Revista Isto é desvendou, em 2004, a autoria do assassinato de Alexandre von Baumgarten

Assine esta Revista: é nela que profissionais como Amaury Ribeiro Jr. trabalham ou trabalharam!

 

 

 

 

 

 

 

  

 


 

("ARBÍTRIO - O general Newton Cruz durante as medidas de emergência em Brasília, em 1984. A memória da ditadura militar ainda era recente",

http://revistaquem.globo.com/Revista/Quem/0,,EMI12361-9531,00-MEMORIAS+DA+ULTIMA+BATALHA+IDEOLOGICA.html)

 

 

 

 

(http://www.sebodomessias.com.br/sebo/(S(jxhi0lz5urtlcg55aadne2jx))/detalheproduto.aspx?idItem=280090)

 

 

 

"(...) Na "Nova República", a indefinição em que fora deixada a questão das competências respectivas do poder constituinte e dos poderes constituidos resultara de um pacto secreto entre os dirigentes da "Aliança Democrática" com as cúpulas militares e, mais exatamente, com os altos mandos militares não comprometidos com a entourage de Figueiredo, isto é - para mencionar apenas aqueles mais visivelmente envolvidos em surdas e duviosas manobras continuístas e de sabotagem da "transição" -, os generais Valter Pires, Otávio de Medeiros e Newton Cruz. Embora conciliábulos desta natureza não costumem ser registrados em ata, pode-se afirmar com segurança, como de resto o fizeram, na época, fontes sérias da imprensa [(nota-de-rodapé) 15], que o aludido pacto, definitivamente concluído num encontro entre Tacredo Neves e o general Leônidas Gonçalves, comportava o compromisso assumido pelo chefe da "Aliança Democrática" de se abster de qualquer iniciativa suscetível de abalar a estabilidade dos organismos essenciais do poder de Estado, a começar pelas próprias Forças Armadas. Em troca, estás garantiriam apoio à posse de Tancredo Neves a 15 de março de 1985. A designação do general Leônidas Gonçalves como Ministro do Exército constituiria a caução deste acordo. Não experimentamos inclinação alguma para superdimensionar o aspecto conspirativo da ação política. Se a iniciativa de Tancredo Neves não correspondesse a uma vontade majoritária no interior da "Aliança Democrática", a posição do bloco governamental no Congresso Constituinte a respeito das funções dos militares não teria se harmonizado tão perfeitamente com a das próprias cúpulas militares. Esta harmonia, preestabelecida, mas conveniente para ambas as partes, abrangia não somente o estatuto constitucional das Forças Armadas, mas também a questão liminar e decisiva do conteúdo político do próprio processo constituinte (a recusa da "Assembléia exclusiva" visava obviamente a impedir que este processo assumisse características que favorecessem mudanças "radicais" ou indesejados "revanchismos"). Como, entretanto, teria sido indelicado e deselegante amputar, explícita e preventivamente, as atribuições dos constituintes, optou-se pela gelatinosamente tradicional solução de passar por baixo das questões de princípio, deixando que o curso das circunstâncias e, quando necessário, o argumento da força, se encarregassem de colocá-las e de resolvê-las. (...)".

(JOÃO QUARTIM DE MORAES,

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141989000300005&script=sci_arttex;

"O Poder Constituinte e a Força" (artigo), por João Quartim de Moraes,

Estud. av. [Rev.Estudos Avançados, da Universidade de São Paulo] vol.3 no.7 

São Paulo Sept./Dec. 1989.

"João Quartim de Moraes é professor de Ciência Política da UNICAMP e participante do Ciclo de Seminários "Cem anos de República: continuidade e mudança", 1989, do IEA - Instituto de Estudos Avançados da USP";

"Nota '15': Na Introdução ao livro A tutela militar, de nossa co-autoria, em colaboração com Wilma Peres Costa e Eliezer Oliveira, mencionamos o episódio e a fonte de imprensa pertinente, ver: p. 15, nota 4 e p. 18.)

 

 

 

 

  

(http://mulhersaladadefrutas.blogspot.com/2008_08_01_archive.html)

 

 

 

(http://www.quebarato.com.br/polpa-citrica-comida-para-bovinos-caprinos-ovinos__386850.html)

 

 

 

 

BODE EXPIATÓRIO, pintura de W. H. Hunt (1854)

("Bode Expiatório - William Holman Hunt, 1854
Lady Lever Art Gallery, Port Sunlight [INGLATERRA]",
http://www.fflch.usp.br/dh/heros/traductiones/tucidides/bodeexpiatorio.html)

 

 

 

 

(http://clareiradaexistencia.blogspot.com/2009_12_01_archive.html)

 

 

 

 

CARLOS HEITOR CONY, jornalista e, em

julho de 2010, um dos maiores escritores vivos

do Brasil, vestido com o fardão da Academia

Brasileira de Letras, uma vez que ele merecidamente 

é membro de número da Casa de Machado de Assis

(SÓ A FOTO DO ESCRITOR, SEM A LEGENDA

ACIMA REDIGIDA:

http://www.itapedigital.com.br/rol/index.php?option=com_content&task=view&id=4496&Itemid=130)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O GRANDE REPÓRTER DA TV GLOBO GENETON MORAES NETO - que escreveu

o fabuloso livro NITROGLICERINA PURA com o imortal JOEL SILVEIRA ("A VÍBORA",

segundo Assis Chateaubriand) - REGISTRA HISTÓRICA ENTREVISTA CONCEDIDA

PELO GENERAL NEWTON CRUZ, militar reformado que se considera vítima do

medonho sistema que ele, talvez como "banda de música da revolução (de 1964)",

proeminentemente integrou, vindo a ser descartado depois de ter sido

político-estrategicamente usado, COMO SE JOGA FORA UM BAGAÇO DE

LARANJA CHUPADO

{SEM A LEGENDA ACIMA ENGENDRADA NO RESTRITO ÂMBITO DESTA COLUNA

"Recontando...":

http://deshiyoutube.com/Dossi%C3%AA+Globonwes/,

["GENERAL (NEWTON CRUZ) FALA (À TV GLOBO, E, ASSIM, AO BRASIL E AO MUNDO) DE BASTIDORES DO REGIME MILITAR" (GLOBONews Dossiê: NEWTON CRUZ - 3/5, "filmeto" - ou trecho de vídeo - do DESHITUBE PONTO COM)}

 

 

 

 

LEIA SEMPRE ISTO É, ZERO HORA E O OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA:

ESTA COLUNA RECOMENDA QUE SE ASSINE, PARA RECEBIMENTO SEMANAL,

A EXCELENTE REVISTA BRASILEIRA  ISTO É, mas, para se receber todos os dias, a

grande pedida é assinar o jornal  ZERO HORA de Porto Alegre, além de absolutamente

não considerar que é uma boa idéia deixar de ler o OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA online

(http://www.observatoriodaimprensa.com.br/), tanto mais não fosse, por ser editado

 esse conceituado periódico por Alberto Dines!"

 

 

 

 

                     Penhorado agradeço a Amaury Ribeiro Jr. por essas verdades duras que ele

                     conseguiu levantar, prometendo com eficiência e eficácia resistir, se gorilas trajados

                     de verde-oliva ou de outras colorações ideológicas - totalitário-vermelhas, 

                     também conhecidas como stalinistas (*), por exemplo - ameaçarem tomar o

                     poder pela força das armas, novamente, no Brasil

 

 

(*) - Se quiser ler algo, produzido no âmbito desta "Recontando...", contra o não menos apavorante horror totalitário-encarnado [que estabeleceu, em "nível micro", o trabalho escravo em campos de concentração denominados GULAGS, na ex-URSS, e, em "nível macro" (internacional, também, se considerados os países periféricos das decisões imperiais de Moscou, depois da Segunda Guerra Mundial), um verdadeiro horror econômico [para que se utilize - de forma deslocada, já que ela criticou, de forma contundente, a globalização capitalista - uma expressão cara a Viviane Forrester, a respeitada colaboradora do Le Monde e de Le Nouvel Observateur, que recebeu, em 2009, o Prêmio Goncourt da Biografia por seu livro sobre a vida de Virginia Woolf], leia, por favor, a matéria "A função econômico-escravocrata dos gulags soviéticos" (http://www.portalentretextos.com.br/colunas/recontando-estorias-do-dominio-publico/a-funcao-economico-escravocrata-dos-gulags-sovieticos,236,4385.html), aqui recentemente veiculada

