Resenha de uma obra de Leonardo Boff, A águia e a galinha

L. Boff escolheu o título de uma estória que faz pensar, de autor desconhecido, para nomear um de seus livros mais lidos e discutidos: A águia e a galinha

Para que não apenas a grande águia voe neste espaço, vejamos também, (1) sintético-poeticamente apresentado (optei por colocar apenas uma estrofe), o conto ("miniconto", aqui) do folclore internacional A galinha ruiva, em versão primorosa de Elza Fiúza. Logo em seguida ao fragmento do poema, pode-se conferir (2) a resenha, escrita por Cátia Manoela Gasparetto, a que se refere o título desta "dica" bibliográfico-literária [a comentarista, em 2006, era estudante de Pedagogia da URI / Erechim-RS]. Em seguida (3 e 4), foram incluídas imagens - pintura e fotografia - dos citados animais; por fim, está (5) como o teólogo da UERJ recontou A águia e a galinha, magnífica fábula recente, de autor(es) desconhecido(s). Boa reflexão!

 

"A Galinha ruiva

                       Elza Fiúza

 

 

A galinha resolveu lindo bolo confeitar. 

Mas precisava de alguém que viesse pra ajudar.

Pediu ao porco e ao patinho, mas os dois disseram "não".

E, no fim, os preguiçosos aprenderam uma lição!".

 

(http://literatura.moderna.com.br/catalogo/sinopse/85-16-01429-0.pdf,

FIUZA, Elza (texto) e LACERDA, Leninha (ilustrações). A Galinha Ruiva. São Paulo: Moderna, 1996.

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"Resenha: A águia e a galinha. (Leonardo Boff) [Com mínimas adaptações desta coluna.]    
Por Cátia Manoela Gasparetto
21 de janeiro de 2006

ImageA presente obra divide-se em sete capítulos, onde [L. Boff] conta a história de uma águia criada como uma galinha. Essa história é compreendida como uma metáfora da condição humana. Cada um poderá lê-la e interpretá-la conforme o chão que os seus pés pisam. Essa obra sugere caminhos, mostra uma direção e projeta um sonho promissor.

O autor, Leonardo Boff, [nascido] em 1938, formou-se em Teologia e Filosofia no Brasil e na Alemanha. Durante mais de vinte anos foi professor de Teologia Sistemática no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis. Por vários anos esteve à frente do editorial religioso da Editora Vozes. Junto com outros ajudou a formular a Teologia da Libertação, [e,] por causa desta, teve conflitos com a Igreja Católica, sendo proibido de dar aulas por um determinado período e [foi obrigado] a fazer um ano de silêncio. Mais tarde, foi professor de Ética e Filosofia da Religião na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É autor de mais de sessenta livros ligados à teologia, à filosofia, à espiritualidade e à ecologia, em sua grande maioria publicados pela Editora Vozes. É membro da Comissão da Carta da Terra. Em 2002, em razão de seu compromisso com o direito dos pobres, ganhou o prêmio Nobel alternativo para a paz.

Ao ler a obra você vai se confrontar com duas dimensões fundamentais da existência humana: a dimensão do enraizamento, do cotidiano, do limitado, que [é simbolizada pela] galinha, e a dimensão da abertura, do desejo, do ilimitado, [simbolizada pela] águia. A partir disso o autor nos questiona em como equilibrar essas duas dimensões. E como impedir que a cultura da homogeneização afogue a águia dentro de nós e nos impeça de voar.

Para dar uma resposta convincente a esses desafios, o autor visita a moderna cosmologia, a nova antropologia, a psicologia profunda, a ecologia, a espiritualidade e a mística. O resultado é uma reflexão instigante que provoca entusiasmo na busca da identidade humana através da inclusão das contradições e da superação dos eventuais obstáculos [nos níveis] pessoal, social e planetário.

A história da águia e a galinha evoca dimensões profundas do espírito, indispensáveis para o processo de realização humana: o sentimento da auto-estima, a capacidade de dar a volta por cima nas dificuldades quase insuperáveis, a criatividade diante de situações de opressão coletiva que ameaçam o horizonte da esperança.

Mas não podemos nos limitar a [ser] somente galinha ou somente águia. Como galinhas, somos seres concretos e históricos, mas jamais devemos esquecer nossa abertura infinita, nossa paixão indomável, nosso projeto infinito, nossa dimensão águia. Se não buscarmos o impossível (a águia) jamais conseguiremos o possível (a galinha).

Cada ser humano tem uma estrutura básica que se manifesta mais como a águia em alguns, mais como a galinha em outros. Cada um precisa escutar essa natureza interior, captar a águia que se anuncia ou a galinha que emerge. Após escutá-las, importa usar a razão para ver claro e o coração para decidir com inteireza. Somente assim se conquistará a promessa de um equilíbrio dinâmico.

A história da águia e da galinha [em nós evoca] o processo de personalização pelo qual todo ser humano passa. Não recebemos a existência pronta. Devemos construí-la progressivamente. Há uma larga tradição transcultural que representa a caminhada do ser humano, homem e mulher, como uma viagem e uma aventura na direção da própria identidade.

