“A existência humana está originariamente nos dois lados, no da verdade e no da não-verdade. E a verdade mais originária não se localiza na verdade Aqui se ilumina ainda mais a famosa sentença heiderggeriana: ‘a arte é por na obra a verdade’. Guimarães Rosa, para dizer esse jogo bifronte e múltiplo, que é o jogo do próprio entre-texto, instituiu uma terceira dimensão – ‘ a terceira margem do rio’; aí onde a liberdade é possível
(Portella, Eduardo. Fundamentos da investigação literária. 2. ed. Rio de Janeiro, 1974, p. 62.) 


                  Já me dei conta de que os preciosos ócios de um tarde quente carioca foram por água abaixo Tenho a impressão de que me obrigaram a ser personagem de um conto assustador de Poe e, lá, por labirintos e escadarias fantasmagóricas, alguém que se dizia meu guia, para encontrar algo precioso, me apunhalou pelas costas. Ali mesmo me sepultaram e quem o fez foi por razões diabólicas. Tais razões funcionavam como forças propulsoras e essas eram umas sombras enormes, gigantescas, misto de Mefistófeles e Conde Drácula de Bram Stokker. Ou seja, o mal e o sangue, só que metaforizados pelo embuste e pela exploração intelectual mal assimilada.


                    O articulista Wanderson Lima, regurgitando, como de costume, a sua sabedoria de almanaque ou de apostilas, em texto fortemente conotado de epigonismo de juventude rebelde, mais uma vez, em resposta a dois artigos que lhe fiz, procura me desestabilizar culturalmente, demonstrado , de fato, que se comporta criticamente na sua condição intrínseca de faker dos arraiais subliterários, Vou tentar, dentro das possibilidades, desvelar-lhe as inverdades, as pasquinadas, as “Zeverissimações ineptas”, as contradições e sua pantaguélica capacidade de se apropriar do alheio no concernente à aquisição de conhecimentos, ou melhor, de exibição postiça e mediana.


                  O articulista reafirma o que pensa do meu ensaio e, mistificadoramente, tece repugnantes afirmações ao meu preparo, sem, ao menos, me conhecer, sem ter procurado sondar qual foi a minha trajetória de estudioso desde os bancos do Liceu Piauiense dos meus distantes artigos publicados na adolescência, na imprensa piauiense , sobretudo no jornal Estado do Piauí , de Josípio Lustosa., muitos dos quais elogiados por gente que sabia ler, como intelectuais da estatura de A . Tito Filho, de Darcy Fontenele de Araújo, de Jeremias Abreu Pereira da Silva (Drumond), e de tantos outras personalidades da vida intelectual piauiense.
Se o articulista “pouco se vê” naquele texto de 2003, ele está sendo bem fiel ao seu principal guru, o ensaísta e crítico Luis Costa Lima que, segundo me falaram, abjurou os estudos que escreveu sobre Mário, Drummond e Cabral, em Lira antilira (1968). Desta vez, comentando em poucas linhas o seu artigo “Mestres do Passado?”, o articulista modelizou o enunciado através do intensivo “muito”.


                  O fato de julgar os estudos sobre o poeta Da Costa e Silva “mal estudados”, segundo ele, equivale a uma doxa “porejada” de impressionismo barato.E “mal estudado” por quê? Será que temos invariavelmente de estudar um autor sempre de forma brilhante? Será que só valem os trabalhos acadêmicos cum laudem ? Será que o jovem “verdadeiro-crítico”” detém todo o conhecimento da Terra? E por que não realiza tal intento por sua conta e risco? Por não fez uma tese, já que está cursando o doutorado fora do Piauí? Será que usou apenas de um recurso retórico para ter o solene ensejo e o privilégio de exclamar “Eureka!”? para a concretização de uma interpretação “imanentista” da poesia dacostiana? Faço até votos que o consiga., porquanto não sou, como ele, invejoso do talento alheio. Saiba, porém, que qualquer abordagem, seja por qual método for – e são muitos e nenhum jamais terá prevalência de ser a palavra final em crítica literária, pois a perfeição, tão aguerridamente perseguida por alguns, é apanágio divino. A crítica literária é uma atividade intelectual in progress. Tudo passa e muda incessantemente no domínio cognitivo-especulativo.


