Os sinos de papel

Rogel Samuel


"sinos de papel" é o título do livro de haicais de Jorge Tufic e poucos poetas em nossa língua foram capazes de dar o tom, de criar a atmosfera misteriosa de um haicai japonês.

Começa que, na poesia japonesa, a espacialidade importa, o poema não difere do quadro, da gravura, da caligrafia.

Além disso, o poeta de hauku era também um mestre zen, ou seja, o qualificado iogue na arte do vazio mental concentrado que é o zen.

Como escrevi, em outro lugar:

Há uma expressão de Zen que diz: “um espelho de boas qualidades é tão puro como a água que deixou de correr”. Isto, diz Takuzo Igarashi, representa o estado de mente em que se encontra o espírito do Zen, quando toca as coisas se refletem na “sabedoria que é como o espelho”, tão simples e tão claras, que é quando aparecem na água pura de um céu sem nuvens. O céu não está na água, nem a água está coberta de céu. A água pode estar correndo lentamente, de acordo com outra expressão do Zen: “um movimento em tranqüilidade”. Pode-se dizer que o Haicai é espelho da mente do poeta.

Tufic compôs alguns dos mais legítimos haicais em português:

oculto no dom
de não ser ninguém
o grilo é som...

pétalas de mim
cultivo num jarro velho
que já foi jardim

em tantra medito
o saber é uma pedra
a mulher, o seu grito

ah, delicadeza
a mosca, senhora tosca
baila sobre a mesa