BARRAS
BARRAS

rua grande



poema de
Rogel Samuel

(para Dilson Lages Monteiro)

rua grande
em Barras do Marataoã
no Piauí, minha paixão distante
Rua Grande
e deserta
ao fundo a Matriz
os muros, as casas
desertos
rua larga e grande
batida pelo sol pelo
silêncio do sol
seguida pelos
passos
silenciosos passos
dos nossos antepassados
ilustres
dos nossos personagens
Fileto, Thaumaturgo
ó memória nativa
ó glória que não se apaga
traços
passos
na rua grande
da história

 

A antiga e histórica Rua Grande, em Barras, é minha paixão distante. Barras do Marataoã, no Piauí, aonde nunca fui, só em sonhos. É uma rua deserta, que nem mais existe, ao fundo vejo a Matriz, os muros, as casas desertas e batidas pelo soberbo sol daquele tempo. Rua larga e grande, em silêncio posta, e aos poucos ouço passos, que sobem, que chegam, quase silenciosos passos dos nossos antepassados, ilustres antepassados, Fileto, Thaumaturgo, recuperados na memória, saídos do tempo, da glória que não se apaga, vejo traços, ouço passos, naquela rua grande da nossa história, da minha história. Sim, poucos sabem que Thaumaturgo, que foi Thaumaturgo quem traçou no papel, quem planejou a cidade de Manaus. O sonho era dele, o visionário, o futurólogo, quem “criou” a cidade foi sua pena, hoje esquecida. As crianças não aprendem na escola? Gregório Thaumaturgo de Azevedo foi governador do Piauí, de 26 de dezembro de 1889 a 4 de junho de 1890; mas também governou o Amazonas, de 1 de setembro de 1891 a 27 de fevereiro de 1892. Nasceu em Barras no dia 17 de novembro de 1853. Thaumaturgo de Azevedo foi o primeiro governador do Piauí, de 1889 a 1890. E governador do Amazonas de 1891 a 1892. Aborrecido com a luta política, demitiu-se do governo do Piauí depois de um excelente governo. O seu secretário de governo era o grande jurista e filósofo Clóvis Beviláqua, um dos fundadores da Academia Brasileira e autor de um comentário em seis volumes do Código Civil Brasileiro. Ofereceram a Thaumaturgo o governo do Paraná. Recusou. Mas optou pelo Amazonas. Foi preso por Floriano, reformado, deportado para a fortaleza de São Joaquim do Rio Branco. Anistiado, voltou ao Exército, chefiou a Comissão de Limites com a Bolívia, que nos deu o Acre. “Thaumaturgo de Azevedo é um grande estadista que merece ser reverenciado por todos os brasileiros”, escreveu Plácido de Castro. Foi prefeito do Alto Juruá, fundador da cidade de Cruzeiro do Sul, e Comandante da Brigada Policial do Rio de Janeiro. Ganhou a medalha de ouro Simão Bolívar. 

Um dia escrevi “O desespero de Barras”:


Não conheço Barras, no Piauí.
Mas conheço Barras, no Piauí.

Sofro com Barras
debaixo dágua
pátria de Governadores
e Heróis.

Thaumaturgo! Thaumaturgo!
Herói de múltiplas plagas,
orai por Barras
debaixo dágua.

Ó grande Fileto Pires
o inventor do grande teatro das selvas,
orai por Barras
debaixo dágua.

Eu sofro por aquela cidade desconhecida
mas que mora comigo dentro do meu sonho
e do meu pobre poema de lastimação...