                Como, meu preclaro conterrâneo, me imputar de “incivilidade inconciliável” tendo como parâmetro a minha idade? Na sua idade, já conhecia três idiomas e lia bem no original, ao contrário de sua pessoa que, pelo visto no seu Curriculum Lattes, mal sabe o espanhol. Me recuso a aceitar ironia de baixa qualidade quando se reporta às minhas cãs de sessenta e três primaveras bem vividas e a serviço do meu próximo. Tenho orgulho de dizer que toda a minha vida me dediquei ao magistério. Já rapazinho, em Teresina, dava aulas particulares, na minha casa, de francês e inglês. Fui abençoado com um pai culto, um homem de bem, e sobretudo um dos mais corajosos jornalistas do Piauí, conforme lemos em depoimentos sobre ele dados por A .Tito Filho, que com ele até polemizou duramente. Lecionei português, literatura brasileira e portuguesa em todos os níveis do ensino público (fundamental e médio)e na rede particular (fundamental, médio e superior). Tenho a honra de ser professor aposentado Titular de língua inglesa do centenário Colégio Militar do Rio de Janeiro. Lecionei literatura brasileira, língua inglesa, literatura americana e inglês instrumental na Universidade Castelo Branco. Ainda por falar em idade, convém lembrar-lhe que grande parte dos mais eminentes autores da literatura universal ainda se conservaram muito lúcidos para realizarem obras de grande valor. O articulista conhecedor de filosofia, autor de poesia, por acaso já leu um poema do excelso poeta americano Henry Wadsworth Longfellow ((1807-1882)/  Só para matar-lhe a curiosidade e aguçar-lhe o sentido do texto, dele extraio  este trecho abaixo:

“Morituri Salutamos”

....................Ah, nothing is too late
Till the tired heart shall cease to palpitate.
Cato learned Greek at eighy; Sophocles
Wrote his grand Oedipus, and Simonides
Bore off the prize from his compeers
When each had numbered more than fourscore years, -
And Teophratus, at fourscore and ten,
Had begun his “Characters of Men”.
(...)

                  Da mesma forma, o suposto scholar ja meditou sobre um poema do filósofo Francis Bacon (1561-1626), intitulado “Advice to a reckless youth”? Se não, conviria para frear-lhe a prepotência que a mim assaca. Eu fui a vítima ; o articulista, o agressor.Tive que me defender porque não sou covarde. Mesmo o famoso poema “If” de Kipling (1865-1936) ser-lhe-ia de muita serventia,  a despeito de algumas ideias que não aprovo neste grande autor. Existe uma excelente tradução desse poema de Guilherme de Almeida (1890-1969), talvez a melhor tradução. 


                  Todos os que me conhecem, as amizades que conquistei, me têm como uma pessoa avessa a destratar o próximo, mesmo quando no exercício da crítica ou da resenha. O que, no entanto, não suporto é ser achincalhado injustamente. Primeiro, porque minha formação foi construída, desde a juventude, por uma fidelidade aos estudos e à seriedade da pesquisa, dentro ou fora da universidade. Segundo, porque seria muita leviandade -- já que, então, seria pura e acachapante prova de burrice de quem o proclama – acoimar-me de burrice, de “pseudointelectual” Peço ao articulista que tenha mais respeito à minha pessoa e à essência que construí para a minha personalidade tanto no domínio do intelecto quanto no plano ético. O que tenho escrito, já por longo anos, por mais simples que, por vezes, sejam os meus trabalhos, jamais poderia merecer a injustiça de quem não dá, aí sim, exemplo de dignidade intelectual no terreno da competência e da inteligência isenta de parti pris. Os arrivistas, no plano da pesquisa, não têm futuro. O meu futuro de estudioso eu já em parte o construí dentro das minhas limitações e possibilidades. O articulista, não, ainda tem que provar a que veio e o que irá construir pela vida afora.


