Dílson Lages em entrevista à Eulália Teixeira
Dílson Lages em entrevista à Eulália Teixeira

DA REDAÇÃO DE ENTRETEXTOS

Papiro conversa. Esse é o título do programa produzido e apresentado pela jornalista e escritora Eulália Teixeira na Tv Web Nestante. Em uma das edições de abril de 2021, o convidado foi o professor e editor de Entretextos Dílson Lages.

Ele conversou inicialmente sobre o novo trabalho que está disponível para aquisição na Editora e Livraria Nova aliança e, também, na web. Ele explicou o que dá sustentação a “O Pássaro Amarelo de Sol e o Agasalho do Vento". Disse que a nova obra, do ponto de vista da expressão, é uma tentativa de criar alguns efeitos de sentidos agradáveis à criança, pela inserção do cinematográfico e pelo apelo a imagens e ao poético.

Na nova obra, todo o enredo se constrói a partir do diálogo entre um bem-te-vi e um prédio. No conto infantil, o autor diz que o sentido da leitura é construído para gerar reflexões sobre o significado da cidade e sobre a condição humana (há muitas formulações geradas para a criança internalizar perguntas sobre o mundo das aparências). O lúdico foi, segundo ele, bastante valorizado, por charadas ou omissões que buscam inserir a criança na narrativa pelas hipóteses que as muitas perguntas do texto geram no pensamento da criança.

Na entrevista à Nestante, Dílson Lages  ressaltou que seu ponto de partida é sempre uma metáfora. “Parto sempre de alguma associação”, enfatiza, dizendo que sempre lê e estuda regularmente poesia. “Temos que alcançar, ao produzir literatura, a esfera das percepções, que é, em minha visão, o que há de mais valoroso na arte”, diz, comentando que sua literatura vai para além da preocupação com a narrativa em si, pondo a linguagem em primeiro plano.

“Interessa-me todo tipo de associações que se cria com aquilo que se conta”, afirma,  ressaltando que o modo como se diz é o que realmente importa, ainda que a literatura  mexa com memórias, remete, principalmente, às formas de representação para além do mundo físico, rompendo as barreiras do tempo e do espaço.

O autor aproveitou para comentar alguns de seus livros. Destacou, principalmente, a novela “O morro da casa-grande”, que disse tratar-se de obra muito apreciada afetivamente por ele como leitor de si. Justificou o afeto pelo livro mencionando o lugar da infância, do tempo e da natureza na novela e nos livros juvenis de sua autoria. “Essa obra, para além do seu tema principal, projeta um olhar para uma infância diferente da que a criança de hoje conhece”, disse.

O autor antecipou-se para falar da novela que está reescrevendo, sem prazo para publicação ainda, A Construção dos Alagados. Nessa obra, constrói um olhar para o preconceito social e para como pequenas comunidades se relacionam com os rios. A cidade natal, por meio de históricas enchentes, é o mote para essa ficção, com a qual encerra a trilogia de novelas sobre o lugar de nascimento.  “O ser humano é único em seus defeitos, único em suas virtudes e somos apenas a repetição de outras histórias, por isso, a literatura tem que gerar reflexões sobre a condição humana”, finaliza.

Perguntado se o tempo é o grande tema  de suas obras, Dilson Lages recorreu ao capítulo final da novela Capoeira de Espinhos. Chamou a atenção para o relógio quebrado no último capítulo dessa obra, como metáfora para a desesperança, mas diz que seu tempo é o da memória: “Por mais que tentemos domar o tempo, ele pertence ao tempo que é o de todos os tempos, o tempo do viver, que não é linear, nós é que o tornamos linear pela necessidade de uma vida produtiva, do trabalho, do capital, sendo muitas vezes um elemento opressor, até pela ideia de que temos um tempo útil e de que feneceremos”, explicou, destacando que “ Ainda que isso nos provoque, o tempo também é determinado pelo nosso anseio de viver o que já vivemos, mais ainda, pelos anseios do que há de vir e pela presentificação dos episódios, fazendo com que transitemos de uma dimensão física para outra, e isso vai perpassando em tudo que escrevo”.

Dílson Lages contou, por fim, a importância de narrativas religiosas e da tradição oral em sua formação de leitor. Disse que, mais do que livros, a sua infância foi tomada pelo humanismo da formação religiosa e dos causos e lendas contados no mundo rural e na porta das casas das pequenas cidades, mesmo diante da possibilidade de ter lido os irmãos Grimm em criança. Contou que a partir dos 15 anos é que descobriria o sentido da literatura e, principalmente, despertaria para o prazer de ler a literatura regional de 1930, principalmente, Graciliano Ramos. Falando sobre o sentido das leituras que realiza, arremata: “Procuro ver cada livro na sua individualidade, sem comparar escritores, mas vendo o livro na sua capacidade única de ser único”.

Assista à entrevista na íntegra:

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