Palestra sobre Ariano encerra Fliporto 2014
Em: 17/11/2014, às 06H19
O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna era um verdadeiro apaixonado pelo Brasil. O sentimento de Suassuna por seu país, refletida em sua obra, foi um dos temas da palestra do escritor pernambucano Raimundo Carrero, que faz o encerramento da Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), em Olinda, neste domingo (16). A relação de amizade entre os dois permeou os depoimentos e recordações do escritor, que fez parte do Movimento Armorial.
Segundo Carrero, o projeto de Ariano Suassuna não era um literário ou teatral. O escritor levar para suas obras suas crenças e valores, sua vida, enfim, buscando sempre a simplicidade acima de tudo. “O projeto foi forjado não a custa da mera intelectualidade, mas da família dele. Ele olhava o Brasil e via grandes irmãos, irmãs e parentes. Vocês sabem o calor humano de Ariano”, relembra Carrero.
O assassinato do pai, João Suassuna, no Rio de Janeiro, é um dos grandes marcos na vida de Ariano, assim como os tios, Joaquim e Manoel, os primeiros a levá-lo para as cantorias em Taperoá, na Paraíba. Os diálogos da família aparecem travestidos nessa obra. “Os tios foram pessoas que influenciaram definitivamente a obra de Ariano. A obra foi e é um grande diálogo entre o pai, os tios e ele. A primeira peça levada à cena, ‘Uma Mulher vestida de sol’, que não é outra que não Nossa Senhora, que traz a marca da presença feminina na obra de Ariano”, aponta.
Zélia Suassuna, esposa de Ariano, naturalmente também influenciou o marido. A presença dela deu mais mais leveza à obra dele. "Mais tarde, na transição para o efusivo, para o cômico, para o salutar, a presença de dona Zélia é fudamental", resume.
Essa relação com a família e a religião vem do berço familiar. As transições visíveis nos escritos de Ariano são influência direta da vida pessoal, que extrapolava a família de sangue e chegava aos amigos, por quem ele ‘sofria enormemente’. “A gente corria légua para Ariano não saber [dos problemas], não porque não pudesse saber, mas era uma ofensa a ele”, conta.
Outro centro da formação do pensamento de Ariano Suassuna foi a faculdade de direito. “Lá, ele encontra seu verdadeiro destino literário e cultural. Junto com os amigos, ele funda o Teatro de Estudantes. Foi Hermilo que trouxe para o grupo a presença de Federico García Lorca [escritor espanhol que influencia diretamente a obra de Ariano]”, aponta.
Tendo feito parte do Movimento Armorial, Carrero fez questão de destacar as diferenças do regionalismo, ao qual o estilo muitas vezes foi comparado. “O caminho de Ariano nunca foi regionalismo. O Armorial é um movimento de símbolos, metáforas. O próprio Gilberto Freyre dizia que era preciso ressaltar um certo modo de andar, um certo jeito de comer, para copiar. O Movimento Armorial recria. O centro do pensamento de Ariano é claro que é o povo brasileiro, só que não copista, mas sim recriador, metafórico”, detalha.
O folheto de cordel era a raiz mais imediata do Movimento Armorial para Carrero. “Se vocês observam bem, o folheto de cordel está muito ligado à literatura da Antiguidade”, aponta, reiterando que, assim como o cordel, o Armorial recria a realidade. “Nós vemos em Ariano a reinvenção do Brasil através da estética”, finaliza.
Fonte:g1.globo.com/pernambuco