Pai, apenas
Por Antônio Francisco Sousa Em: 06/08/2007, às 11H58
Há o pai concessivo, o agressivo, o passivo, o permissivo, o expansivo, o constritivo, o construtivo. Existe o repulsivo ou o destrutivo? Pode ser que haja, mas pai não é.
Eterno benfeitor. Temos, ainda, o gozador, o falador, o jogador, o galanteador, o vibrador, o “sofredor”, o “tricolor”, o torcedor; o pai doutor, o professor, o servidor, o “ditador”, o cantor. E o agressor? Deve haver, mas pai não é.
Conhecemos o pai galante, o falante, o elegante, o estonteante, o vibrante e o ignorante. Se existe o repugnante, pai não é.
Existe o pai legal, o liberal, o informal, o formal, o teatral, o “real”. Há também o desleal? Quem sabe, mas pai não é.
Há o pai consciente, o inteligente, o condescendente, o complacente, o intransigente, o diferente, o exigente, o obediente, o reticente, o “expoente”, o muito gente, o pai que é quente, o displicente. Existe o negligente? Esse, certamente, pai ainda não é.
É verdade. Pai é o que procura ver o que é preciso ter o filho para ser feliz. É o homem que vai à luta diária, à labuta, pega duro na batuta, se estatela, apela, se preciso for, para a força bruta, mas não deixa barato qualquer disputa.
É o cidadão valoroso, caloroso, teimoso, ardiloso, mas que entra num nervosismo tal se seu lar se esfacela ou se desmantela geral.
Briga com tudo e todos; não deixa barato, vai com fé em Deus e no tato se, de fato, o assunto exige um outro trato.
Entra de cabeça na vida, vai em bola dividida; corre atrás, quer sempre mais; é capaz de partir para o esfola se em sua prole entrarem de sola.
É um cara bom, até generoso; maravilhoso, mas que vira um cão raivoso se lhe põem à prova seu real valor. Não admite protelação: é avesso a alegação banal, coisa e tal; tem sempre o desejo de ver de sobejo resolvida a pendência. Perde a paciência, a clarividência ou a inocência se, por um motivo irreal, seus filhos queridos forem preteridos ou passarem mal. Torna-se um animal. Irracional. Um simples e reles mortal.
Não lhe importam muito grandes badalações, comemorações folgadas, badulaques ou salamaleques. Prefere a realidade dura, a qual tira de letra. Detesta mutreta o pai verdadeiro, inteiro, companheiro.
Vive vida mansa; às vezes, cansa; descansa; entra na dança do momento, ao sabor do vento; não quer o sofrimento como acompanhante de seus instantes de prazer. Precisa ver, necessita ter, como um ser normal, a doce ilusão ou a verdade pura de que é uma das criaturas que o Pai das alturas colocou no mundo para dar o testemunho do amor divino que Ele tem por nós.
Vá em frente, Pai. Esse é seu destino. Procure fazer com que os rebentos amados sejam abençoados e será lembrado como alguém de fibra, que não foge à luta e nem vira as costas para um bom combate.
Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal e escritor piauiense
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