Dia desses, após assistir discussão a respeito do assunto numa entrevista televisiva, deitei-me a pensar sobre as diferenças que existem entre os conceitos semânticos de “gostar e amar”, “ver e enxergar”, “ouvir e escutar”. Todos sabem, mesmo os menos letrados, quão rica e privilegiada é a língua portuguesa no que tange à semântica; tão abrangente que torna possível até a existência de sinônimos excepcionais, coincidentes numa ou noutra acepção; sim, porque, na verdade, todos os sinônimos, num sentido lato ou restrito, ou são alternativas ou complementos, à exceção dos unívocos. E precisam ser assim, ou seriam desnecessários; a menos que esse ramo da lingüística (a semântica) se prestasse apenas à interpretação filosófica ou teleológica.


 Existem, ainda, em nosso vernáculo, termos ou palavras que se confundem ortográfica e morfologicamente, distinguindo-se em prosódia ou ortoépia; há, também, os foneticamente idênticos, porém, diferenciados ortograficamente. Tais semelhanças ou diferenças não os fazem sinônimos ou antônimos, automaticamente.


 A despeito das virtudes variadas com as quais foi brindada nossa íngua, alguns, para se fazerem entendidos, precisam de poucas delas. São eles, geralmente, donos de simplório repertório gramatical no que concerne à sintaxe, prosódia e mesmo à semântica; no entanto, graças a recursos inatos de oratória e retórica, invariavelmente, conseguem chegar a um resultado exitoso. A propósito, indivíduos com essas características têm se mostrado prolíficos, notadamente, no universo político e extremamente falso e corporativista em que vivemos.


 Toda essa verborragia derramada teve como objetivo preparar-me para uma decisão que relutava tomar: concordar com aqueles que sempre demonstraram ótima acuidade visual, haja vista, antes de muitos, terem enxergado - observando o modo de procederem uns e outros e dispensando a Estatística como ferramenta para justificar as exceções que viam - aquilo que os meios de comunicação andam escancarando: os homens que se submetem ao exercício disso que ousam chamar de Política, não há como negar, parecem indignos de confiança.


 A se manter esse estado de degenerescência do caráter e dá ética, provavelmente, num futuro bem próximo, o congresso nacional, os diversos parlamentos e governos terão que diminuir em relação ao número de vagas. É que, pelo que estamos sendo obrigados a ver e acompanhar, cotidianamente, dificilmente, haverá tantos homens sérios e honestos dispostos a compor e gerir esses antros de poder estatal, nos quantitativos atuais. Certamente, muitos preferirão exercer seus direitos e deveres de cidadão em outras atividades, ainda que com menor grau de poder.


 Como sonhar não custa nada, quem sabe no momento em que passarmos a enxergar e escutar não com os órgãos físicos de sentido, mas com a consciência, não percebamos a realidade de maneira insofismável, em sua completude? Se isso acontecer, não duvido, num descortino semântico, daremos às nossas vidas um novo e mais importante significado. 


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