                    O articulista, sem demonstração de provas concretas, alega meu desconhecimento filosófico que, segundo ele, muito deixa a desejar na práxis da judicatura crítica, para usar uma expressão cara a Álvaro Lins. Da minha parte, lhe pergunto, e a sua pessoa, aonde foi se embeber da filosofia ? Frequentou a Universidade de Heidelberg? Ou outra universidade européia, ou norte-americano? Ou mesmo argentina? Então é autodidata? E mesmo no país, já lhe conferiram um diploma na área da filosofia? E mesmo que me faltasse o conhecimento filosófico, seria essa a única via epistemológica? E como fica a crítica sociológica ? A crítica estilística, o new criticism, a close reading, o esteticismo crítico, a estruturalista, a pós-estruturalista, à frente Derrida, já falecido, a crítica psicanalítica, foulcaultiana, fenomenológica, a teoria da recepção, a hermenêutica a crítica marxista, os estudos culturais, e tantos outros caminhos do pensamento crítico contemporâneo? Me parece que o seu descritivismo filosófico encobre a ignorância na travessia entre a aplicação teórica e a instrumentalização no momento de sua análise. O que poderia resvalar, sem os devidos cuidados, para uma neo-impressionismo amorfo e redundante, o que é pior, oriundo de sua própria análise. Quero me poupar aqui de sugerir qualquer intenção doutoral com respeito à nossa discussão que, por sua vez, já adentrou a seara da polêmica. No entanto, não me quero furtar a lhe fazer algumas cobranças do ponto de vista de formação intelectual. Não tendo nenhum conhecimento sólido ou mesmo de oitiva no campo filosófico, onde está a sua decantada substância filosófica.? Já escreveu algum tratado, mesmo didático, que o identificasse como connaisseur de filosofia?   

  Somente citar nomes de filósofo e pensadores já amplamente estudados por pós-graduando de letras ou da área jurídica não significa nem lhe assegura chancela alguma de estudioso de filosofia. Não tendo conhecimento de grego antigo nem de latim, nem tampouco de línguas modernas para ir às fontes, no original, como, então, se atreve a me julgar nesse terreno? O articulista deveria, o quanto antes, é iniciar-se na severidade e paciência demandando anos a fio de estudos de latinidade e de estudos helênicos. É bem provável que o imanentista não tenha nem mesmo folheado os manuais didáticos de filosofia mais conhecidos no mercado.


              Não é verdade que apenas “classifico” na interpretação de poemas de Da Costa e Silva. Diferente do que pensa o articulista, o ato de “classificar” pressupõe também compreender. Classificar implica levantamento léxico, agrupamento, acuidade em selecionar lexemas do mesmo campo semântico. Portanto, não é uma operação mecânica e aleatória.


             O articulista chega ao cúmulo da mistificação paranóica de que me prevaleça de uma “autoridade conquistada”, segundo ele, pelas amizades de que desfruto no Piauí. É até pequeno o círculo de minha amizade com piauienses. O despudor do candidato às letras, ou melhor, já não se sabe o quê, ao estrelato cinematográfico, confunde o sentimento nobre da amizade como  se ele tivesse influência sobre o conceito que eu possa ter entre amigos.O conceito se conquista pelo nosso trabalho pela vida afora. Não é uma outorga burocrática.


           Ao contrário, o articulista, ele sim, armador de circo mambembe, atinge o limite máximo do desequilíbrio e da insensatez nos neurônios, agora sob a máscara grega do pernosticismo de aparência de sábio ao pretender “classificar-me” pejorativamente como falso intelectual, como se o ser humano, ente tão complexo pudesse ou estivesse à mercê de um espírito das Trevas vindo do Hades ou do Inferno de Dante a fim de distribuir a cada indivíduo a sua parcela de inteligência.. A dele, não, deve beirar à de Einstein ou de Leonardo da Vinci. 


           Conhecendo-o mais em parte agora, só lhe posso devolver a “classificação” subalterna que me atribui, e bem assim todas as outras com as quais intentou debalde me desqualificar, pagando- o na mesma moeda.


