(Miguel Carqueija)

Das lembranças da infância:

QUE FIM LEVOU A MARIÂNGELA DA "TV DE BRINQUEDO"?


    Quando eu era criança, aí por volta de 1960, passava na de há muito extinta TV Continental (canal 9) do Rio de Janeiro, um programa infantil intitulado “TV de brinquedo”. A princípio era apresentado por uma moça, e consistia em mostrar desenhos animados, como os do Pica-pau. O estúdio ficava repleto de crianças. Os programas, naquele tempo anterior ao “vídeo-tape”, eram ao vivo. Lembro que um belo dia a apresentadora adulta não conseguiu controlar as crianças, que estavam muito indisciplinadas.
    Acho que foi por isso que resolveram colocar uma menina como apresentadora, e deu certo. A Mariângela tinha 10 anos e era popular entre as outras crianças que participavam. Conseguia controlar a situação. Era muito extrovertida e segura de si. Naqueles bons tempos de programação mais ingênua e inocente, as crianças que apareciam na televisão eram simpáticas.
    Ela tinha dez anos e, depois, onze anos. Em 1961, portanto, ainda devia estar à frente do programa, apresentando os desenhos do Pica-pau, os de Paul Terry, creio que os “puptoons” de George Pal (que nós em casa detestávamos, mas que hoje eu respeito).
    Depois o programa acabou e ela desapareceu das telas. Não só desapareceu, como não se falou mais dela, nem nas revistas especializadas na telinha, que circulavam nas bancas.
    As crianças, quando gostam de alguma coisa, não têm o mesmo expediente dos adultos, não sabem cavar, pesquisar, colecionar. Não podem tomar as mesmas iniciativas e acabam esquecendo o que curtiram mas deixou de estar ao seu alcance. Não sendo mais a Mariângela noticiada, desapareceu da minha vida. E, no entanto, foi o meu primeiro amor, um amor de criança, antes mesmos dos meus amores de adolescente, Hayley Mills e Rita Pavone.
    Muita coisa antiga pode ser hoje procurada com as ferramentas da internet. Artistas, personalidades diversas que a gente não houve mais falar, pode-se localizar a pista com uma boa pesquisa. A coisa se complica, porém, com pessoas que só eram conhecidas pelo primeiro nome. Quantos milhões de Mariangelas existem? Eu andei pesquisando no “Google” e até encontrei referências à Mariângela da “TV de brinquedo”, em artigos sobre a história da televisão brasileira. Mas sem nenhuma informação posterior ao programa. Portanto, o paradeiro dela continua sendo um mistério.
    Há 50 anos essa pessoa, que foi tão importante para a minha infância, penetrou num limbo espesso e implacável... através do qual ainda não consegui enxergar.