Dílson Lages Monteiro: "Poema para todos os pais do mundo"
Em: 08/08/2015, às 20H26
(Em memória a Gonçalo Soares do Rego Monteiro)
Dílson Lages Monteiro - da Academia Piauiense de Letras
Ah, meu pai, tu pedalas a rapidez da madrugada
em tua farda de caqui e cheiro de orvalho
na porta que se ilumina
a casinha de largo corredor e meia-banda
nas encostas do rio
pertinho da igreja.
Ah, meu pai, pedalas
as batidas de meu coração
na janela da sala
as cócegas de tuas lembranças
e o sereno arrastar de passos
vida adentro do dia infindo
Pedalas as veredas de teu intinerário
estreito, currais novos, são joão
e todos os lugares em teu abraço:
tanta água despejada nos caminhos
da respiração em fôlego
o sangue das lâminas
os comprimidinhos na bolsa marrom
de poeira e pó de sol
na pele encarnada
morena de suor e sonhos.
Ah, meu pai, tu pedalas as cidades
de onde as brasas das asas ti tragaram:
Amarante, Angical,
São Pedro, Água Branca,
Regeneração
O nome doce e feroz das fazendas:
baixão do coco, lagoa da vida
tanque, canto da onça e tatu
Ah, meu pai, pedalas os conselhos
e a madrugada
no sorriso tranquilo e terno
a voz inteira da esperança
em minha humildade
da grandeza de teu dna.
Tu pedalas em tua farda de caqui
o cheiro de orvalho
e os teus sonhos em mim.