          Seria ocioso aqui retomar minhas análises ou meus comentários como lhe pareçam, sobre a questão da existência de traços precursores na poética dacostinaa ou de meus pontos de vista sobre vislumbres pré-concretistas em Da Costa e Silva. Não há nenhuma conexão aí com objetivos teleológicos. Tanto ao considerar um caso como o outro, jamais me utilizei do recurso de “catalogação” como base analítica nas duas situações acima. Analisei “À margem de um pergaminho” servindo-me do conceito de negatividade na poesia, conceito, de resto, originalmente formulado por Júllia Kristeva, embora me utilizando dela através de um modelo mais interessante de Gilberto Mendonça Teles, e, na segunda situação, i.e., do Pré-Concretismo ou Modernismo, me fundamentei em análises estilístico-gramaticais assentadas no texto e nas suas peculiaridades temático-expressivas. A alegada “catalogação”, sem dúvida teve, por parte do comentador, um leitura deformada dos meus propósitos hermenêuticos, quer dizer, todos os poemas, nos quatro momentos da classificação de Piñeiro Lopez ((anoranza, nostalgia e arela) sinalizam resposta rigorosamente de ordem filosófica. O conjunto das análises não se afastou um milésimo do que nos propusemos desenvolver e chegar a algumas conclusões. Nenhum ensaio é definitivo, daí ser denominado ensaio, um estudo apresentando alguns aspectos de uma tema, que poderão até sofrer modificações ao longo do tempo. Só isso torna-se suficiente para que meu trabalho tenha sustentação argumentativa e, em muitos aspectos, originalidade. Quem não distingue tais facetas não alcançará um nível de um exegeta que dê evidência de talento para o exercício da crítica.


             Pseudo-intelectualismo de fato não posso detectar senão no seu artigo tanto quanto na sua “Nota Prévia”


Por mais de uma vez, trago para a discussão a circunstância de que o articulista trickster se passa por monge de humildade e pureza quando, interiormente, é senhor de um discurso cuja dominância de estratégica somente se desvela por uma rigorosa análise de discurso capaz de revelações impensadas na superfície do texto. No subtexto, todavia, somos capazes de identificar as malandragens da tartufice humana no tocante ao que ele chama de dignidade intelectual.


Outra cincada do seu vesgo olhar crítico é a afirmação de que faço parte do grupo dos que não leram e não gostaram. É mais do que uma infâmia essa assertiva desse microanalista de texto perdido na noite suja da contrafação do desempenho crítico.


           Apraz-me tomar conhecimento, em primeira mão – verdadeiro furo jornalístico para a posteridade -, que o aprendiz de crítico confessa um pecadilho de somenos importância semântica, já que sente um prazer orgiástico de pensar que está dando aula e ensinando padre a rezar, o qual seria, segundo ele, ter feito um “desvio” de percurso nos seus talentos transversais e precoces. Seu grande objetivo, agora, nos últimos 5 anos é o cinema. Oh, que bom, desde a minha infância e adolescência também fui um grande frequentador de cinema, no caso, o velho Rex e o saudoso Theatro da Praça Pedro II. “Oh, que saudades que tenho da minha infância querida” os versos casimrianos teimam em ecoar em meus ouvidos... Será por quê? Só Proust ou Freud talvez me tenham um resposta...


         O articulista acrescenta à sua “Nota Prévia” que, no conhecido jornal do Piauí, Diário do Povo, para o qual também envio algumas colaborações, (...) “nunca trata de literatura”.
          

        À vista disso, lhe pergunto, por que razões faz tais declarações? Vai fazer como o autor de Lavoura arcaica? Ou será porque deseja renunciar à literatura, à poesia, e deixar para trás toda essa maravilhosa aventura da inteligência,  que é á literatura, para dedicar-se ao cinema? Vai, por isso, deixar de lado a sua poesia, a sua crítica, a sua sabedoria, a sua consagração? É uma pena!


        Tenho a impressão,  tenho quase a certeza, de que a “angústia da influência” bloomiana, a partir da leitura dos meus artigos, lhe tenha contaminado o cérebro no simples diálogo entre dois campos divergentes no domínio da literatura, visto que, por pura imitatio, o que escrevi contra o articulista, unicamente lhe serviu para tentar construir uma pobre e mal-ajeitada paráfrase contra si próprio. Milagre dos milagres...