Os Estados Unidos precisam de um novo Martin Luther King, sem sangue
Por Cunha e Silva Filho Em: 26/11/2014, às 11H58
Cunha e Silva Filho
Desde os esforços de Martin Luther King (1929-1989), nos anos de 1960, o maior líder negro da história norte-americana, com a sua luta, com a sua oratória convincente, carismática e portentosa, a favor dos direitos civis, sobretudo dos negros, que eram tratados como gente de segunda classe, a pátria de Lincoln precisa reavaliar de forma urgente o que se poderá fazer, nos poderes Executivo Legislativo e Judiciário para melhorar a situação ainda presente, que é injusta e discriminatória contra os negros no país. Sabemos que a morte de MLK não foi
Seria conveniente reler os seus escritos, os seus discursos, o seu ideário a fim de que possamos, em tempos atuais levar adiante o que ele conquistou para o bem do povo americano. Seu famoso pronunciamento “I have a dream,” serve como excelente material para reflexão sobre o tema do racismo e dos direitos de cidadania não só do povo americano mas de qualquer povo que aspire a alcançar os inalienáveis direitos civis em situação de igualdade, ou seja, sem nenhuma pretensão de daquela ideia absurda de “iguais tratados como desiguais,” tão .comum em alguns países, inclusive o Brasil.
Os confrontos decorrentes de crimes de policiais americanos brancos contra negros e pobres, sendo exemplos os de 1989, 1992, 2012 e, agora, 2014, constituem caso flagrantes da ainda frágil posição em que se situao homem negro americano, sobretudo adolescentes.
Ora, quem há de acreditar nas afirmações de policiais brancos que, respondendo a perguntas da imprensa, confessam que teriam agido da mesma forma se a vítima fosse um branco? Como explicar o fato de que o policial atire não sei quantas vezes contra alguém que está desarmado? O policial já tem um treinamento de um candidato cujo perfil geralmente seja o de prontidão à violência e, no caso de ser um policial mal treinado e desequilibrado, essa predisposição ainda é bem maior, tanto no Estados Unidos quanto em qualquer parte do mundo. Pessoas pacíficas em geral não procuram a carreira de policial.
O cinema americano mostra essa faceta de alguns policiais, quer dizer, o seu lado violento, agressivo, sem falar da dimensão corrupta de alguns. Qualquer pessoa bem informada, sabe que, no cinema, na literatura, no teatro, nas novelas, o bad side de parte da polícia não é mera coincidência. Mas relatos fictícios fundamentados na realidade empírica.
O Presidente Obama, ele mesmo detentor de um Nobel de Paz, não pode ser leniente quanto aos acontecimentos de natureza racista que estão ocorrendo nos EUA. Não é preciso apenas de “calma” para aquietar os ânimos exaltados dos afro-americanos diante da injustiça do homem branco.
Compete ao líder americano, que é negro, ter uma posição mais firme e corajosa concentrando seu prestígio junto à comunidade negra no sentido de provocar mudanças nas leis americanas levando em conta pontos cruciais dos quais apontaria primeiro, humanizar o treinamento de seus policiais tornando-os não inimigos entre os negros, mas pessoas mais sensibilizadas e mais equilibradas diante de situações de conflito, usando a arma de fogo só em última instância.
Segundo, fazer pesada campanha publicitária de pacificação dos ânimos entre negros e brancos para que os dois lados se tornem indivíduos e cidadãos ligados por um sentido de fraternidade, de respeito recíproco pelas diferenças meramente epidérmicas.
Finalmente, urge que os EUA invistam na melhoria das condições do negro americano, reduzindo as situações de abandono, de miséria, de falta de habitação adequada, de aperfeiçoamento de suas escolas públicas, preparando os seus jovens a um acesso melhor nos estudos e na possibilidade de um emprego decente ou de ingresso em boas universidades.
Ao realizarem essa melhoras de cunho social, de cidadania, evitar-se-ão mortes covarde da população negra e, em com sequência, impedirão os confrontos perigosos multirraciais que, se alastrando, só têm a dar prejuízos à nação americana, acumulando desnecessariamente perdas materiais e principalmente humanas. .
Que não se deixe de relembrar as lições de paz e de união conclamadas por MLK que ainda ecoam nos espíritos do nobre povo americano. Não são elas palavras ocas de um líder populista, mas de um pensador que conquistou novas leis contra a segregação dos negros americanos, leis de direitos civis e de possibilidade de os negros poderem ter direito ao voto e de se tornarem, assim, cidadão americano. Essas vitórias conquistadas não podem se perder; elas foram conseguidas graças ao combate constante de Luther King desde os meados dos anos de 1950. O seu assassinato, em 1968, é prova incontestável de sua luta corajosa e sobretudo do seu nível de reação contra a discriminação racial nos EUA.