Seguia pelo canteiro de concreto frio da via duplicada com largas pistas pavimentadas de um material que se assemelhava a borracha, de tão macio e silencioso; tanto os veículos, descoloridos, quanto as pessoas, cabisbaixas, todos iam na mesma direção e sentido. Depois de percorrido um bom trecho da estrada, percebeu que o concreto do passeio dava lugar a um jardim muito verde e florido, formado por pequenas árvores.
     O sol estava escondido nas nuvens finas e, por isso, o clima era agradável; graças, também, ao perfume das flores e plantas aromáticas. E ele caminhava, caminhava...
Olhando em frente, para bem distante de onde estava naquele momento, via que as íngremes pistas convergiam para algo como um templo, talvez uma mesquita ou sinagoga, que, visto assim de tão longe, parecia minúsculo. Nada mais via além daquilo, nem o horizonte. Era como se a terra acabasse lá.
     Deve ter andado bem mais de uma hora, quando, sem demonstrar qualquer cansaço, chegou ao templo, que, na verdade, era enorme e suntuoso; revestido, externamente, em mármore madreperolado. Uma torre que parecia atingir o céu, com uma cruz no alto, partia da parte central do imóvel onde estava a exagerada porta frontal, com seus quase cinco metros de largura por mais ou menos três de altura, construída em madeira clara e emoldurada por mogno, com robustas fechaduras e dobradiças em metal negro. A uns dez metros da lateral direita e esquerda da gigantesca torre, duas outras torres, uma abobadada e a segunda em forma de cone muito pontiagudo, menores, mas, ainda assim, grandiosas, compunham a fachada; algumas portas em cada uma das laterais e dezenas de janelas, nas mesmas madeiras da porta principal, ocupavam os, provavelmente, mais de cem metros de extensão do misterioso templo, que bem poderia abrigar cristãos, judeus ou muçulmanos. A arquitetura do que seriam os fundos do imóvel, em tudo, se assemelhava à da fachada.
     Era, de fato, uma construção magnífica, indescritível. Menos sensacional, porém, do que a visão que tivera ao olhar em frente, para a larguíssima estrada que se descortinava, em suave declive, pavimentada não mais em concreto emborrachado, nem dividida em pistas, mas calçada de pedras fosco-acinzentadas que impediam o sol, então desgarrado das nuvens, de refletir seus raios; margeavam-na árvores das mais diversas espécies e tamanhos. Apesar de ensolarado, a temperatura continuava amena e soprava um vento, que não poderia ser chamado de brisa, todavia, era frio e gostoso. 
     De onde estava, a princípio, não vislumbrava qualquer tipo de construção no final do funil natural que a estrada assumia em relação ao horizonte.
A propósito, depois de haver deparado com tão maravilhoso cenário visual, nem cogitou apreciar, detidamente, o interior do belíssimo templo: limitara-se a olhá-lo, superficialmente, de soslaio. Deixaria o exame acurado e minucioso para a volta. Pegou a estrada. O declive suave e o vento que lhe açoitava o corpo, convidaram-no a prosseguir explorando o que tinha à disposição.
     Andou, andou, sem saber bem para onde nem por quanto tempo. Veículos e pessoas estranhos ultrapassavam-no, sem pressa. Interessante: nenhuma pessoa ou automóvel cruzara com ele desde o início da caminhada.
     Percebeu que, por vezes, abriam-se clarões de ambos os lados da estrada, vez em esplêndidas alamedas, outra em estreitos e sinuosos caminhos arborizados. Para onde levariam? Na maior parte do percurso, era densa a vegetação que margeava a estrada. E ele prosseguia, incansável, seguindo ladeira abaixo.
     Parecia que o tempo parara: continuava tudo como no momento em que começara a caminhar: ora, céu nublado; ora, o sol mostrando todo seu esplendor.
     Conseguiu, enfim, tirar os olhos das hipnotizantes margens do belíssimo caminho e olhar para frente. O impacto foi colossal. Não era possível! Minutos antes – afinal, há quantas horas caminhava? - nada via diante de si, e agora, aquilo!
     Um portal magnífico, gigantesco, espelhado – holográfico ou tridimensional? -, logo ali, ao alcance de seus olhos. Sua construção era, no mínimo, vanguardista, de vez jamais ter visto algo parecido em qualquer lugar. Ao se aproximar, viu que não havia uma entrada central, como também percebeu que, apesar de a estrada percorrida acabar-se ali, o pórtico não era o fim da linha, uma vez que as pessoas, antes de desaparecerem, ou seguiam para a direita ou para a esquerda do mesmo. Fez o que lhe pareceu haver mandado a consciência: rumou para o lado esquerdo.
     Chegou a uma porta que não precisou empurrar para que se abrisse; cruzou-a, ingressando em uma espécie de labirinto que se ia fechando às suas costas, não mais permitindo retorno. Foi em frente, mas logo teve que estacar, estupefato e sem fala. A escuridão era total, nada mais havia para ser visto. Pensou em gritar até que alguém o escutasse. Ou será que estaria só? Comprovadamente, não: preocupada, toda a família estava a seu lado quando acordou, assustado.
     Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected])