Gostaria de esclarecimentos acerca do uso de ‘residente e domiciliado à rua ou na rua, bem como se digne de ou se digne em’, escreve Jefferson Barbosa, de Bauru – SP.

É compreensível a dúvida, porque nessa situação se vêem ambas as grafias: na rua e à rua, com preferência por esta última, arrisco a dizer. A rigor, como os verbos morar, residir, situar, localizar e semelhantes regem a preposição em, deveria se usar na e não à nos casos específicos. Tudo bem, tanto é que se fala assim:
      ¨
Residimos na rua Tupi.
      ¨ A casa está situada na avenida dos Guararapes.
      ¨
Você ainda mora na mesma travessa?
      ¨
A sede do Partido se localiza na rua Cristal.

Mas, por obra do dinamismo da língua, incorporou-se à escrita o emprego de à no lugar de na como complemento de tais verbos diante de logradouros como rua e avenida. O mesmo acontece com seus derivados morador, residente, domiciliado:
      ¨
Residente à rua Tupi.
      ¨ Jacó Silva, morador à rua de Setembro, requer...
      ¨ Vende-se casa (situada/sita) à avenida Salinas.
      ¨ Aluga-se imóvel (localizado) à Av. Central, no Kobrasol.
      ¨ Vamos nos encontrar na sede do Partido, à R. Cristal.

Isso não quer dizer que não se possa ou não se deva escrever "Vende-se casa na Av. Central", "residente e domiciliado na rua Botucatu". Absolutamente! É uma boa opção. Mas não se pode tachar de erro o que já está consagrado pelo uso... e abonado pelos gramáticos. Jornais gabaritados e grande parte dos brasileiros escrevem assim com a crase.

Quanto aos gramáticos, valho-me do saudoso Celso Pedro Luft, que, na sua coluna "O Mundo das Palavras" n.º 2.347, resume o assunto desta forma: "No português brasileiro atual, com o verbo morar e derivados a preposição originária em pode comutar com a (esta, sobretudo na língua escrita): morar (morador) na ou à Rua X. O mesmo vale para residir (residente) e situado, sito".

Dignar-se (de)

Com relação ao verbo pronominal dignar-se, ele rege a preposição DE (e não ‘em’). No entanto pode haver a elipse da preposição diante do infinitivo. Exemplificamos:
      ¨
O juiz não se dignou de nos ouvir.
      ¨ Esperamos que se digne V. Exa. (de) conceder o aparte.
      ¨
Digne-se V. Exa. conceder a audiência solicitada.

ONGs bem-vindas

Com o título acima, quero primeiramente chamar a atenção para a grafia do adjetivo bem-vindo, que é composto com hífen. Existe, sim, a palavra Benvindo, mas então é nome próprio:
      ¨
Meu tio Benvindo nasceu na Bahia em 1916.

No mais, use o hífen e a devida flexão:
      ¨
Bem-vindos ao X Congresso de Ecologia.
      ¨ Qualquer sugestão será bem-vinda.

Em segundo lugar, gostaria de tratar do plural das siglas, que infelizmente às vezes é feito de maneira errônea, com um intrometido apóstrofo antes do s. Tal grafia não é nem cópia do inglês, porque nesse idioma o ’s indica posse, e não plural. Em português, para pluralizar as siglas, basta a anexação do s (minúsculo):
      ¨
As APAEs têm prestado valiosos serviços.
      ¨ O ex-governador Brizola visitou os CIEPs construídos na sua gestão.
      ¨ Os CTGs espalharam-se por toda Santa Catarina.
      ¨ Foi aplaudido depois do seu discurso endereçado aos PMs.