Cunha e Silva Filho

 

                      Não bastassem as imoralidades do governo federal apontadas pelo clamor das manifestações das ruas, os homens do poder atual ainda teimam e insistem em atos ilegais e danosos ao Erário Público, como foram os dois recentíssimos incidentes implicando os presidentes da Câmara e do Senado viajando de graça em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para fins particulares e, portanto, alheios às atribuições de seus cargos. Um e outro ainda tentaram justificar-se diante da imprensa sobre possíveis direitos que tinham por força do exercício de suas funções, porém logo se deram conta de que estavam errados e procuraram ressarcir os cofres públicos no valor dos gastos feitos. 

                       Os homens do poder, não satisfeitos com o que de errado vêm praticando ao arrepio da lei, em outro setor do governo, o Tribunal de Contas da União (TCU), órgão que deveria dar o exemplo de lisura na fiscalização dos gastos públicos, surge como atores também envolvidos em abusos de gastança de marajás e mordomias em benefício próprio, concedendo-se recebimentos de quantias destinadas - pasme, leitor! – "a auxílio-alimentação" (sic!), além de diferenças salariais retroativas, totalizando milhões de reais para atenderem a todos os membros e servidores do órgão,ativos e inativos.

                      Ora, os membros do TCU já ganham altos salários para trabalharem pela fiscalização do dinheiros gasto pelo governo federal. Não são barnabés que ganham migalhas e, aí sim, necessitariam de auxílio-alimentação. Não eles, membros do TCU, ativos e aposentados. O pior é que foi com verba destinada à fiscalização que deslocaram para se darem aumentos e benefícios pecuniários de marajás. Agora, pergunto: como, então, se pode confiar em homens que ali estão para serem os guardiões das contas públicas se eles mesmos procedem desta maneira?

                     Outros servidores da União, em diversos setores, quando solicitam retificação de erros de níveis salariais a que têm direito, com muito custo conseguem – quando o conseguem - terem retificados seus vencimentos de direito e de fato. Os processos demoram em serem solucionados e bem assim os atrasados correspondentes, ao passo que os privilegiados membros do TCU resolvem tudo de seus interesses intramuros e com rapidez de solução. Desta forma, como não gritar nas ruas por justiça social, por melhorias de vida e por um país que não tem interesse político de eliminar ou minimizar a corrupção em vários segmentos da máquina do Estado?

                   A não eliminação de regalias é um forma de crime sem punição. Ipso facto, cá embaixo, o mundo dos mortais da criminalidade e da violência, que grassam soltas pelo país todo, não deixa de ser reflexo do cinismo de nossa política e de nossas instituições públicas e privadas. Quando nos falecem modelos de ética e de moralidade da parte da superestrutura, quando o poder público está contaminado pelo vírus da indecência, da imoralidade, da arrogância e do cinismo deslavado, não podemos esperar, fora dos governos, um povo que se orgulhede sua pátria, de sua identidade e de suas potencialidades nos diversos campos da atividade humana.

                  O cinismo, a indiferença e o desprezo pelos anseios justos da população são fatores geradores de autoritarismo e de prepotência - um caminho fácil para a instalação das ditaduras e dos regimes discricionários que voltam as costas para a sociedade e para os direitos de cidadania.

                  Sei que não foram vãos os gritos nas ruas da população brasileira, sobretudo dos jovens que se sentem espezinhados nos seus direitos e nos seus desejos de bem-estar e de verem um país cujo governo trabalhe efetivamente para propiciar ao povo as reivindicações básicas e inadiáveis :nos setores da educação, do transporte, da saúde, da segurança e de outros domínios da vida pública e privada.

                 Um governo que atenda a esses objetivos terá sucesso e apoio irrestrito da sociedade. Há muito tempo - nem mesmo sei se já o tivemos alguma vez - não temos no país um governo, no âmbito federal, estadual e municipal, que se enquadre na concretização dessas exigências e direitos fundamentais do povo brasileiro.