Pai, apenas

Há o pai concessivo, o agressivo, o passivo, o permissivo, o expansivo, o constritivo, o construtivo. Existe o repulsivo ou o destrutivo?  Pode ser que haja, mas pai não é.
 Eterno benfeitor.  Temos, ainda, o gozador, o falador, o jogador, o galanteador, o vibrador, o “sofredor”, o “tricolor”, o torcedor; o pai doutor, o professor, o servidor, o “ditador”, o cantor.  E o agressor? Deve haver, mas pai não é.
 Conhecemos o pai galante, o falante, o elegante, o estonteante, o vibrante e o ignorante.  Se existe o repugnante, pai não é.
 Existe o pai legal, o liberal, o informal, o formal, o teatral, o “real”.  Há também o desleal?  Quem sabe, mas pai não é.
 Há o pai consciente, o inteligente, o condescendente, o complacente, o intransigente, o diferente, o exigente, o obediente, o reticente, o “expoente”, o muito gente, o pai que é quente, o displicente.  Existe o negligente? Esse, certamente, pai ainda não é.
 É verdade.  Pai é o que procura ver o que é preciso ter o filho para ser feliz.  É o homem que vai à luta diária, à labuta, pega duro na batuta, se estatela, apela, se preciso for, para a força bruta, mas não deixa barato qualquer disputa.
 É o cidadão valoroso, caloroso, teimoso, ardiloso, mas que entra num nervosismo tal se seu lar se esfacela ou se desmantela geral.
 Briga com tudo e  todos; não deixa barato, vai com fé em Deus e no tato se, de fato, o assunto exige um outro trato.
 Entra de cabeça na vida, vai em bola dividida; corre atrás, quer sempre mais; é capaz de partir para o esfola se em sua prole entrarem de sola.
 É um cara bom, até generoso; maravilhoso, mas que vira um cão raivoso se lhe põem à prova seu real valor.  Não admite protelação: é avesso a alegação banal, coisa e tal; tem sempre o desejo de ver de sobejo resolvida a pendência.  Perde a paciência, a clarividência ou a inocência se, por um motivo irreal, seus filhos queridos forem preteridos ou passarem mal.  Torna-se um animal.  Irracional.  Um simples e reles mortal.
 Não lhe importam muito grandes badalações, comemorações folgadas, badulaques ou salamaleques.  Prefere a realidade dura, a qual tira de letra.  Detesta mutreta o pai  verdadeiro, inteiro, companheiro.
 Vive vida mansa; às vezes,  cansa; descansa; entra na dança do momento, ao sabor do vento; não quer  o sofrimento como acompanhante de seus instantes de prazer.  Precisa ver, necessita ter, como um ser normal, a doce ilusão ou a verdade pura de que é uma das criaturas que o Pai das alturas colocou no mundo para dar o testemunho do amor divino que Ele tem por nós.
 Vá em frente, Pai.  Esse é seu destino.  Procure fazer com que os rebentos amados sejam abençoados e será lembrado como alguém de fibra, que não foge à luta e nem vira as costas para um bom combate.  
    Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal e escritor piauiense
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