Por um Rio digno de ser maravilhoso
Por Cunha e Silva Filho Em: 12/08/2011, às 22H54
Cunha e Silva Filho
Estamos vivendo fases tormentosas em nosso pais. Nesta crônica, me limitarei a apenas uma: a violência, com ações hediondas cometidas em todas as escalas sociais. Violência que parte de todos os cantos da sociedade. Não estarei exagerando ao afirmar que o povo carioca está com medo de sair de casa, seja de carro, de trem, de metrô e principalmente de ônibus, este último meio de transporte muito maltratado pelos órgãos fiscalizadores. Aliás, o medo é duplo: quer pela imperícia de motoristas que mais parecem psicopatas ao volante, colocando em risco a vida dos passageiros ao imprimirem alta velocidade aos veículos sob sua responsabilidade, quer pelo pavor de os passageiros poderem ser mais outras vítimas de assaltos.
Com uma polícia militar despreparada para enfrentar situações de emergência, tais como assaltos ou sequestro de ônibus, conforme ocorreu na semana passada em pleno centro nervoso do Rio de Janeiro, com passageiros desesperados com a violência de facínoras ameaçando-lhes a vidas, os cidadãos de bem do Rio de Janeiro se encontram completamente reféns nas duas situações mencionadas.
Por outro lado, lemos artigos ou reportagens de jornais em que especialistas de várias áreas discutem teoricamente modos de vida melhor e mais saudável para o futuro da cidade do Rio de Janeiro tendo em mira os cronogramas a serem respeitados com vista às realizações da Copa Mundial e dos Jogos Olímpicos. Arquitetos, planejadores urbanos, antropólogos, sociólogos, em debates amplos, com raras exceções, transmitem uma exagerada impressão de otimismo que me deixa preocupado.
Não é possível termos sucessos naquelas realizações esportivas e a necessária paz social se não atacarmos de imediato os flagelos que insistem em permanecer afrontando a população, sobretudo os mais carentes e desprotegidos. Há uma série de ações efetivas que devem partir de iniciativas tanto do prefeito quanto do governo estadual que, se não forem equacionadas e resolvidas em curto e médio prazo, colocarão por terra os projetos de modificações ambiciosas da paisagem urbana e dos modos de vida social do povo carioca.
Por isso, medidas urgentes se fazem necessárias nos setores da segurança, da saúde, dos transportes que não podem ficar só no papel. Investimentos maciços, com a ajuda do governo federal nesses setores, não podem ser desviados ou transformados em outros escândalos financeiros.
Antes de tudo, as obras indispensáveis à concretização dos dois grandes eventos mundiais esportivos mobilizarão ações principalmente dirigidas à segurança do indivíduo, seja do habitante do Rio, seja do turista brasileiro ou estrangeiro. Julgo ser estes anos a ocasião mais adequada hoje para reduzir a patamares mínimos o alto grau de violência em que vive a população carioca. Quando bandidos atacam pessoas indefesas, executam uma juíza de direito e praticam outros atos de selvageria contra a sociedade do Rio de Janeiro, torna-se quase impossível pensar-se no sucesso da Copa Mundial e dos Jogos Olímpicos .
Setores como o turismo, a hotelaria e o comércio em geral devem fazer pressão junto aos governos municipal e estadual no sentido de que soluções para as mazelas do Rio de Janeiro sejam logo encontradas, reduzindo ao mínimo permitido o nível de violência em que está afundada a cidade e o estado. Portanto, não é hora de produzir otimismo em excesso com promessas de que o flagelo da violência será eliminado em decorrência das transformações arquitetônicas que estão planejadas para a cidade do Rio de Janeiro.
É preciso que o turista e o habitante do Rio realmente possam constatar que modificações de fato ocorrerão no espaço físico da Cidade Maravilhosa. Contudo, elas não podem deixar de acompanhar-se de um esforço prioritário em setores vitais: segurança, saúde e educação pública. É mister que ao povo do Rio de Janeiro se devolva uma cidade em clima acolhedor, de paz, de alegria e bem-estar, sem o que o envio de reforço militar vindo de Brasília mais uma vez seja apenas para dar um ilusório e provisório período de segurança e vida melhor. Só desta forma poderemos ter orgulho de sediar os dois megaeventos com êxito e demonstração de que o Rio de Janeiro – Cidade Maravilhosa -, mundialmente famoso, faz jus a esta antonomásia.