontos obscuros, pontas soltas que revelam a pressa de acabar tudo: que fim levou afinal a família de Usagi (pai, mãe e irmão) e os gatos, deixados em sua casa? E os colegas de escola e outros amigos? Ou foi tudo um sonho como dá a entender a parte final, quando Usagi diz a Mamoru que tivera um longo sonho e esquecera o que era? Quando um conhecido, ligado a fanzine existente na década de 90 no Rio de Janeiro (fanzine especializado no universo das sailors) me disse justo isso – que tudo não passara de um sonho, como o de Alice no País das Maravilhas – eu não quis acreditar. Afinal, a trama era grande demais para caber num sonho. Mas a dica está lá. Totalmente ignorada, aliás, no animê e no seriado de imagem real. Por tais motivos me parece que as versões pós-mangá de Sailor Moon teriam mesmo de suavizar a trama para torná-la menos radical possibilitando a sobrevivência da franquia, como agora mesmo está sendo produzido um novo animê, “Sailor Moon Crystal”.
Em todo o caso, “Sailor Moon” é um mangá extrordinariamente denso e saboroso que merece ser totalmente colecionado, relido, estudado, e guardado cuidadosamente. Aguardamos agora os dois volumes anunciados de Sailor Vênus (a precursora de Sailor Moon) e os dois mangás de histórias extras ou paralelas à trama central.

imagem da franquia

Rio de Janeiro, 22 de abril de 2015.