Recusamo-nos a ser somente galinhas. Queiramos ser também águias que ganham altura e que projetam visões para além do galinheiro. Acolhemos prazerosamente nossas raízes (galinha), mas não à custa da copa (águia) que mediante suas folhas entra em contato com o sol, a chuva, o ar e o inteiro universo. Queremos resgatar nosso ser de águias. As águias não desprezam a terra, pois nela encontram seu alimento. Mas não são feitas para andar na terra, senão para voar nos céus, medindo-se com os picos das montanhas e com os ventos mais fortes.

Hoje, no processo de mundialização homogeneizadora, importa darmos asas à águia que se esconde em cada um de nós. Só então encontraremos o equilíbrio. A águia compreenderá a galinha e a galinha se associará ao vôo da águia.

Ao final do livro, o autor apresenta a bibliografia de alguns títulos em português que ajudarão o leitor no aprofundamento da metáfora da águia e da galinha, entre eles; BARRÈRE, Martine. Terra. Patrimônio comum. São Paulo, Nobel, 1995; BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres. São Paulo, Ática, 1995; BONAVENTURE, Leon. Psicologia e mística. Petrópolis, Vozes, 1978; e outros.

A obra [traz-nos] uma compreensão de que cada ser humano tem suas próprias dimensões e devemos respeitar cada uma delas. Há momentos em nossa vida que devemos articular as relações e realizar a síntese a partir da realidade da águia e, em outros, a partir da realidade da galinha.

Na nossa atual humanidade e em nosso planeta, assistimos aos mandos e desmandos dos mais fortes, dos detentores do saber, do ter e do poder, que querem controlar, para nos reduzir a simples galinhas e nos subordinar aos seus interesses, mas é preciso que não aceitemos essa submissão, que rejeitemos os conformismos, os comodismos, porque essa dominação sempre será causadora de muitos sofrimentos à maioria da humanidade, diante da pobreza e da exclusão social. Por isso, é necessário que despertemos a águia que existe dentro de nós, para juntos construirmos um mundo melhor, onde todos possam participar e decidir, sem omissões, libertando-se da opressão.

Referência Bibliográfica:

BOFF, Leonardo. A águia e a galinha, a metáfora da condição humana. 40 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

Cátia Manoela Gasparetto é acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus de Erechim / Janeiro de 2006".

 

IMAGENS

 

jose-de-sousa-moura-girao-a-galinha-e-os-pintos-1884

 

"José de Sousa Moura Girão, A galinha e os pintos [1884]"

(http://apor.wordpress.com/category/ad-mirare/)

 

 

(http://jotacolipo.wordpress.com/2008/04/    

 

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“ 'Um camponês criou um filhotinho de águia junto com suas galinhas. Tratando-a da mesma maneira que tratava as galinhas, de modo que ela pensasse que também era uma galinha.

Dando a mesma comida jogada no chão, a mesma água num bebedouro rente ao solo, e fazendo-a ciscar para complementar a alimentação, como se fosse uma galinha.

E a águia passou a se portar como se galinha fosse. Certo dia, passou por sua casa um naturalista, que vendo a águia ciscando no chão, foi falar com o camponês:
- Isto não é uma galinha, é uma águia!

Ora ela é uma galinha! O naturalista disse: -
Não, uma águia é sempre uma águia, vamos ver uma coisa..

Levou-a para cima da casa do camponês e elevou-a nos braços e disse: – Voa, você é uma águia, assuma sua natureza !
- Mas a águia não voou, e o camponês disse:
- Eu não falei que ela agora era uma galinha !

O naturalista disse: – Amanhã, veremos… No dia seguinte, logo de manhã, eles subiram até o alto de uma montanha.

O naturalista levantou a águia e disse:

- Águia, veja este horizonte, veja o sol lá em cima, e os campos verdes lá em baixo, veja, todas estas nuvens podem ser suas.

Desperte para sua natureza, e voe como águia que és…
A águia começou a ver tudo aquilo, e foi ficando maravilhada com a beleza das coisas que nunca tinha visto, ficou um pouco confusa no inicio, sem entender o porquê tinha ficado tanto tempo alienada.

Então ela sentiu seu sangue de águia correr nas veias, perfilou, devagar, suas asas e partiu num vôo lindo, até que desapareceu no horizonte azul.'

Criam as pessoas como se galinhas fossem, porém, elas são águias. Por isso, todos podemos voar, se quisermos. Voe cada vez mais alto, não se contente com osgrãos que lhe jogam para ciscar.

Nós somos águias, não temos que agir como galinhas, como querem que a gente seja.
Pois com uma mentalidade de galinha fica mais fácil controlar as pessoas, elas abaixam a cabeça para tudo, com medo.

Conduza sua vida de cabeça erguida, respeitando os outros, sim, mas com medo, nunca!"

(Do livro A Águia e a galinha, de Leonardo Boff,

http://www.kelribeiro.com/textos-emprestados/a-aguia-e-a-galinha/)