 

 

 

 

 

24.7.2010 - É bom estar vivo!  - Não morrendo, o que estava escondido vai aparecendo... e ficamos sabendo das coisas. Exatamente um ano antes de ter explodido uma bomba devastadora NO COLO DE UM TERRORISTA DA EXTREMA-DIREITA BRASILEIRA - FELIZMENTE MATANDO-O, INSTANTANEAMENTE! -, no estacionamento do Riocentro (Rio, Brasil), o responsável por esta Coluna presenciou, com uma amiga (colega de faculdade), o show de música que lá aconteceu, mas não é pelo fato de não ter estado dentro daquele centro de convenções no dia em que uma tragédia de grandes proporções quase aconteceu que deixaremos de nos considerar colocados em extremo perigo físico-corporal pelos grandes derrotados com o fim do período infeliz iniciado em 1964 e terminado 1985, no Brasil. O importante é que, como MORAL DA RECONTADA ESTÓRIA (da Ditadura), vencemos nós e perderam eles. Bom fim de semana e VIVA A VIDA! F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

 

 

 

 

ISTO É Brasil - Nº EDIÇÃO: 1798 - 24.Mar - 10h00

(REPORTAGEM HISTORICAMENTE RELEVANTE E SENSACIONAL DE Amaury Ribeiro Jr.)

  

"Como morreu Baumgarten", copyright IstoÉ, 20/03/04

[OBSERVAÇÃO: ESTA REPORTAGEM FOI TAMBÉM

TRANSCRITA, PELO EDITOR ALBERTO DINES,

NO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA online, COMO

VOCÊ PODE CONFIRMAR EM:

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=269ASP002]

 

"Como morreu Baumgarten

 

Misteriosamente, dois coronéis ligados ao Garra, grupo secreto de operações do SNI, partiram para o Exterior dias depois da morte do jornalista

 

Amaury Ribeiro Jr.

 

Ao assumir em 1986 o cargo de ministro-chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI), a convite do então presidente José Sarney, o general Ivan de Souza Mendes constatou que dois dos principais quadros da agência durante o governo João Baptista Figueiredo (1978-1984) – os coronéis Ary Pereira de Carvalho, o Arizinho, e Ary de Aguiar Freire – gozavam de uma prolongada mordomia no Exterior que fugia dos protocolos normais do governo. Homem de confiança do ex-chefe do SNI, general Octávio Medeiros, desde 1969, quando o ajudou na operação que resultou na queda dos militantes de esquerda do Colina (Comando de Libertação Nacional), em Belo Horizonte, Arizinho se encontrava em Buenos Aires, onde engordava sua aposentadoria com abono de US$ 6 mil mensais por serviços de espionagem. A mesma regalia era desfrutada pelo coronel Ary Aguiar – homem forte de Medeiros na agência central do SNI no Rio de Janeiro –, lotado em Genebra, na Suíça. “Ficou claro que eles estavam no Exterior escondidos porque tinham feito algo errado. Por isso pedi que retornassem imediatamente”, disse Ivan de Souza Mendes, recentemente, a um grupo de militares amigos.

A conclusão do general estava baseada numa coincidência intrigante. Os dois “Arys” debandaram dias depois de terem sido envolvidos no assassinato do jornalista Alexandre Von Baumgarten, em outubro de 1982. Dois dias antes de morrer, o jornalista compôs um dossiê que envolvia membros do SNI num plano para assassiná-lo. No chamado Dossiê Baumgarten, os dois oficiais são acusados de terem participado da reunião em que foi decidida a sua morte.

A participação dos oficiais do SNI e de qualquer outro suspeito do assassinato do jornalista nunca foi comprovada. Apontado como principal testemunha do processo, o bailarino Claudio Werner Polila, o Jiló, apresentou uma versão fantasiosa alimentada pela imprensa e pela polícia na época, que acabou tirando o foco principal da investigação. Embora sofresse de problemas visuais, Polila declarou ter presenciado o sequestro do jornalista, de sua mulher, Janete Hansen, e do barqueiro Manoel Valente por ninguém menos que o chefe da Agência Central do SNI, o general Newton Cruz.

Esse mistério, no entanto, já havia sido desvendado no 14 de outubro, um dia depois do desaparecimento do jornalista, por agentes do CIE de Brasília. Responsável pela análise dos fatos da semana, o então agente no Distrito Federal, Marival Dias, teve acesso a um informe interno que caiu como uma bomba na comunidade de informação. “A notícia interna dizia que o Doutor César (o coronel José Brant) tinha comandado uma operação do Garra – braço armado das ações clandestinas do SNI –, que resultou na morte do Baumgarten”, disse Marival. Os detalhes do assassinato do jornalista foram passados a Marival pelo cabo Félix Freire Dias, o mesmo que cortava os ossos dos presos políticos na Casa de Petrópolis e participou de várias operações de captura e execução com o Doutor César no CIE.

De acordo com Marival, o Doutor César recebeu ordens para dar uma dura no jornalista e recuperar as provas que ele estaria usando para chantagear o SNI. “Mas, ao chegar no Rio, o Doutor César, oficial nervoso recém-chegado do CIE, acabou matando o jornalista, o que o obrigou a eliminar também sua mulher e o barqueiro Manuel.”

Pescaria – Marival esclarece que, quando a notícia chegou ao CIE, o corpo ainda não havia aparecido na praia e a imprensa nem especulava sobre o caso. De fato, o jornalista, que saiu no dia 13 de outubro para uma pescaria ao lado do barqueiro e da mulher, somente apareceu boiando doze dias depois na praia da Macumba, no bairro Recreio dos Bandeirantes. Segundo a perícia, ele não morrera por afogamento e havia marca de três tiros no cadáver. Dias depois, outros dois corpos carbonizados, apontados como sendo de Janete Hansen e do barqueiro, foram localizados em Teresópolis, mas até hoje não foram identificados pela perícia.

Antigo colaborador dos serviços de informação do Exército, Baumgarten usava a revista O Cruzeiro, de sua propriedade, para defender teses favoráveis ao regime militar. Pelos serviços prestados, conseguiu que o SNI lhe fornecesse cartas destinadas a empresários nas quais pedia publicidade. Segundo um amigo do jornalista, que não quis se identificar, ele passou a usar o mesmo método para angariar fundos para a candidatura de Medeiros à Presidência da República. “Aí está a chave do crime”, afirma o amigo. Em seu dossiê, Baumgarten conta que acabou entrando em atrito com o SNI porque a ajuda do órgão à revista não estava sendo suficiente para mantê-la.

Emboscada – Nos órgãos
onde trabalhou, Marival sempre atuou nos setores de análise e informações. Sua tarefa consistia no levantamento sobre prisões e mortes de presos políticos e no cruzamento de dados fornecidos pelos interrogados ou pelos chamados “cachorros”, militantes que colaboravam com a repressão. Essa função estratégica permitiu, segundo ele, acompanhar as principais ações
do CIE comandadas pelo Doutor César, o coronel reformado José Brant Teixeira, e pelo Doutor Pablo, o coronel Paulo Malhães. “Ao contrário
do major Sebastião Curió Rodriguez, figura carimbada que teve uma atuação restrita à Guerrilha do Araguaia, os doutores César e Pablo circulavam por todo o País e estavam envolvidos nas principais operações de prisão, execução e ocultação de corpos do CIE. No Araguaia, participaram da Operação Limpeza, escondendo os cadáveres dos guerrilheiros”, disse Marival.

O ex-agente conta que os dois coronéis ganharam fama dentro dos órgãos de repressão ao montar uma emboscada em Medianeira, cidade no sudoeste do Paraná, para atrair, no dia 11 de julho de 1974, um grupo argentino de militantes de esquerda e guerrilheiros. Comandados pelo ex-sargento Onofre Pinto, os militantes da VPR fugiram do Chile, acuados pela repressão no país, e passaram pela Argentina antes de regressarem ao Brasil. Malhães era ligado ao Dina, o serviço de inteligência chileno, e ganhou o codinome “Pablo” ao participar do gigantesco interrogatório seguido de torturas no Estádio Nacional de Santiago, logo após o golpe militar que derrubou o presidente chileno Salvador Allende.

