Poemitos da Parnaíba

ENTREVISTADO:

Alcenor Candeira Filho

Alcenor Candeira Filho

O lançamento do livro POEMITOS DA PARNAÍBA me proporciona o grande prazer de falar, perante público tão qualificado, de dois grandes amigos: Gervásio Pires de Castro Neto e José Elmar de Melo Carvalho, que conheço desde 1965 e 1975, respectivamente.


O caricaturista Gervásio Neto e a esposa Ana Maria são funcionários aposentados do Banco do Brasil e têm duas filhas: Vanda e Natacha. Ele reside no Rio de Janeiro há mais de quarenta anos, mas vem anualmente a Parnaíba.


Acredito que se Gervásio Neto houvesse ao longo da vida tentado conciliar a profissão de bancário com uma atividade artística mais constante, divulgando trabalhos através de jornais, revistas, internet e exposições, teria hoje um número bem maior de admiradores. Mas ele sempre foi avesso a holofotes. Só desenha quando quer, nunca por obrigação ou dever.


Já retratou com mágicos traços cômicos vários parnaibanos, como o Prefeito José Hamilton Castelo Branco, o músico Weber Mualem de Moraes, o desenhista Fernando Pires de Castro, o escritor Carlos Henriques de Araújo, o desenhista Francisco de Assis Lemos, conhecido como Guerreiro, e outros.
À sua arte devo as capas de dois livros de minha autoria, um já publicado “Teoria do Texto” e outro a ser lançado brevemente.


Quem vê o artista vestido sempre de calça e camisa pretas, com o inseparável boné preto, poderá imaginar que ele vive de luto, ensimesmado, macambúzio, sorumbático. Mas tudo isso não passa de aparência. Quem conhece bem o Gervásio Neto sabe que ele adora conversar, especialmente em rodadas de cerveja em bares e botecos modestos. Discorre com desenvoltura sobre assuntos gerais, opinando, argumentando, concordando, discordando. Enfim, um cidadão bem in/formado, que não abre mão das próprias convicções.


Na juventude, em períodos de férias escolares, eu e ele participamos em Parnaíba de um bloco carnavalesco denominado “Negro Gato”. A turma só entrava nos clubes (AABB e Igara) ao som da música “O Negro Gato”, de Roberto Carlos, executada em ritmo de carnaval. Não lembro se à época, fins dos anos 60, Gervásio Neto já se trajava todo de preto, como não sei se a mania pela indumentária da cor da noite de lua e de estrelas ocultas no blecaute de nuvens espessas nasceu a partir do “Negro Gato”.


Gervásio Neto re/criou na sua especialidade de desenhista os vinte e cinco personagens poeticamente retratados por Elmar Carvalho.


O caricaturista não conheceu pessoalmente vários desses personagens, mas os caracterizou fidedigna e artisticamente através de traços e cores a partir dos perfis poéticos criados por Elmar Carvalho, resultando no livro ora festivamente lançado na Academia Parnaibana de Letras. O trabalho do artista plástico revelou-se tão valioso quanto o do artista da palavra, na medida em que, fiel ao exemplo deste, expressou aspectos físicos e morais dos personagens que desfilam no livro.
Passo agora a falar do autor dos poemas Elmar Carvalho.


Formado em Administração de Empresas e em Direito. Magistrado, jornalista, poeta, cronista, critico literário, autor de vários livros em prosa e em verso, destacando-se “Rosa dos Ventos Gerais” e “Lira dos Cinqüentanos”, que enfeixam seus melhores textos.


Durante o tempo em que morou em Parnaíba, 1975/1982, Elmar participou de vários movimentos culturais, principalmente como Presidente do Diretório Acadêmico 3 de Março (CMRV/UFPI) e membro do Movimento Social e Cultural Inovação.


Poucos escritores piauienses da atualidade possuem uma fortuna critica tão rica quanto a de Elmar Carvalho. A reunião dos ensaios e criticas sobre a sua obra formaria um livro volumoso.


Em duas ocasiões me manifestei por escrito sobre a obra do nosso grande poeta: ao fazer a apresentação de “Rosa dos Ventos Gerais” no dia de seu lançamento em Parnaíba (1996) e ao proferir o discurso de recepção na solenidade em que o poeta foi empossado na cadeira n° 07 da Academia Parnaibana de Letras (1994).


Na festa cultural desta noite, o escritor e presidente da APAL Antônio de Pádua Ribeiro dos Santos ficou com a missão de se estender nas considerações críticas sobre o livro POEMITOS DA PARNAÍBA.
De minha parte desejo apenas assinalar que com os “Poemitos”, Elmar Carvalho revela mais uma faceta de seu talento poético: a produção jocosa, alegre, graciosa, satírica, retratando anatômica e psicologicamente pessoas que foram ou são bastante conhecidas em Parnaíba, a maioria gente humilde: Alain Delon, Meio-Quilo, Xigau, Jibóia, Hosana, Boa Idéia, Maria das Cabras, Marechal, Maria Onça, Cego Bento ... Nessa categoria cito um exemplo:


ALAIN DELON

Situava-se entre o feio e o horrível
mas se dizia BG:bonito e gostoso.
Metido a conquistador de mulheres
conseguia o inverso efeito:
As mulheres lebres assustadas
de Alain Delon fugiam.
Se Alain Delon muito fosse
Alain Delonge seria.

O poeta Alarico da Cunha, o ex-Prefeito João Orlando de Moraes Correia, o bancário Mário Reis e o escultor Ageu completam a galeria dos personagens do livro.


Elmar Carvalho é casado com Maria de Fátima de Sousa Carvalho, com quem tem dois filhos. Pertence a varias agremiações culturais e literárias. Ocupa a cadeira nº 10 da Academia Piauiense de Letras.


Encerro, Senhores e Senhoras, minhas palavras pedindo uma salva de palmas para os dois grandes artistas que (re)uniram artes e vocações para nos premiarem com os POEMITOS DA PARNAÍBA.

Parnaíba, 27.03.2010.