ANA ARGUELHO
ANA ARGUELHO

 

Pode ser uma imagem de corpo d'água

(Rio Igaraçu, na Parnaíba, no Atlântico do Piauí)

 

 

IGARAÇAL

 

 

Dos meus ancestrais,

tudo guardei no chão.

 

Fiz da minha cidade

o meu paraíso ignorado.

 

Pela corda do barco,

estiquei a imaginação

temporã

e fui discreto

ao cavar com os dedos

as dunas

do meu quintal.

 

Inventei um país diverso,

emergido do rio Parnaíba

trazendo consigo

os seus peixes

encantados:

 

fidalgo, curimatã, piaba, surubim, manjuba, piratinga,

sardinha, piau, carazinho, lambari,

bagre, joaninha,

branquinha-do-olhão, doirado, dorme-dorme,

enguia-d´água-doce

e outros seres semelhantes

a vigilarem o velário da paisagem

mais enebriante

derramada sobre a minha vida

de habitante

da vazante inteligente

com sofrimentos

e estrelas estilhaçadas.

 

Poema de Diego Mendes Sousa

 

Fotografia de Helder Fontenele

 

Rio Igaraçu, na Parnaíba, no Atlântico do Piauí

 

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O poema estético "Igaraçal", de Diego Mendes Sousa, é a tradução da alma do poeta no paraíso mágico do seu quintal. Que grandeza de alma! Que percepção literária para as coisas comuns que se transformam em arte e transfiguram a vida com o toque das suas mãos e do seu coração.

Ensaio de Ana Arguelho, poeta, contista, ensaísta e memorialista brasileira.