Segundo Marival, Malhães montou a emboscada no Paraná com a ajuda da Dina e do ex-sargento Alberi Vieira dos Santos, da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, o responsável por atrair os militantes para uma área de guerrilha fictícia na zona rural de Medianeira. De acordo com Marival, Alberi havia sido preso em 1965, ao comandar uma tentativa de rebelião contra o regime em Três Passos (RS), e acabou se tornando informante do CIE infiltrado na VPR. A chácara usada para a área da falsa guerrilha foi arranjada pelo então capitão Areski de Assis Pinto Abarca, chefe do serviço de inteligência do Quartel do Exército de Foz do Iguaçu, que, após a operação, passou a integrar os quadros do CIE. Comandados pelo ex-sargento Onofre Pinto, o estudante argentino Enrique Ernesto Ruggia, 18 anos, e os guerrilheiros da VPR Daniel José Carvalho, Joel José de Carvalho, José Lavéchia, Vitor Carlos Ramos e Gilberto Faria Lima, o Zorro, foram facilmente dominados pelos agentes do CIE ao chegarem na chácara de Medianeira.

“Presos, os irmãos Carvalho, Lavéchia, Vitor, Ruggia e Zorro foram torturados e executados imediatamente”, conta Marival. Em seu relato, diz que a vida do ex-sargento Onofre seria poupada porque, após ter sido torturado, ele teria aceitado colaborar com o Exército. Mas, ao consultar o implacável general Miltinho Tavares, chefe do CIE, Doutor Pablo recebeu ordem contrária. “Temos de acabar com ele para dar o exemplo e inibir a possibilidade de novas deserções”, teria respondido o general. Alberi também teria sido assassinado, como queima de arquivo, em 1977, no Paraná. Para o secretário Nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, esse episódio pode ter originado o diálogo entre o presidente Ernesto Giesel, empossado três meses antes da emboscada, e seu segurança, o tenente-coronel Germano Arnoldi Pedrozzo, revelado pelo jornalista Elio Gaspari no livro A ditadura derrotada: “Nessa hora tem de agir com muita inteligência para não ficar vestígio nessa coisa”, afirmou Giesel ao comentar a prisão e a morte de um grupo de sete pessoas, vindas do Chile e da Argentina, capturadas no Paraná.

Comandando uma rede de informantes do CIE, Doutor César e Doutor Pablo, segundo Marival, também foram responsáveis pelo planejamento e execução de uma megaoperação em inúmeros pontos do País para liquidar, a partir de 1973, os militantes das várias tendências da Ação Popular (AP), movimento de esquerda ligado à Igreja Católica. Segundo o ex-agente, entre os mortos estão Fernando Santa Cruz Oliveira, Paulo Stuart Wright, Eduardo Collier Filho e Honestino Monteiro Guimarães, militantes da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), movimento dissidente da AP. Irmão do reverendo Jaime Wright, Paulo Stuart foi preso e morto em São Paulo, em 1973. Os demais militantes também tombaram naquele ano e em 1974, no Rio. Antes de morrer, Honestino disse a amigos que estava sendo caçado pelos órgãos de informação do Exército em todo o País.

Operação Limpeza – Narradas por Marival, as histórias dos doutores
do CIE parecem não ter fim. Em 1974, quando trabalhava em São Paulo, ele diz ter visto o coronel Brant chegar ao DOI-Codi com os dirigentes comunistas José Roman e David Capistrano, presos quando tentavam regressar ao Brasil pela fronteira do Uruguai. Segundo ele, ambos foram transferidos para a Casa de Petrópolis, onde morreram assassinados.
Em 1977, quando servia no Batalhão de Infantaria de Selva, Marival
diz ter deparado novamente com Brant, que se dirigia ao Araguaia
numa operação de controle para evitar a localização dos corpos dos guerrilheiros do PCdoB. Em 1981, a Operação Limpeza foi reforçada
com a transferência de André Pereira Leite Filho, o Doutor Edgar, oficial do DOI-Codi de São Paulo, para o CIE de Brasília. Ele integrava a tropa de choque de Aldir Santos Maciel, que eliminou oito dirigentes do Comitê Central do PCB.

Preocupados com uma caravana liderada pelo advogado Paulo Fonteles, que se deslocou para o Araguaia na tentativa de localizar as ossadas de guerrilheiros, os agentes do CIE montaram uma operação, no início da década de 80, para amedrontar os moradores que pudessem fornecer informações sobre possíveis cemitérios clandestinos. De acordo com o relatório Hugo Abreu, encontrado entre a papelada do general Bandeira, a Operação Limpeza começou em janeiro de 1975 com “as transferências dos corpos dos guerrilheiros enterrados junto às bases militares do Exército para diversos outros pontos”. Essa política de ocultação de ossadas se estendeu para outras regiões próximas onde tombaram guerrilheiros de outras organizações.

Segundo Marival, em 1980 o Doutor Edgar comandou, por exemplo,
uma expedição que retirou de uma fazenda em Rio Verde, em Goiás, as ossadas de Márcio Beck Machado e Maria Augusta Thomas, integrantes do Molipo (Movimento de Libertação Popular), mortos 1973 num confronto com agentes do CIE. De acordo com o fazendeiro Sebastião Cabral,
os corpos enterrados em sua propriedade foram exumados por três homens em 1980, que deixaram para trás pequenos ossos e dentes
perto das covas.

O cortador de ossos – Ao ser transferido para
o CIE de Brasília, em 1981, Marival foi trabalhar ao lado de um dos homens mais sádicos da ditadura: o cabo Félix Freire Dias, cujos codinomes eram “Doutor Magro” e “Doutor Magno”. As confissões do agente do CIE, famoso por sua atuação na Casa de Petrópolis, no Rio, contribuíram para que Marival pedisse demissão do Exército, sem nenhum rendimento, no final do governo João Baptista Figueiredo (1979-1985). Durante a rotina de trabalho no CIE, Félix contou a Marival que cortava os corpos das vítimas em Petrópolis. Entre elas estava o ex-deputado federal Rubens Paiva, preso no dia 20 de janeiro de 1971, no Rio de Janeiro, por agentes do DOI-Codi.

“O Doutor Magno sentia um prazer mórbido em me contar que apostava com outro carcereiro quantos pedaços ia dar o corpo de determinado prisioneiro executado. As impressões digitais eram as primeiras partes a serem cortadas ”, conta Marival. O destino daqueles corpos também foi relatado por Doutor Magno: “Ele me disse que os pedaços dos corpos, cortados nas juntas, eram colocados em sacos plásticos e enterrados em lugares diferentes para dificultar a localização.” Segundo Marival, a frieza e a morbidez de Félix, que começou no DOI-Codi como carcereiro, lhe valeram uma promoção para a tropa de elite do CIE. Designado para a Guerrilha do Araguaia, integrou-se à tropa de execução do Doutor Luquine, codinome do coronel Sebastião Curió Rodriguez. Do mesmo esquadrão passou a fazer parte ainda o cabo José Bonifácio Carvalho. Conhecido até hoje como Doutor Alexandre, Carvalho entrou nas fileiras do Exército no Pará e chegou ao CIE devido ao seu desempenho nos primeiros combates no Araguaia. “Os dois faziam todo o tipo de trabalho sujo para o Curió, que os presenteou com a presidência e a vice-presidência da Cooperativa de Garimpeiros de Serra Pelada.”

De acordo com um documento obtido por ISTOÉ, em 1º de março de 1985, às vésperas da posse de José Sarney, Félix deixou o Exército, aos 36 anos. No ano seguinte, em 31 de abril, assumiu a vice-presidência da cooperativa Mista de Garimpeiros de Serra Pelada, cujo presidente era o Doutor Alexandre. De 1993 a 1995, Doutor Magno trabalhou na Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). “O Félix andava com um uniforme da Polícia Federal e junto com o Doutor Alexandre formava a dupla de Curió que aterrorizava os garimpeiros em Serra Pelada”, afirma Jane Resende, presidente da União Nacional dos Garimpeiros.

