"Tenho dúvida, quase certeza, de que estão erradas as expressões abaixo. Por favor julguem-nas: "O S. Paulo venceu ao Palmeiras. A bola passou por sobre o gol."

  • Você tem razão no primeiro caso, pois o correto é "O S. Paulo venceu o Palmeiras".

  • No segundo, é preciso jogo-de-cintura. Em português (embora não tanto como no inglês), também se vê uma preposição regendo outra em certos casos de ênfase ou maior definição. A prep. por exprime, entre outras coisas, idéia de percurso, e quando esse percurso se dá sobre a trave, é possível deixar isso bem claro: a bola passou por sobre o gol. Outros exemplos de dupla preposição: "Passou por entre a ramagem / Mergulham e desaparecem por sobre o imenso telheiro / Passou por detrás do galpão / O terreno lhe foge de sob os cascos / Cumpre seus deveres para com a religião".

"Consulta: regência do verbo agradar, haja vista que tenho encontrado divergência nas gramáticas."

Divergência, neste caso, significa que há multiplicidade de uso. "A regência, como tudo na língua, a pronúncia, a acentuação, a significação, etc., não é imutável. Cada época tem sua regência, de acordo com o sentimento do povo, o qual varia, conforme as condições novas da vida", já dizia o grande filólogo e dicionarista Antenor Nascentes em 1960.

E "agradar" é um dos verbos que Celso Luft usa justamente para exemplificar a evolução da regência verbal pela alteração dos traços semânticos ou de significado: "Agradar a alguém, agradar-lhe torna-se agradar alguém, agradá-lo, certamente por efeito de sinônimos como ‘contentar, satisfazer’, ‘alegrar, deleitar’, e obviamente prescinde de preposição com o traço de ‘acarinhar, mimar’, de um uso popular deste verbo".

Em resumo, pode-se usar corretamente o verbo agradar como pronominal, intransitivo, transitivo direto ou transitivo indireto, todos devidamente dicionarizados:

  • Agradou-se da moça à primeira vista.

  • A festa não agradou, embora o anfitrião tivesse feito tudo para agradar os convidados.

  • A infra-estrutura das praias agradará os/aos turistas.

  • Nada agrada aos mais exigentes.

  • Quisemos agradá-lo, mas não houve jeito.

  • Quando algo lhe agrada, adquire-o a qualquer custo.

"É possível a utilização do verbo conspirar no sentido de significar ‘algo bom’? O Aurélio estaria correto ao exemplificar que ‘tudo parecia conspirar para a sua felicidade’? É correto dizer que ‘os astros conspiram a nosso favor’? Não seria uma inversão de sentido?"

De "tramar, planejar ou concorrer para uma conspiração", o verbo conspirar passou a designar também "concorrer para algum fim" ou, em outros termos, "tender ao mesmo objetivo"; enfim, "contribuir". O que muda é a regência: o fator negativo pede sempre a preposição contra – Ele conspira contra qualquer iniciativa – ao passo que as preposições para, em ou a podem ser usadas em qualquer situação: conspira para sua felicidade / conspira a seu favor / conspira em prejudicar seus interesses / conspira para obter os melhores resultados.

"Gostaria que você ou Gostaria de que você? Quando não se usa a preposição para atender à regência do verbo?"

O verbo gostar, ninguém tem dúvida, pede a preposição de: Gosto de vocês. Gostaria de tomar água-de-coco. Entretanto, a seqüência gostar de que permite deixar a preposição de fora, porque frases como Gostaria que você fosse pontual ou Ela gosta que a elogiem soam melhor do que Gostaria de que você fosse pontual ou Ela gosta de que a elogiem.