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PARIS
Rogel Samuel
Paris não é uma estranha e contraditória cidade? Primeiro pelo 
Camambert que se come por 2,85 euros, quase 9 reais. Caro? Sim, mas
necessário. Segundo, pela bagette quentinha, que também temos no Rio
e com a mesma qualidade. Pelas livrarias, sempre interessantes e
numerosas. Agora caras. Tudo é caro em Paris, para nós, pobres
mortais brasileiros. Por isso não ficamos tanto tempo como
pretendíamos. Nada tão triste do que estar sem dinheiro em Paris.
Paris é a sede do capitalismo (arcaico, certamente, mas vivo). Não
surpreende que a direita vença. É bem comer, bem beber, bem ler, e
ter bons concertos à mão - mas nada disso custa caro. Caro é hotel,
mesmo as espeluncas sujas a 65 euros o pernoite. Ficar no subúrbio
nem pensar. O metrô de Paris me deprime: soturno. Há mais mendigos do
que nunca, no império da direita francesa. A direita avança em toda a
Europa. Os europeus pensam que seus problemas econômicos atuais se
devem aos socialistas. Acham que a direita sabe melhor lidar com a
economia. O europeu médio é burro, infelizmente. Ou ficou. O europeu
médio está cada vez mais individualista. Minha amiga X, na casa de
quem fiquei por algum tempo, mulher culta, inteligente, não leu
jornais nem um dia. Não votou, e não gosta "de política". A televisão
francesa dá pena, melhor é o Ratinho. Foi-se o tempo em que a cultura
do europeu médio era muito superior a de um brasileiro. Até que eles
podem nos olhar de cima, mas há uma grande massificação, um
alastramento da cultura de massa, da cultura de superfície. De salão.
Todo europeu gosta de mostrar-se lido, culto, orgulha-se de ter tido
boa educação, de ler muito. Mas agora, se você cutuca por baixo,
passa ver que é prosa fiada, que é mais cultura de massa. Até eu, que
não me considero grande coisa, pude ver isso.