A história do Doutor Alexandre também é conhecida pelos garimpeiros. Após o término da Guerrilha, ele foi escalado por Curió para lotear as terras que deram origem a Curionópolis, cidade cujo atual prefeito é o próprio Curió. A distribuição de terras fez parte do projeto do Exército para ocupação do território por agentes do CIE, a fim evitar a localização dos corpos.

Disposto a esquecer o passado, o coronel Paulo Malhães, que entrou para o Exército em 1958, também foi para a reserva no dia 1º de dezembro de 1985, aos 47 anos, no apagar das luzes do regime militar. A mesma preocupação não teve, porém, seu ex-companheiro José Brant, que até 2001 ocupava um cargo de assessor especial da atual diretora da Abin, Mariza Diniz. Até hoje ele está na folha da Agência.

 
Um homem de decisões corajosas

Nos últimos 20 anos, Marival Chaves Dias, ex-agente do DOI-Codi, tem tomado decisões corajosas. Em 1985, com o fim do regime militar, pediu demissão do Exército, sem vencimentos, depois de 25 anos de serviços prestados em órgãos de repressão. Em janeiro deste ano, resolveu finalmente revelar o nome dos militares que executavam presos políticos.

ISTOÉ – Por que o sr. só deixou o Exército após o fim do regime?
Marival Dias –
Todos os militares que se insurgiram contra a ditadura, sem exceção, foram mortos.

ISTOÉ – Mas parece que o cabo Anselmo está vivo.
Marival –
Ele se tornou um infiltrado especial, porque até os militares infiltrados eram eliminados. Era tão sem escrúpulos que delatou a própria mulher, grávida, morta pela repressão.

ISTOÉ – Por que só agora o sr. resolveu revelar o nome dos matadores que sabem dos cemitérios clandestinos?
Marival –
Para garantir a vida de minha família. Soltei aos poucos para perceber a reação. Revelei em solidariedade aos que não podem enterrar seus entes.

ISTOÉ – O sr. sofreu represálias?
Marival –
Numa situação absurda da Justiça, estou perdendo
minha casa, único bem da família, só por ter atrasado em dez
dias uma prestação.

ISTOÉ – E o que tem a ver isso com o seu passado?
Marival –
O processo foi politizado com a anexação de uma reportagem em que eu falava dos porões do DOI.

ISTOÉ – E não dá para reverter?
Marival –
Está difícil. O autor da ação morreu e o processo não foi extinto. Minha advogada, Lucineide Caliari, depois de receber os honorários, perdeu os prazos de defesa no STJ.


 
Há 40 anos, o golpe militar

João Goulart tinha origem nas bases sindicais e assustava os militares desde os tempos em que era ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, nos anos 50. Por isso, só assumiu a Presidência em 1961, depois da renúncia dee Jânio Quadros, porque aceitou a condição das Forças Armadas: teria seus poderes reduzidos num parlamentarismo aprovado às pressas pelo Congresso. No Planalto, Jango anunciou as reformas de base – agrária, fiscal, administrativa, entre outras. Em 1964, defendendo uma política que para os conservadores cheirava a comunismo, já estava entalado na garganta dos militares. Em 13 de março, assinou sua sentença: na tentativa de provar que tinha o apoio popular, discursou na Central do Brasil, no Rio, para cerca de 200 mil pessoas, ao lado do cunhado esquerdista Leonel Brizola. “As bandeiras vermelhas pedindo a legalização do PC, as faixas que exigiam a reforma agrária, etc. foram vistas pela televisão, causando arrepios nos meios conservadores”, diz o historiador Boris Fausto,
no livro História do Brasil. Foi uma provocação. Os militares o
acusaram de tentar um golpe comunista. Quinze dias depois, em
31 de março, tropas de Minas Gerais e de São Paulo marcharam para depor o presidente. Com a derrota inevitável, em 1º de abril Jango rumou para o exílio no Uruguai. Assumiu o cargo para o moderado marechal Humberto Castelo Branco – o que não impediu a escalada da repressão aos opositores nos primeiros anos. Políticos foram cassados, a União Nacional dos Estudantes entrou na clandestinidade e universidades foram invadidas no dia seguinte ao golpe. Em 1965, estava instaurada a ditadura de fato, quando foi instituída a eleição indireta para a Presidência.

                                               Ines Garçoni".

 

(http://www.istoe.com.br/reportagens/27939_COMO+MORREU+BAUMGARTEN?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage)

 

 

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ENTREVISTA CONCEDIDA PELO GENERAL NEWTON CRUZ

AO JORNAL ZERO HORA DE PORTO ALEGRE (JULHO / 2008)

 

ZERO HORA, 26.7.2008 - POLÍTICA

 

"Fui o bode expiatório da revolução", diz general da reserva

Newton Cruz, 83 anos, entrou para a história recente do país como um ícone da ditadura militar

Carlos Wagner | [email protected]

 

Os anos arquearam o corpo. Mas ficaram ilesos à passagem do tempo o tom forte e vibrante da voz e o uso de um vocabulário sem meias palavras na defesa de sua opinião e do seu currículo. Assim é o general da reserva Newton Cruz, 83 anos. Ele entrou para a história recente do país como um ícone da ditadura militar. O militar concedeu uma entrevista a Zero Hora no último dia 10 em seu apartamento no Rio de Janeiro. Confira a íntegra da conversa:

Zero Hora — Onde o senhor estava em 31 de março de 1964?

Newton Cruz — No dia da revolução era major instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Andava pelos corredores com os alunos quando ouvi os gritos, no telefone, de um dos comandantes, o general (João) Bina Machado. Falava com o Castello Branco (general Humberto Castello Branco, o primeiro presidente da ditadura militar). Lembro bem das palavras de Bina Machado: "Aquele maluco já saiu de Minas e agora o que vamos fazer?" O maluco era o general Olímpio Mourão Filho, que havia partido de Minas Gerais com as tropas. Foi assim que entrei na revolução.

ZH — O senhor não se envolveu com o processo de conspiração contra o governo de João Goulart, que foi fartamente documentado?

Newton Cruz — Militar não conspira. Faz insurreição. Não fui convidado para ser revolucionário. Fui por não concordar com a quebra da hierarquia militar que havia se instalado no país. Logo depois de ouvir o diálogo ao telefone, eu e outros companheiros fomos para o Forte de Copacabana, onde havia servido como tenente. Entramos pela porta dos fundos, no Arpoador, para não passar na frente do Quartel-general do Exército. A nossa missão era convencer a guarnição e o comandante do Forte, tenente-coronel Arídio Brasil, a aderir ao movimento.

ZH — Foi difícil convencê-los?

Newton Cruz — Foi demorado. O Arídio estava esperando um telefonema do seu amigo general Amaury Kruel, na época comandante do II Exército, em São Paulo, para decidir. Enquanto um monte de oficiais ficava na sala dele aguardando a ligação, eu saí pelos corredores do Forte, que fervilhava de soldados e graduados, explicando o que estava acontecendo. Não queríamos que as tropas do Copacabana saíssem para as ruas. Mas que ficassem no quartel, assumissem as posições de defesa da guarnição e se declarassem revoltosas. O Arídio recebeu o telefonema que esperava e nossa missão foi cumprida.

ZH — No governo do sucessor de Castello Branco, o general Arthur da Costa e Silva (presidente de 1967 a 1969), houve a edição do AI-5, que suspendeu garantias constitucionais. Os historiadores descrevem como um golpe militar dentro da própria revolução. De que lado o senhor ficou?

Newton Cruz — Do lado do Exército. Na caserna havia dois grupos. Os castelistas defendiam a posição do Castello Branco, que era arrumar a casa e voltar para o quartel o mais rápido possível. E os costistas, alinhados com general Costa e Silva, que, em nome da caça aos comunistas, defendiam o endurecimento do regime. Eu concordava com o pensamento dos castelistas. Fomos derrotados por uma decisão do Castello Branco.

ZH — Que decisão?

Newton Cruz — Ele não concordava que Costa e Silva fosse o seu sucessor. Não pela pessoa, que era um ótimo camarada de farda. Mas pelo grupo que o rodeava, muitos deles sedentos de vingança contra os comunistas. Castello tinha prestígio suficiente para fazer o seu sucessor. Pela lógica, deveria ser o general Ernesto Geisel (presidente de 1974 a 1979). Ele permitiu que Costa e Silva o sucedesse porque temia que um enfrentamento causasse um racha no Exército, o que poderia culminar com um enfrentamento militar. Foi um erro que nos manteve fora dos quartéis por 21 anos.

