Pedro Bandeira
Em: 24/08/2014, às 15H31
Quem não vibrou com os Karas, ou não se emocionou com o Mistério de Feiurinha, que atire o primeiro livro. Poucos escritores brasileiros entraram tanto no imaginário de uma geração como Pedro Bandeira. Com mais de 20 milhões de cópias impressas, ele é o escritor infanto-juvenil que mais vendeu no país. Ainda bem!
Com clássicos do gênero, como A Droga da Obediência (1984), e A Marca de Uma Lágrima (1985), Pedro Bandeira, que estará na Bienal do Livro de São Paulo, falou com o blog da Bienal sobre sua experiência como leitor e sobre seus livros favoritos.
Como a leitura mudou a sua vida?
Pedro: Fui um menino muito sozinho, pois meus dois irmãos eram muito mais velhos do que eu. Assim, quando voltava da escola, minha diversão era ler – de gibis a livros infantis e juvenis. Meu pai havia morrido quando eu ainda estava na barriga da minha mãe. Ela era pobre e pouco culta, não se casou mais. E tudo isso junto fez com que eu não conhecesse muita coisa, não fosse levado a viagens, não visse coisas novas, não frequentasse clubes, nem fosse introduzido a esportes. Minha convivência com outras crianças era somente na escola. Assim cresci, somente sonhando e viajando com as minhas leituras. Eu fui construído pelos livros, pela leitura.
Que livros mais te inspiraram durante a infância?
Pedro: É claro que Lobato foi meu pai substituto, como o foi para muita gente da minha idade. A única voz masculina de minha formação foi a voz dele, foram as opiniões dele. Mas logo entraram outros: Mark Twain, Robert Louis Stevenson, Edgar Rice Burroughs, Rafael Sabatini, Maurice Leblanc, Charles Dickens, Conan Doyle, Agatha Christie, Walter Scott… E logo chegaram Jorge Amado, Érico Veríssimo, Cervantes. Na juventude fui caindo no teatro: em Moliére, Shakespeare e nos dramaturgos americanos. Tudo lido como diversão, sem qualquer preocupação com “estudar”, ou “aprender”. Por isso, estudei e aprendi sem saber que o estava fazendo!
Muitas pessoas quando envelhecem se afastam da lembrança de sua juventude. Como você se lembra dessa época?
Pedro: Não penso no passado; só no que estou construindo no presente para o futuro. Acho que tudo que fomos continua vivo dentro de nós, como tijolos que compõem um muro. Nossa realidade é o topo do muro, embora saibamos que ruiríamos se fossem retirados os tijolos de baixo.
E quais são os seus escritores de Literatura infanto-juvenil preferidos hoje?
Pedro: Infelizmente, nós não recebemos amostras da Literatura juvenil que está sendo produzida. Por isso, na certa vou deixar de lado obras porventura geniais, mas que não chegaram às minhas mãos, ao dizer que há alguns autores brilhantes, como a Marisa Lajolo, de “O poeta do exílio” (Editora FTD), como o Luiz Antonio Aguiar, de “Alqueluz, uma aventura das Arábias” (Editora Objetiva) e de “O cavaleiro das palavras” (Editora Saraiva), além do Leo Cunha, o melhor cronista para a juventude. Ainda posso lembrar da Rosana Rios, do Rogério Andrade Barbosa, do Ricardo Azevedo e de poetas como a Roseana Murray… Mas, na certa, há muitos outros cujos livros ainda não li.
A que você atribui o sucesso gigante de sagas como Crepúsculo e Harry Potterentre as crianças e adolescentes?
Pedro: Não li a primeira saga, mas Harry Potter é um grande sucesso porque é muito bom! Não acreditem no sucesso de livros por causa do tal “marketing”: um livro só será sucesso se agradar ao leitor, se for bom. Não há propaganda que possa transformar alguma bobagem num clássico.
Os seus livros dialogam muito de perto com o universo dos jovens. No entanto, o jovem de hoje mudou muito em relação aos meninos da sua juventude, não é? Como você faz para se manter próximo e eles e ainda continuar criando histórias que os fascinem?
Pedro: Não, os jovens de hoje não são diferentes dos jovens do meu tempo. O ser humano pode inventar novidades, confortos e tecnologias, mas sempre será igual ao que foi e ao que todos os outros serão: eles amam, odeiam, têm inveja, remorsos, saudades, raiva, paixão, medo, ciúmes, desespero, esperança, desânimo, sonham como sempre sonhamos e sempre sonharemos. Seus sonhos são a minha Literatura e toda a Literatura. Shakespeare é atual, igualzinho a Machado de Assis e aos autores do século XX.
Nas suas histórias, os jovens têm sempre um potencial muito grande de mudar o mundo. Você ainda acredita no potencial transformador da juventude e dos livros?
Pedro: Ué! Se o jardineiro não acreditar nos pequenos brotos, como poderá fazer crescer a floresta?
Publicado originalmente http://blog.bienaldolivrosp.com.br/blog