Paris não é uma festa
Por Cunha e Silva Filho Em: 15/11/2015, às 14H47
[Cunha e Silva Filho]
Mexer com Paris é como ferir um botão de rosa. Ninguém deveria machucar essa Cidade-Luz, encanto de todos os povos que amam a cultura, os museus, as artes, suas célebres universidades, o cinema, a história, a língua e a literatura francesa, sua civilização, “ a vitrine do mundo,” segundo a denominou, se não me engano, o crítico e historiador literário Afrânio Coutinho (2011-2000.).
Montesquieu (1689-1755)) uma vez num texto afirmou que os parisienses são “de uma curiosidade que vai à extravagância.” Como fica essa curiosidade agora que a bela cidade de um país de grandes escritores, tais como Victor Hugo (1802-1885), Lamartine (1790-1820), Proust (1871-1922), Mallarmé ( 1842-1898), não está precisando dessa peculiaridade coletiva do espírito parisiense, visto que o terror que a abateu não deixa espaço para a curiosidade saudável, mas para a apreensão, a tristeza, o luto, a rosa ferida, a nação despedaçada pela tragédia - fruto da ignomínia de bárbaros saídos dos confins das trevas para virem cobrir de sangue inocente a cidade amada dos escritores, dos filósofos, dos intelectuais, dos estudiosos, dos estudantes, dos turistas do mundo inteiro que a procuram por ela ser a metrópole mais visitada do mundo.
Paris não é uma festa. Com dois massacres pusilânimes num só ano e, anteriormente, com um histórico de atentados, se tornou uma cidade que merece, sob todos os aspectos ligados à segurança, ser mais bem preservada pelas autoridades federais que devem, urgentemente, aumentar por mil a vigilância da entrada de imigrantes, sobretudo vindos do Oriente Médio.
Não somente a linda e elegante Paris, mas a França na sua inteireza territorial. Sua liberdade, sua fraternidade, sua igualdade já não podem ser praticadas tanto em tempos de terrorismo, de insegurança e de explosões. Tudo tem limites, É hora de cuidarmos mais das suas ruas, praças, monumentos, museus, enfim, de todos os lugares, tanto no centro, quanto nos banlieues.
Paris não é uma festa. Os bárbaros não a podem invadir nem a podem deixar assim, em estado de melancolia, de incerteza, de tensão, de um metróple à mercê de sanguinários .
Cada vez mais me convenço de que a política de imigração tem quer ser cautelosa, criteriosa, da mesma forma que para os franceses natos deve haver vigilância nos limites da lei, a fim de separarmos o trigo do joio, quer dizer, deve-se estar atento àqueles franceses que deixam seu país para se aliarem a terroristas.
Há alguma coisa errada com o sentimento de patriotismo francês, que não estou entendendo, mas que, repito, muito está conexionada a uma formação cultural frouxa e permissiva. Isso tem a ver, de alguma maneira, com a questão de entrada de outros povos, etnias, não querendo se afirmar aqui que o país se feche a refugiados, a imigrantes ou se torne presa de xenofobia. Longe disso.
Há que repensar profundamente essa questão de melting pot. Nos Estados Unidos surgiram alguns problemas que ainda preocupam o modus vivendi americano.Haja vista às ondas recorrentes de preconceitos raciais com mortes de negros inocentes assassinados por policiais brancos, que não aprenderam ainda as lições de Martin Luther King (1929-1968) infelizmente, e num segundo mandato de um presidente negro e ainda por cima um ganhador do Nobel da Paz.
Isso é grave. No Brasil, idem, pois não podemos assegurar que aqui estamos vivendo uma democracia racial. Há ainda grandes entraves implícitos, nós não desatados em benefício de uma vida civilizada e democrática do ponto de vista étnico-cultural-religioso.
Num mundo globalizado,virtualmente interligado, alguns prováveis conflitos surgem com essa nova realidade pós-moderna de deslocamentos mais rápidos e contínuos entre povos e civilizações diferentes.
Há algo errado que está acontecendo com a formação da cidadania francesa, com a educação dos franceses que não pode ser relegada a plano secundário a ponto de jovens franceses se bandearem para grupos terroristas que confundem religião mal assimilada com o islamismo professado para o bem. Esse ensinamento desvirtuado das fontes genuínas do islamismo não pode ser digerido pela mentalidade pela juventude francesa.
O massacre no Bataclan em Paris é fruto desse desvirtuamento. Se planos terroristas são arquitetados dentro de Paris ou fora do país é porque os terroristas têm conhecimento de lugares-alvos de sua carnificinas.
O que não se pode tolerar é que jovens que estão se divertindo, como é próprio da sua idade, sejam alvos de ataques macabros, sem sentido, sem justificativa.
É hora de o governo francês e de outras nações que combatem o terrorismo do anárquico Estado Islâmico e de outros grupos terroristas repensarem formas de conterem esses atentados no Ocidente europeu.
Até agora, não vi nenhum pronunciamento por parte da ONU e do seu Conselho de Segurança. Não adianta lamentar o que ocorreu
Por que um bando de sanguinários, formados de fanáticos religiosos, de assassinos a sangue frio não foram ainda debelados, quando hoje dispomos de sofisticados equipamentos bélicos?
A França mais uma vez subestimou a ousadia dos terroristas.Isso é suficiente para dar-se uma basta a essa iniquidades praticada contra a “humanidade,” como assim definiu o Presidente Barack Obama. O Ocidente não pode permanecer refém de potenciais ataques terroristas.
Paris não é uma festa. Precisa de todos aqueles que, um dia, a visitaram e se deslumbraram para sempre com a sua beleza física e sobretudo cultural. Paris é de nós todos e, por amarmos a cultura francesa, estamos enlutados e prontos a defender a Cidade-Luz. Com os franceses nos solidarizamos pinçando essa legenda que eu vi na tevê numa camiseta de uma jovem francesa: “Je suis Paris.”