[Cunha   e Silva Filho]

          Mexer com Paris  é como  ferir  um botão de rosa. Ninguém deveria  machucar  essa Cidade-Luz, encanto  de todos os povos que amam  a cultura, os museus, as artes,  suas célebres universidades,  o cinema, a história, a língua e a literatura francesa, sua civilização,  “ a vitrine do mundo,”   segundo a denominou, se não me engano, o crítico e historiador  literário  Afrânio Coutinho (2011-2000.).

    Montesquieu (1689-1755))  uma vez  num texto afirmou que  os parisienses  são “de uma curiosidade que vai à extravagância.” Como fica essa curiosidade agora que a bela cidade de  um país de grandes escritores, tais como Victor Hugo (1802-1885), Lamartine (1790-1820), Proust (1871-1922), Mallarmé ( 1842-1898), não está precisando   dessa peculiaridade  coletiva  do espírito  parisiense,  visto que o terror  que a abateu  não deixa espaço para a curiosidade saudável, mas  para a apreensão, a tristeza, o luto, a rosa ferida, a nação  despedaçada  pela tragédia  - fruto da ignomínia  de  bárbaros saídos   dos confins   das trevas para virem   cobrir de sangue inocente  a cidade amada dos  escritores, dos  filósofos, dos intelectuais, dos estudiosos,  dos  estudantes,  dos turistas do mundo inteiro que a procuram  por ela ser  a metrópole mais  visitada  do mundo.

     Paris não é uma festa. Com dois massacres pusilânimes num só ano e, anteriormente,  com um histórico de atentados,  se tornou uma cidade   que merece, sob todos os aspectos ligados à segurança,  ser  mais bem preservada  pelas  autoridades federais  que devem, urgentemente,   aumentar  por mil   a vigilância  da entrada de  imigrantes, sobretudo  vindos  do Oriente Médio.

    Não somente   a linda e  elegante  Paris, mas a França na sua inteireza territorial. Sua liberdade, sua fraternidade,  sua igualdade  já não podem ser praticadas  tanto em  tempos  de terrorismo,  de insegurança   e de explosões. Tudo tem limites,  É hora de cuidarmos  mais  das suas ruas, praças,  monumentos,  museus,  enfim,  de todos os lugares, tanto no centro, quanto nos  banlieues.

    Paris não é uma festa.  Os bárbaros não a podem  invadir nem a podem  deixar  assim,  em estado  de  melancolia,  de incerteza,   de tensão, de um   metróple  à mercê de  sanguinários .

    Cada vez mais me convenço  de que  a política de imigração  tem  quer  ser cautelosa, criteriosa, da mesma forma que  para os franceses  natos  deve haver  vigilância nos limites da lei,  a fim de  separarmos o trigo do joio,  quer dizer, deve-se estar atento àqueles franceses  que deixam seu país para se aliarem  a terroristas.

    Há alguma coisa errada com o sentimento de patriotismo  francês, que não estou  entendendo,  mas que,  repito,  muito está  conexionada a uma formação  cultural frouxa e permissiva. Isso tem a ver, de alguma  maneira,  com  a questão  de entrada  de  outros povos, etnias,  não  querendo se afirmar aqui que  o país se feche   a refugiados, a imigrantes ou  se torne   presa de xenofobia. Longe disso.

     Há que  repensar  profundamente essa questão   de melting  pot. Nos Estados Unidos  surgiram  alguns  problemas que ainda preocupam o modus vivendi americano.Haja vista às ondas recorrentes de  preconceitos   raciais com mortes de negros inocentes  assassinados por policiais  brancos, que não aprenderam  ainda   as lições de Martin  Luther  King (1929-1968) infelizmente, e num segundo mandato   de um  presidente   negro e ainda por cima  um  ganhador do Nobel  da Paz.

   Isso é grave.  No Brasil,  idem, pois não podemos   assegurar que aqui  estamos  vivendo uma democracia  racial. Há ainda grandes entraves  implícitos, nós não  desatados  em benefício de uma   vida civilizada  e democrática do ponto de vista   étnico-cultural-religioso.

 Num  mundo globalizado,virtualmente   interligado,   alguns  prováveis conflitos   surgem  com  essa nova realidade  pós-moderna de deslocamentos  mais  rápidos e contínuos entre  povos  e civilizações diferentes.  

 Há algo  errado que está acontecendo com a formação da cidadania francesa, com a educação  dos franceses que não pode ser relegada a plano secundário a ponto de   jovens franceses  se bandearem  para  grupos  terroristas que confundem religião mal assimilada com  o islamismo professado para o bem. Esse ensinamento   desvirtuado  das fontes genuínas  do islamismo  não pode ser  digerido  pela mentalidade pela juventude francesa.

 O massacre no Bataclan em Paris é fruto desse desvirtuamento. Se planos terroristas são arquitetados dentro  de Paris ou fora do país é porque  os terroristas  têm  conhecimento  de lugares-alvos de sua  carnificinas.

  O que não se pode tolerar é que jovens  que estão se divertindo, como é próprio  da sua idade,  sejam   alvos  de ataques   macabros,    sem sentido,   sem justificativa.

     É hora de o governo francês e de outras nações que combatem  o terrorismo do anárquico Estado Islâmico e de outros grupos  terroristas  repensarem    formas de   conterem esses atentados no Ocidente  europeu.

   Até agora, não vi nenhum pronunciamento  por parte da ONU e do seu Conselho de Segurança. Não adianta  lamentar o que ocorreu em Paris. Urge  planejar formas de   dissuadir  novos atentados com firmeza  e  inteligência. Na Segunda Guerra Mundial não  conseguimos  conter  as forças  inimigas do nazifascismo?

    Por que um  bando  de  sanguinários,  formados  de  fanáticos  religiosos, de assassinos a sangue  frio não foram ainda debelados, quando  hoje  dispomos  de sofisticados   equipamentos  bélicos?

    A França mais uma vez   subestimou a ousadia  dos  terroristas.Isso é suficiente para  dar-se  uma basta   a essa iniquidades praticada contra a “humanidade,” como  assim definiu o Presidente Barack Obama.  O Ocidente não pode  permanecer refém  de potenciais   ataques terroristas.

     Paris não é uma festa. Precisa de todos aqueles  que, um dia,   a visitaram  e se  deslumbraram  para sempre com  a sua beleza  física e sobretudo  cultural.  Paris é de nós todos e, por amarmos a cultura francesa, estamos enlutados e prontos a defender a Cidade-Luz. Com os franceses nos solidarizamos  pinçando essa legenda  que eu  vi na tevê numa camiseta de uma jovem  francesa: “Je suis  Paris.”