ZH — Não era ponto comum entre castelistas e costistas a caça aos comunistas?

Newton Cruz — Posso afirmar com toda convicção que não. Os comunistas eram um pequeno grupo que se aproveitou da situação para se infiltrar entre a juventude rebelde. O problema era o pessoal ligado ao regime populista que havíamos derrubado. Este estava em toda a parte e tinha força de mobilização. A história provou que estávamos certos.

ZH — Os historiadores o colocam como um dos generais linha-dura do regime. No decorrer do regime, o senhor aderiu aos costistas?

Newton Cruz — Não aderi. Quem diz que eu era linha-dura é a imprensa. Sempre fiz as minhas ações dentro da lei vigente e muitas delas foram públicas.

ZH — Mas boa parte da sua carreira não foi pública. O senhor era do Serviço Nacional de Informações (SNI), um órgão que trabalhou nas sombras coletando e analisando informes para o regime O SNI chegou a ser um governo paralelo dentro da revolução?

Newton Cruz — Não. O SNI nunca teve tanto poder. Vou contar uma história. Como eu, o Figueiredo era instrutor da Escola do Estado-Maior em 1964. E logo depois ele foi para o Serviço Federal de Informações e Contra-Informações (SFICI), que funcionava em cima da Casa da Borracha, no Rio de Janeiro. Posteriormente, o SFICI foi absorvido pelo SNI. Fui convocado por ele para ir ajudá-lo, sem ser consultado. Nunca esqueço a cena. Cheguei para me apresentar no serviço. Figueiredo estava sentando em uma cadeira atrás de uma mesa com várias pilhas de papéis. E ao seu redor havia uma dezena de pessoas, todas falando ao mesmo tempo. Em uma sala ao lado, uma senhora, a dona Fausta, era a responsável por receber a papelada, carimbar e passar para o Figueiredo. Perguntei a ele o que deveria fazer. Respondeu que era para ficar por ali. Sugeri para ficar ajudando a dona Fausta a selecionar os documentos. Ele achou uma ótima idéia. E foi assim: entrei no serviço de informação no lugar da dona Fausta.

ZH — Nos anos seguintes, Figueiredo foi presidente e o senhor continuou trabalhando com ele. São duas pessoas com gênio forte. Tiveram muitas brigas?

Newton Cruz — Nada significativo. Nos tornamos amigos no trabalho. Mas jamais participei da intimidade dele. Ele me chamava de Nini, apelido que ganhei do meu irmão mais velho, o Ney, que cursou a Academia Militar comigo. Mas só o Figueiredo me chamava de Nini. Para os outros camaradas de farda eu era Newton, que é meu nome de guerra. A imprensa é que inventou o nome general Newton Cruz.

ZH — Em 1981, quando o senhor era chefe da Agência Central do SNI, aconteceu o episódio do Riocentro. Foi apurado que o então capitão Wilson Dias Machado e o sargento Guilherme Pereira do Rosário foram colocar uma bomba caseira onde ocorria um show musical. A artefato explodiu no colo do sargento e o matou. Em que momento o episódio chegou ao seu conhecimento?

Newton Cruz — Tomei conhecimento quando já estava em execução. E não tive como evitar. Na época, não havia telefone celular. Na noite de 30 de abril, o responsável pelo SNI no Rio me ligou e falou comigo. Disse que havia estado em uma reunião no DOI-Codi com um pessoal que estava se organizando para jogar uma bomba no Riocentro para marcar posição. Não pretendiam machucar ninguém. Mas queriam marcar posição contra os comunistas. Disse que havia conseguido convencê-los a colocar o explosivo em outro lugar. Alertou que poderia haver dissidentes no grupo. Perguntei se tinha como detê-los. Respondeu que não, que a coisa já estava em andamento.

ZH — Na época se comentou que havia um grupo de radicais no DOI-Codi organizado para abortar a abertura política que o presidente Figueiredo conduzia. Seria uma espécie de reprise de 1968. O Inquérito Policial Militar que apurou o caso fez esta relação?

Newton Cruz — Não há tal relação. Foi um ato isolado de pessoas que queriam marcar posição contra os comunistas. Eles agiram errado.

ZH — Durante uma boa parte do regime militar o senhor esteve ligado direta ou indiretamente ao SNI. Em São Paulo, houve a Operação Bandeirante, do DOI-Codi, que resultou em torturas e mortes fartamente documentadas. No Rio Grande do Sul, houve o caso do seqüestro dos uruguaios Universindo Diaz e Lílian Celiberti pelos agentes da Operação Condor. O que o senhor sabe sobre esses episódios?

Newton Cruz — Lembra 1968? Ali, os linha-dura se aglutinaram e se organizaram nos órgãos regionais de coleta de informações, que então passaram a atuar como operadores na luta contra os opositores do regime. Houve muitos excessos, porque agiram igualzinho àqueles a quem perseguiam. As coisas só chegavam ao governo central quando aconteciam grandes rolos. Lembro do Geisel tendo uma crise de raiva quando sabia das barbaridades. Ele retomou o controle da situação quando demitiu (em janeiro de 1976) o comandante do II Exército, general Ednardo D'Avila Melo (havia morrido nas dependências do DOI-Codi paulista o operário Manoel Fiel Filho e, posteriormente, o jornalista Vladimir Herzog). A demissão mostrou à linha-dura quem mandava.

ZH —Mas o senhor nunca viu ou leu relatórios oficiais sobre as torturas?

Newton Cruz — Nunca vi ninguém sendo torturado. Fora do papel circulavam muitas histórias. Uma delas falava que havia uma cobra grande criada em cativeiro em uma unidade militar no Rio. E que era só ameaçar colocar a pessoa com o animal que ela falava o que sabia e o que não sabia.

ZH — O senhor foi julgado e inocentado em 1992 pelo assassinato do jornalista Alexandre von Baumgarten, da mulher dele, Janette, e do barqueiro Manoel Pires. O episódio aconteceu em outubro de 1982. No ano seguinte, veio a público um dossiê preparado por Baumgarten pouco antes de morrer em que ele dizia que seria assassinado a mando do SNI. Só não sabia se a ordem seria dada pelo senhor ou pelo general Octávio Medeiros, então chefe do SNI. Esse episódio alterou o rumo da sua carreira?

Newton Cruz — Indiretamente, sim. Baumgarten era um anticomunista pilantra, tinha inimigos por todos os cantos. A principal testemunha do caso foi um bailarino (Cláudio Werner Polila). O dossiê havia sido feito a quatro mãos, uma delas era as de um coronel canalha que demiti do SNI, já morreu e não vale a pena pronunciar o nome. Nada foi comprovado. Mas eu precisei ir aos jornais falar sobre a minha inocência. Daí virei ícone do regime militar. Era o general truculento, assassino, linha-dura e sei lá mais o quê.

ZH — Para defender-se, o senhor estudou o caso. E também tinha todo o SNI a seu dispor para investigar. Conseguiu descobrir quem matou o jornalista, a mulher e o barqueiro?

Newton Cruz — A verdade eu sei. Mas soube sob garantia de profissional. Nem que tivesse sido condenado poderia dizer. Não falei nem para o meu advogado.

ZH — O caso Baumgarten tem a ver com a sua transferência do SNI para o Comando Militar do Planalto, em Brasília, em 1983?

Newton — Tudo a ver. O general Medeiros falou com Figueiredo que era hora de eu voltar para a tropa, porque estava muito em evidência. Era tudo o eu que queria. Voltei para fazer manobras militares. Tudo corria às mil maravilhas. Até que o Figueiredo lembrou de mim novamente, ao declarar medidas de emergência. Nem sabia direito o que era, precisei olhar na Constituição. Lá dizia que podia fazer tudo para cumprir a missão.

ZH — Reportagens de jornais da época mostram que o senhor no Comando Militar do Planalto agrediu um jornalista, bateu de chicote nos automóveis que faziam uma carreata, entre outras coisas. Como foi?

