Tem-se falado, no setor da economia, num dos  assuntos  mais debatidos  da atualidade: a crise financeira global. Claro que ninguém a pode negar como questão de suma relevância que a todos interessa, mesmo os mais desinteressados dos problemas internacionais. No entanto, a crise aí está instalada e se espalhando pelos quatro cantos do mundo. Seu epicentro localiza-se no país que detém a maior e a mais poderosa economia planetária – a terra do Tio Sam, o centro nervoso do capitalismo terráqueo, orgulho do neoliberalismo, dos amantes do vil metal, dos enamorados das cédulas estampando a efígie de Benjamin Franklin, um homem notável, um homem da ciência e dos gostos diplomáticos, autor de uma Autobiografia que ficou famosa pelas suas observações sobre a vida e os homens, contando também entre o que nos deixou a utilíssima invenção do pára-raios.
                      Mas, o assunto que me leva a esta crônica é manifestar o meu assombro e a minha perplexidade de cidadão observador das discrepâncias de atos e atitudes do ser humano, sobretudo das assimetrias de comportamentos sociais dos que estão acima das misérias da maioria dos habitantes do planeta Terra.
                      Constatar as diferenças, as injustiças, os abusos de ostentação dos ricos sobre os pobres eis um campo temático que me atrai a curiosidade de observador.
                    A crise financeira que se abateu sobre as nações ricas ou menos ricas, levando milhares de famílias ao desemprego e à perda de seus bens imóveis em nada muda os hábitos dos ricos ou muito ricos desses países assolados pelas perdas em suas economias. Alguns happy few desses grupos de privilegiados pouco se importam se perderam dois ou três milhões de seus ativos financeiros. Pouco se importam porque eles continuam a consumir nababescamente seus artigos de luxo, suas faraônicas compras de jóias para suas mulheres ou amantes, seus carros suntuosos, seus helicópteros e iates e seus pantaguélicos almoços nos restaurantes mais caros do globo. Nada há que os impeça de continuar com as suas vidas de desperdício e de gastanças homéricas, porquanto para eles o mundo gira em torno do big money. Os miseráveis, a plebe ignara que se lixem. Será que esse estado de menoscabo aos que sofrem não tem fim, ou melhor, não tem punição dos deuses? Mas, até os deuses de barro têm lá seus limites de paciência. 
                   É bem provável que, no fundo de suas consciências, esses paxás em escala mundial não manifestem nenhuma solidariedade pelos desafortunados, porque eles próprios contribuíram, através das práticas dos investimentos de riscos milionários, para a derrocada da economia mundial. Ora, quem se dispõe a investir no campo ou mesmo em outras atividades produtivas se nas stock exchanges da Wall Street se encontram os meios de gerar liquidez sem trabalho e sem o suor do rosto? Ao diabo os pobres do mundo inteiro! 
                 Por isso, vamos às compras. Lá se encontram as grifes mais caras, os mais dispendiosos casacos de luxo, as pedras preciosas mais requintadas, as bolsas Brink de crocodilo, os brincos da Gucci,, os modelos de roupas de Tom Ford, Alan Flusser, Duncan Quinn, entre outras grifes da alta e altíssima burguesia mundial.E o Brasil tem o seu tanto de tudo isso entre os nossos abençoados super-ricos...
              Mundo louco, delirante, megalomaníaco, para o qual só os opulentos merecem a felicidade cá na Terra. Mundo cindido, contraditório, caótico. Loucura plena. Enquanto isso, tomem desemprego, fome, guerra, terrorismo, violência, seqüestros, tsunamis, inundações, poluição, efeito estufa, corrupção desenfreada,  banalização da vida, dematamentos florestais,  derretimento das geleiras, ateísmo, inversão de valores, desrespeito ao próximo, hedonismo ao cubo, guerras fratricidas, invasões covardes, parricídio, pedofilia, filhos maltratando os pais, os avós, conflitos religiosos, polícia corrupta e homicida, super-população Eis o cenário munial apocalíptico.      

            Este é o quadro dantesco da atualidade. Tristes tempos pós-modernos.Mundo esse engolfado, assim, no individualismo e na banalidade do pensamento único, na indiferença ideológica e no desprezo por todas as conquistas morais, éticas e políticas que a Humanidade conseguiu, a duras penas, amealhar ao longo dos séculos. Perdoai-lhes, Senhor, eles não sabem o que fazem, diria o carpinteiro Jesus antes do último suspiro da matéria para o espírito. Amém!