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 SAILOR MOON E NEHERENIA: A LUZ E AS TREVAS

Miguel Carqueija

 

 

Enquanto as sombras malignas da Lua da Morte obscurecem o mundo, em Elysium, o reino subterrâneo, a Princesa da Lua Branca confronta a Rainha da Escuridão, Neherenia, num duelo que assume proporções apocalípticas, o duelo entre a luz e as trevas, que decidirá o destino do planeta Terra.

 

Resenha do volume 10 do mangá “Pretty guardian Sailor Moon” (A linda guardiã Sailor Moon), de Naoko Takeushi: Editora Kodansha, Tokyo, Japão, 2004; Editora JBC, São Paulo, Brasil, 2015. Mangá originalmente publicado no Japão pela Editora Kodansha entre 1992 e 1997. Tradução: Arnaldo Massato Ota.

 

“A Princesa representa tudo para nós.”

(Sailor Urano)

“Chegou a hora de medirmos forças para decidirmos quem é a verdadeira dominadora deste planeta.”

(Neherenia para Sailor Moon)

“Este planeta pertence àqueles que aqui vivem! Você não passa de um ente de coração maligno que espalha pesadelos! Sailor Moon irá puni-la em nome da Lua!”

(Sailor Moon para Neherenia)

“O meu sonho é proteger este planeta com o Mamo-chan... para que todos possam viver felizes.”

(Sailor Moon)

“Não posso ser derotada aqui por um pesadelo.”

(Sailor Moon)

“Ela surgiu arrastando uma sombra negra atrás de si.”

(Sailor Vênus)

“Todos nós possuímos uma estrela dentro dos nossos corações.”

(Sailor Moon)

 

 

            Cada volume de “Sailor Moon” surpreende com novas revelações quando se pensa que já se conhecia o suficiente deste universo ficcional. Este décimo volume, com os atos 45 a 49 e mais de 240 páginas, está recheado de novas revelações.

            Pela primeira vez a história se reporta ao nascimento original da Princesa Serenity, a Usagi Tsukino (Sailor Moon), há muitos milênios atrás. Filha da Rainha Serenity (ou Selene) a princesa era um bebê e suas guardiãs Marte, Júpiter, Mercúrio e Vênus ainda crianças, quando o Milênio de Prata foi visitado por uma criatura das trevas, a Rainha Neherenia (este é o nome que conhecemos pelo animê; na tradução do mangá puseram “Nehelenia”, que me soa menos eufônico).

            Uma luta em pleno “mundo do espelho” mostra ás sailors o incidente ocorrido em outra vida, em passado remotíssimo — como diz Sailor Marte, “aquele acontecimento infeliz que escondemos no fundo da nossa memória”. A irrupção — “arrastando uma sombra negra”, como diz Vênus — de Neherenia no palácio real, queixando-se, como a Malévola, de não ter sido convidada para a apresentação da princesa. Pela primeira vez se fala numa origem extra-galática das marinheiras-guerreiras e da Rainha Selene, e a instalação de um reino na Lua reveste-se ainda mais do caráter de uma missão sagrada. Neherenia, porém, que se arroga uma origem semelhante e se instala em outra parte da Lua (na época um planeta luminoso) deseja impor à luz um concubinato com as trevas.

            Naquela época Neherenia e seu reino de sombras e pesadelos sofreram o exílio no mundo do espelho e na Lua Nova (que não existe fisicamente). Mesmo selada nas sombras da Lua Nova, Neherenia lançou uma maldição sobre o Milênio de Prata, que viria a ser destruído por um ataque do chamado “Reino Escuro” do demônio Metalia, episódio já contado em volume anterior.

            A complexidade da saga é tamanha que ombreia com séries literárias de alta fantasia do nível de Nárnia (de C. S. Lewis), Terramédia (de J.R.R. Tolkien) e Harry Potter (de J.K. Rowling). De passagem notamos mais uma vez os signos cristãos que perpassam a epopéia da Princesa da Lua Branca. Um detalhe óbvio é que jamais se fala no pai de Sailor Moon em sua origem lunar, mesmo neste episódio onde ela é mostrada ainda recém-nascida. Tudo dá a entender que a Princesa da Lua nasceu por uma concepção virginal.

            São muitos os personagens messiânicos da ficção porém alguns chegam a ser bastante materialistas, como o “messias” de Matrix ou violentos como o de “Duna”. O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupèry, é bem mais convincente como uma figura de Cristo.

            Naoko Takeusho esforçou-se em frisar o caráter espiritual de sua heroína. É bela a ligação de Sailor Moon com as demais marinheiras-guerreiras e Mamoru Chiba (o Príncipe da Terra, a quem ela chama carinhosamente de Mamo-chan — o “chan” é um sufixo japonês para tratamento carinhoso, mais ou menos “querido”); Usagi catalisa os poderes do grupo elevando assim o seu próprio poder. E, na épica batalha contra a milenar inimiga, Sailor Moon atinge finalmente a sua transformação final, quando aparece com asas, assemelhando-se a um anjo.