Newton — Isso é o que a imprensa escreveu. Muito coisa baseada em relatos inverídicos. Houve duas decretações de medidas de emergência, a primeira em outubro de 1983, para votação pelos deputados de alterações na lei salarial. E a segunda em abril de 1984, para a votação emenda constitucional das eleições diretas para presidente. O episódio do jornalista aconteceu na primeira. Estava dando uma entrevista a dezenas de repórteres, um deles (Honório Dantas, repórter da Rádio Planalto) insistia em enfiar um gravador na minha cara. Parei a entrevista várias vezes e pedia que tirasse aquele troço dali. Além de não ter atendido, ele ainda fez um desaforo, desligando o gravador na minha cara e saindo da entrevista. Fui atrás dele, o peguei pelo braço e o fiz pedir desculpas perante a TV. O fato foi explorado politicamente. (segundo Dantas, que falou com ZH, o general lhe deu uma chave de braço e o forçou a pedir desculpas).

ZH — E como foi o episódio em que o senhor bateu nos automóveis durante uma carreata em Brasília?

Newton Cruz — Foi no dia da votação da Emenda das Diretas. Eu estava na minha sala e, lá embaixo, uma barulheira. Era uma carreata de automóveis com luzes acesas e buzinando. Desci e ordenei ao sargento da guarda que atravessasse um ônibus no meio da rua para impedir a passagem da carreata. Daí eu, sozinho, desarmado, iniciei uma caminhada no meio dos veículos. No primeiro, cheguei e bati no capô com o meu bastão de comando, que não tem nada a ver com chicote, e disse para o motorista o seguinte: vocês vieram me desmoralizar perante a minha tropa. Estou aqui. O cara parou de buzinar, apagou os faróis e ficou quieto. Notei que os veículos ao seu redor haviam feito a mesma coisa. Então, fui caminhando até o final da carreata batendo no capô dos carros. No final era aquele silêncio de cemitério. Voltei e ordenei ao sargento que deixasse sair dali um veículo de cada vez e anotasse as placas. Horas depois veio o sargento com as anotações. Mandei atirar fora.

ZH — Houve prisões nesse episódio?

Newton Cruz — Depois dos carros veio uma passeata. Daí mandei os policiais militares do choque dissolverem a manifestação com bombas de gás lacrimogêneo. No meio da nuvem de gás, vindo em minha direção, saiu um grupo de pessoas de braços dados gritando "o povo unido jamais será vencido". Dei voz de prisão para dois líderes dizendo o seguinte: "que povo unido nada, vocês estão presos". Os conduzi até a guarda do QG. Assim que esfriei a cabeça pensei o que iria fazer com aqueles dois. Se ficasse com eles ali, eu causaria uma dor de cabeça a mais para o Figueiredo. Então, dei um sermão neles na frente dos soldados e os mandei embora. Ninguém ficou preso.

ZH — Essa sua exposição acabou lhe custando a sua quarta estrela, a promoção a general-de-exército?

Newton Cruz — Eu fui traído na reunião do Alto Comando onde estava sendo decidido quem iria ganhar a quarta estrela. Fui traído por colegas que sempre elogiaram as minhas ações. Alguns deles tinham feito elogios poucos dias antes do encontro. Por que mudaram de opinião? Para se posicionar bem na Nova República que estava sendo implantada. Ninguém queria ficar perto de um general facínora. Fui o bode expiatório da revolução.

ZH — Depois o senhor tentou a carreira política ?

Newton Cruz — Sim. Eu precisava de um palanque para me defender. Na eleição para governador do Rio de Janeiro, em 1994, fiquei em terceiro lugar.

ZH — Como candidato o senhor se envolveu em briga com militantes de partidos adversários. Como foi?

Newton Cruz — Em parte é verdade. Havia saído de um debate em uma emissora de TV e o meu carro foi cercado por militantes do PT. Não o do Lula. O outro, dos loucos. Cercaram o veículo e ficaram ali gritando que eu era truculento, facínora, assassino, ditador e coisas do gênero. Não dei bola. Sempre ouvi tal coisa. Mas aí um dos cara ofendeu a minha mãe. Aí, não. A mãe é sagrada. Saí de dentro do carro e fui para cima dele. Daí falaram que continuava truculento".

(http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Política&newsID=a2073249.xml)

 

 

 

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NO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA online (seção ENTRE ASPAS), no transcurso do aniversário de quatro décadas de deflagração do Golpe de Estado de 1964, ou seja, em 2004, além da matéria de Amaury Ribeiro Jr. que você leu acima (logo antes da entrevista de Newton Cruz), amavelmente reproduzidos foram os artigos a seguir também transcritos.

 

"1964 + 40
Sylvia Colombo

em 23/3/2004

"Aconteceu naquela noite", copyright Folha de S. Paulo, 20/03/04

"Naquela manhã de 1945, em que explodiu a bomba de Hiroshima, um japonês acordou, foi até o banheiro, abriu a torneira e, desconfiado de que aquele seu simples gesto poderia ter detonado um mecanismo infernal, morreu.

É assim que Carlos Heitor Cony, 78, ironiza os relatos pessoais que se posicionam como eixo da história de determinado episódio. Comparando-se ao assombrado japonês da anedota, o escritor e colunista da Folha diz que até hoje não compreendeu direito a ‘explosão’ histórica que testemunhou, o golpe militar de 1964.

Como cronista do diário carioca ‘Correio da Manhã’, Cony foi um crítico duro do regime que se impôs no país a partir da noite de 31 de março daquele ano. ‘Muitos acharam que seria algo passageiro, de correção da ordem, e apoiaram. Mas eu já sabia que a coisa ia piorar e que iria durar’, diz.

O ‘making of’ desses já históricos textos está em ‘A Revolução dos Caranguejos’, que integra a coleção ‘Vozes do Golpe’, lançada agora pela Companhia das Letras. Já as crônicas propriamente ditas estão em ‘O Ato e o Fato’, livro de 1964 que agora é devolvido às prateleiras pela Objetiva."

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"‘Minha voz era a de um alienado’, diz Cony", copyright Folha de S. Paulo, 20/03/04

"‘A Hard Day’s Night’ (a noite de um dia difícil), dos Beatles, foi a última música que Carlos Heitor Cony escutou, no carro que o levava para operar uma apendicite, num dia de março de 1964. Quando pôde caminhar de novo, saiu para um passeio com Carlos Drummond de Andrade. O precavido amigo mineiro não se esqueceu de levar um guarda-chuva -poderia haver mau tempo...

Era 1º de abril de 1964, o presidente João Goulart tinha caído, o Exército levantava uma barricada na avenida Atlântica e a população ainda não sabia o que estava acontecendo. Cony voltou para casa e escreveu ‘Da Salvação da Pátria’, a primeira de uma série de crônicas que atacariam os militares e a ditadura que se instalava no país. O texto abre também ‘O Ato e o Fato’, relançado agora.

Organizado por Ênio Silveira, o livro saiu naquele mesmo ano. Foi reeditado em 1984, pela Civilização Brasileira. Agora a Objetiva relança-o com prefácio de Luis Fernando Verissimo.

‘Não me envolvi com as reedições. A crônica é como um fósforo que se acende e se apaga, o que eu tinha a dizer pertence àquele momento’, disse Cony à Folha.

Por não ter tido atuação política nem manifestado simpatia por homens ou partidos, o autor nunca foi rotulado como alguém de esquerda. Era visto como um alienado que só se interessava por sua obra literária. Isso acabou favorecendo-o, pois o liberou para continuar escrevendo quando os intelectuais vistos então como ‘subversivos’ eram presos ou desapareciam do cenário.

‘As crônicas têm em comum só o fato de que nunca dei ao evento político o direito de me modificar. Minha voz era a de um alienado. A crônica que escrevi depois do passeio com Drummond, se fosse escrita por ele, cuja opinião política era conhecida, teria tido uma outra repercussão’, diz.

Nos textos dessa histórica coletânea, Cony refuta o termo ‘revolução’, mas também não poupa Jango nem a esquerda. Em junho, quando Juscelino Kubitschek é cassado pelo regime, diz: ‘Sou pela manutenção dos direitos políticos do sr. Juscelino, para ter o prazer de não votar nele’. De Carlos Lacerda, ainda, dizia que era inteligente, mas que ‘teve um estalo e ficou burro’ e, do general Castello Branco, recém-empossado presidente, que dera ‘à nação um espetáculo triste: o de sua pequenez’. O ATO E O FATO. Autor: Carlos Heitor Cony. Editora: Objetiva. Quanto: R$ 28,90 (196 págs.)."

