ROGEL SAMUEL

Todo fim de ano eu me lembro de Sá Francisca, que era uma velhinha pobre que vinha todo mês à casa de minha avó pedir comida ou dinheiro em Manaus.
Conta a lenda que ela morava numa espécie de gruta, um buraco de pedra ou de árvore na Vila Municipal, longe, mas ela vinha a pé...
Minha avó a fazia entrar, ela tomava café com pão, ou almoçava num cantinho calada, e depois ia embora, silenciosa, misteriosa, baixinha, mística.
Eu já escrevi uma crônica sobre ela: mas procurei em vão, não encontrei, minha “produção literária” é dispersa em jornais antigos ou sites que se perderam.
Um dia, ela desapareceu. Minha avó mandou alguém que sabia onde ela morava que voltou com a notícia de que ela tinha desaparecido.
Talvez encantou-se, talvez ela era um mito uma lenda uma alucinação de velhos como eu.
Mas a sua figura sorridente nunca se me apagou.