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"Golpe inspira coleção de relatos e ficção", copyright Folha de S. Paulo, 20/03/04

"‘Vozes do Golpe’, uma simpática coleção de pequenos livros, reúne quatro nomes da literatura nacional em textos encomendados para marcar os 40 anos do golpe de 1964. Idealizada pelo gaúcho Moacyr Scliar, a coletânea é composta de dois textos de ficção e dois relatos pessoais.

Scliar é autor de um deles, ‘Mãe Judia, 1964’, sobre um médico recém-formado que é levado pela diretora da clínica em que trabalha a colocar um gravador numa capela para obter declarações de uma misteriosa mulher.

A outra ficção, assinada pelo também gaúcho Luis Fernando Verissimo, é a divertida ‘A Mancha’, que conta a história de um homem que reencontra por acaso o prédio em que foi torturado durante a ditadura, compra-o e depois não sabe o que fazer nem com o imóvel nem com suas lembranças do período.

‘Não tive atuação política e, na época do golpe, eu estava em lua-de-mel. Então tenho até boas recordações, pessoalmente. Mas sofri as conseqüências da ditadura depois, atuando na imprensa’, disse o escritor à Folha.

Já em ‘Um Voluntário da Pátria’, Zuenir Ventura narra os acontecimentos a partir de sua experiência pessoal. O escritor deixara o Rio num Fusca, com a mulher grávida, e chegara a Brasília no dia 31 de março. ‘Queria devolver a sensação que me causou aquele dia. Havia uma guerra de boatos e uma estupefação generalizada’, disse. VOZES DO GOLPE - De: Moacyr Scliar, Luis Fernando Verissimo, Zuenir Ventura, Carlos Heitor Cony. Editora: Companhia das Letras. Quanto: R$ 41 (336 págs.)."





Luiz Chagas

"Memórias do medo", copyright IstoÉ, 22/03/04

"O que os brasileiros estavam fazendo no dia 31 de março de 1964? Para responder a esta pergunta aparentemente simples, quatro observadores privilegiados da história recente do País - os escritores Carlos Heitor Cony, Moacyr Scliar, Luis Fernando Verissimo e Zuenir Ventura - escreveram os libretos da coleção Vozes do golpe (Companhia das Letras, 336 págs., em quatro volumes, R$ 41), que acaba de chegar às livrarias. O lançamento vem acompanhado de outras leituras urgentes. Quatro décadas após o golpe que instaurou o regime militar no País, calando suas vozes mais expressivas entre 1964 e 1985, uma espécie de revanche toma conta das livrarias com a publicação de textos que procuram jogar um pouco de luz sobre esse período obscuro. Na esteira do painel em cinco volumes elaborado pelo jornalista Elio Gaspari, dos quais já foram lançados o díptico As ilusões armadas (A ditadura envergonhada e A ditadura escancarada) e o primeiro volume do tríptico O sacerdote e o feiticeiro (A ditadura derrotada), pelo menos uma dezena de títulos sobre o assunto chega ao mercado.

Entre eles destacam-se as biografias do presidente deposto, Jango, um perfil (1945-1964) (Editora Globo, 288 págs., preço a definir), de Marco Antonio Villa, e a de seu sucessor, Castello - a marcha para a ditadura (Editora Contexto, 432 págs., R$ 43,90), de Lira Neto. Além do fundamental Visões do golpe - a memória militar de 1964 (Ediouro, 260 págs., R$ 32), de Maria Celina D’Araújo, Gláucio Ary Dilon Soares e Celso Castro, originalmente lançado em 1994 e elogiado pelo próprio Gaspari, que deve finalizar o quarto volume de sua obra em junho. Na mesma linha, a edição atual da revista Nossa história (Biblioteca Nacional/ Editora Vera Cruz, 98 págs., R$ 6,80) traz um dossiê com cinco reportagens escritas por especialistas sobre os antecedentes do golpe. O envolvimento da Marinha é reavaliado em Vozes do mar - o movimento dos marinheiros e o golpe de 1964 (Cortez Editora, 280 págs., R$ 38), de Flávio Luis Rodrigues, e Trajetória rebelde (Cortez Editora, 208 págs., R$ 28), de Pedro Viegas, cujos autores são marinheiros presentes nos acontecimentos.

Em meio à enxurrada de dados, datas e testemunhos, a série Vozes do golpe confere um pouco de humanidade àquele momento lembrado com tanto pesar. Enquanto o carioca Carlos Heitor Cony e o mineiro Zuenir Ventura partem da situação real - onde estavam?, o que faziam?, como se sentiram? - para descrever o turbilhão que foi a passagem do dia 31 de março para o 1º de abril, os gaúchos Moacyr Scliar e Luis Fernando Verissimo se valem da ficção para transmitir o desconforto experimentado. Em Mãe judia, 1964, Scliar entremeia o fim de um caso de amor com o relato da enlouquecida mãe de um ativista político, ‘depoimento’ transcrito de fitas gravadas pelo microfone oculto em uma imagem de Nossa Senhora, diante da qual a velha se confessava em voz alta. A obsessão de um homem em encontrar o cativeiro em que foi mantido é transformada por Verissimo em A mancha, na fria descoberta da sobrevivência do status quo.

Curiosamente, Cony e Ventura, apesar de serem jornalistas atuantes na época, estiveram à margem dos fatos. Em Um voluntário da pátria, o mineiro conta que passou os três dias que antecederam o golpe fazendo a viagem Rio-Brasília apertado em um fusquinha junto com a mulher, Mary, grávida, e a amiga Maria Luiza. O trio viajara para assumir um posto na ‘universidade do Darcy’, em uma referência a Darcy Ribeiro, chefe da Casa Civil de Jango, ambos às vésperas da deposição. O jornalista preenche as dúvidas e a sensação de vazio com dados que recolheu de 1964 para cá, incluindo passagens hilariantes com Ribeiro. Já Cony, em A revolução dos caranguejos, confessa que convalescia de uma operação de apendicite quando saiu pela primeira vez de casa, no dia 31, levado pelo poeta e amigo Carlos Drummond de Andrade. Juntos assistiram à tomada do Forte de Copacabana pelos rebeldes contra João Goulart, o que lhes pareceu pouco mais que uma pantomina. De volta à redação do Correio da

Manhã, os textos de Cony logo seriam tachados de comunistas pelos militares e de alienados pela esquerda, o que o fez ser perseguido por seguidores de ambas as ideologias. A hard day’s night, que acabava de surgir na voz dos Beatles, foi a última música que ouviu a caminho do hospital, sentindo que os jovens começavam a assumir uma outra espécie de poder. Mas, para a maioria, era o início de uma verdadeira noite de um dia difícil."

(http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=269ASP002)

 

 

 

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O GEN. NEWTON CRUZ EM 2008 (JORNAL ZERO HORA DE PORTO ALEGRE)

 

"27 de julho de 2008 | N° 15675

Reportagem Especial

Confidências de um general

O arquivo de Newton Cruz

 

Os anos arquearam o corpo. Mas ficaram ilesos à passagem do tempo o tom forte e vibrante da voz e o uso de um vocabulário sem meias palavras na defesa da sua opinião e do seu currículo. Assim é o general Newton Cruz, um homem de 83 anos que entrou para a história recente do país como um ícone da ditadura militar (1964-1985).

Newton Cruz se considera traído pelos colegas de farda com quem ajudou a consolidar o golpe de 1964. Foi para a reserva em 1985 como general-de-divisão sem realizar o sonho de ganhar a quarta estrela que o tornaria general-de-exército, o posto que ambicionava na carreira iniciada como cadete da Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, em 1941. Na sua opinião, dita de maneira clara e contundente, a traição foi o cartão de visita dos seus camaradas revolucionários para o novo governo que se instalou no país em 1985, a Nova República.

O general é um defensor ferrenho da exatidão no uso do português. Diz que a precisão é um cacoete que desenvolveu nos tempos em que era oficial de artilharia. Se planejar mal um tiro de canhão, o alvo pode ser a tropa amiga, lembra. O general tem um outro costume do qual pouco fala: o de ser guardião dos segredos dos Anos de Chumbo. Uma tarefa que desempenhou durante o regime militar, quando foi os olhos e ouvidos dos governantes, responsável por várias funções no extinto Serviço Nacional de Informações (SNI).

Orgulha-se de dizer que foi um autodidata na ciência das informações que orientaram muitas das decisões de um dos seus amigos, o general João Baptista Figueiredo, último presidente militar do Brasil. Figueiredo era um oficial de cavalaria de temperamento forte, como Newton Cruz. Em quase duas décadas de convivência, nunca tiveram uma briga séria.

Militar diz ser eleitor de Lula

Para quem tem mais de 40 anos, o general dispensa apresentação. Newton Cruz foi protagonista de dois episódios rumorosos no início da década de 80. Na noite de 24 de abril de 1984, véspera da votação da Emenda Dante de Oliveira - que pretendia resgatar o direito dos brasileiros de eleger o presidente da República - , o general, na época à frente do Comando Militar do Planalto, entrou em ação ao bater com o bastão de comando nos veículos que participavam de carreata pela aprovação da emenda, em Brasília.

Dois anos antes, em outubro de 1982, o jornalista Alexandre von Baumgarten e a mulher dele foram assassinados misteriosamente. Conforme uma das versões, ambos foram seqüestrados na madrugada do dia 13, no momento em que fariam um passeio de barco. Os dois apareceram mortos dias depois, assim como o barqueiro Manoel Pires. No início de 1983 veio à tona um dossiê - "em três dezenas de linhas de infâmia", segundo o general - preparado pelo jornalista meses antes de sua morte, no qual afirmava que havia ordem para matá-lo e que Newton Cruz seria o principal interessado. Em 1992, o general foi julgado e inocentado do crime. Mas os danos políticos alteraram os rumos de sua carreira.

Ele diz que a imprensa só ouviu seus inimigos, a maioria militares da chamada linha-dura do governo, grupo ao qual ele garante nunca ter pertencido. Essa é a face visível do general. A outra é a sua atuação na organização dos métodos de coleta de informações no SNI. Perguntado por que o "I" do SNI quer dizer informação, e não inteligência, respondeu:

- Ao contrário do que aqueles que não trabalham com coleta de informes acreditam, as agências de espionagem são um desastre. Portanto, é forçar a barra chamar de serviço de inteligência. Lembra da Baía dos Porcos? - pergunta, numa referência à tentativa fracassada de invasão de Cuba em 1961, planejada pela CIA, a mais importante agência de inteligência dos Estados Unidos.

Newton Cruz vive uma vida simples em um pequeno quarto do apartamento de um dos seus quatro filhos, no Recreio dos Bandeirantes, um bairro de classe média do Rio. Seus aposentos são desprovidos de luxo. O único exagero é o número de folhas de papel que está usando para escrever, a caneta, suas memórias, tarefa que já iniciou e interrompeu uma dezenas de vezes.

- Sempre que fico emocionado e vou fundo escrevendo minhas memórias, acabo dando mais um nó na corda ao redor do meu pescoço - disse a Zero Hora.

Não é costume do general falar com jornalistas. Alega que sempre que falou acabou sendo mal-interpretado. Depois de insistentes pedidos por telefone, Newton Cruz aceitou receber ZH no último dia 10 em seu apartamento. No começo da conversa, uma confidência:

- Aqui, sou o único da casa que vota no Lula.

Com boa memória e cuidadoso na precisão, o general recorre a anotações quando a dúvida persiste em relação a datas e nomes. A entrevista começou às 9h30min e se estendeu até as 16h. Com um pequeno intervalo para o almoço. Antes da refeição, Newton Cruz se permite um "luxo", como ele próprio define: tomar meio copo de cerveja. No resto do dia, consome cafezinhos. Dos tempos em que vivia em Brasília, ele guarda com saudade os passeios a cavalo. Nos dias de hoje, aproveita as manhãs para caminhar pelas ruas do bairro. De cabeça erguida, frisa ele.

( [email protected] )

CARLOS WAGNER | Enviado Especial/Rio de Janeiro"

(http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2072964.xml&template=3898.dwt&edition=10352&section=807)

 

 

 

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POR FIM, SOBRE AMAURY RIBEIRO JR.

 

JORNAL FLIT PARALISANTE

POLÍCIA SEM CERIMONIAL

"Amaury Ribeiro Júnior é dono de três prêmios Esso, vencedor de quatro prêmios Vladimir Herzog, membro do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, foi repórter especial do Globo e da Istoé

Amaury Ribeiro Júnior é baleado durante investigação, no entorno de Brasília

Publicado sexta-feira, 7 setembro, 2007 – 12:19 

Num bar, enquanto aguardava a chegada de uma fonte, o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, do Estado de Minas, foi baleado por um garoto de aparentemente 18 anos de idade. Amaury investigava homicídios ligados ao narcotráfico no Entorno de Brasília.

Na tarde de quarta-feira (19), o jornalista estava num bar na cidade de Ocidental (GO), a 45 km de Brasília. Segundo testemunha presente no local que não quis se identificar, um garoto de boné, bermuda e chinelo, usando um casaco azul, entrou com uma arma em punho, apontando para o jornalista. Amaury pulou em cima do garoto e os dois rolaram no chão. O garoto disparou e a bala atingiu a barriga de Amaury. O garoto levantou, deu mais um tiro na direção de Amaury — que não o atingiu — e fugiu.

O jornalista foi consciente até o hospital. De acordo com colegas do Correio Braziliense, o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, foi para o Hospital Regional do Gama, onde Amaury está internado. Ele passa bem, está consciente e não corre risco de vida.

A primeira reportagem – dia quatro de setembro — sobre o assassinato de duas adolescentes chamou a atenção do jornalista, que decidiu investigar o caso. Amaury descobriu uma verdadeira guerra civil dominada pelo tráfico. Desde o início do ano foram mais de 40 menores de idade mortos. O jornalista Morilo Carvalho participava da cobertura e no mesmo dia sofreu ameaças feitas por telefone.

Aos 44 anos, Amaury é dono de três prêmios Esso, vencedor de quatro prêmios Vladimir Herzog, membro do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), um dos fundadores da Abraji e pai de dois filhos. Com mais de 20 anos de jornalismo, foi repórter especial do Globo e da Istoé".

(http://flitparalisante.wordpress.com/2010/06/04/amaury-ribeiro-junior-e-dono-de-tres-premios-esso-vencedor-de-quatro-premios-vladimir-herzog-membro-do-icij-consorcio-internacional-de-jornalistas-investigativos-foi-reporter-especial-do-globo-e-d/)

 

 

 

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(*) - Sem que tanta honraria este colunista merecesse,

o magnânimo editor Dr. Alberto Dines fez publicar

artigo de nossa autoria, no prestigioso OBSERVATÓRIO,

no penúltimo dia do ano de 2006 de Nosso Senhor:

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=414AZL002;

sobre os então recém-lançados livros O CÂNONE REPUBLICANO I,

de Flávio René Kothe (sobre literatura brasileira) e O DESENTULHO DE

GÓRI (sobre o regime de 64 e os movimentos de oposição), de Ney Eichler

Cardoso, um texto crítico-jornalístico intitulado "A festa de arromba e as

revoluções" escrevemos para o  Correio Braziliense (Suplemento Pensar),

em janeiro de 2004 [Esse texto será nesta mesma Coluna oportunamente

reproduzido; editor do Pensarem 2004: jornalista e professor

Pepê Rezende (Pedro Paulo Rezende)].

 

 

 

 

 

O desentulho de Góri

Autor: Ney Eicher Cardoso, Coronel reformado do E. B., pesquisador e poeta, ex-professor da ESG - Escola Superior de Guerra 

VOCÊ QUER CONHECER UM LIVRO ALENTADO, DIGNO, MUITO BEM DOCUMENTADO E A FAVOR DO MOMENTO PRÉ-AI5 DO REGIME DE 64? Leia, por conseguinte, essa obra do militar e poeta N. E. Cardoso (ESTE ESPAÇO NÃO DESEJA SER EXATAMENTE ULTRAPOLÊMICO, mas reconhece que há competência - também em termos de pesquisa histórica em "vários lados" de "uma dada maçã")

(http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-147832680-o-desentulho-de-gori-_JM