Os americanos não dão exemplo, nem nós
Por Cunha e Silva Filho Em: 13/07/2008, às 15H51
Cunha e Silva Filho
O professor de história da Universidade de San Diego, o americano Kenneth Serbin, em artigo do Caderno Mais da Folha de São Paulo, de 13/07/2008, faz uma severa crítica ao comportamento atual dos americanos. Durante uma apresentação de um concerto de rock ao ar livre de Sting e do seu grupo The Police, a que compareceu com a mulher, reprovou a atitude, não de jovens adolescentes, o que até poderia ser perdoável, mas de adultos na faixa - pasmem! - dos 40 a 60 anos, ou seja, de gente que podia ser pai e avô e mesmo bisavô. Gente essa que desrespeitava o ambiente do espetáculo, o direito de outras pessoas que ali estavam para fruir o show como fãs do Sting.
Sem nenhum vexame do público presente, descaradamente fumavam maconha e, em pé, impediam a visão de quem estava sentado pouco se importando se estavam incomodando quem quer que fosse. Pelo regulamento do show, não seria permitido que pessoas levassem cadeiras para o gramado, mas terminaram permitindo desde que ficassem inclinadas para não prejudicarem a visão das outras pessoas. Acontece, porém, que algumas pessoas que chegaram depois, impediam quem estava sentado de ver o show. Os seguranças nada fizeram para coibir esses mal-educados.
O articulista aproveita o ocorrido para dirigir uma contundente crítica à moral doa sociedade americana, sobretudo no que concerne à sua natureza individualista, colocando seus interesses hedonistas acima do bem-estar dos outros e mesmo de outros povos.
O articulista com veemência ataca a sociedade americanos que, com seus enormes carros bebedores de álcool, pouco se lixam para quem não tem poder de comprano país ou no exterior. Seu artigo tem o firme sentido de advertência aos cidadãos americanos a fim de que mudem sua visão egocêntrica e insolidária e procurem, ao contrário, encontrar um caminho de comunhão entre si e com o resto do mundo.
Os jovens dos anos 60 com toda a sua garra para liberação dos instintos não podem ter dado bons exemplos de uma existência saudável e de uma convivência pautada no respeito aos outros. Se eles chegaram até aqui, os frutos do presente foram plantados por jovens daquela época que, por seu comportamento, luta e determinação, conseguiram alguma forma de hoje se mostrar eticamente corretos e responsáveis. Segundo Kenneth Servin, uma sociedade que exibe um comportamento e um estilo de vida desse tipo “encerra uma séria ameaça à sua segurança interna.”
O professor americano aponta uma contradição dos órgãos de repressão ao tráfico de drogas, que é a de empreender um dispendiosa operação contra as drogas fora das fronteiras dos EUA e, absurdamente, são tolerantes e negligentes com o uso e o consumo interno pelos americanos de toda sorte de drogas ilícitas.
A razão dessa leniência da polícia americana está em que, por motivos econômicos (leia-se poder capitalista) , fazem vista grossa sempre que a repressão interna envolva lucros que poderiam perder organizadores de shows ou de qualquer tipo de atividade organizacional.
O articulista traz para a sua contestação aquele incidente em que, numa blitz realizada n a Universidade Estadual de San Diego, a polícia constatou vários tipos de substâncias ilegais disponíveis ao consumo, cujo desfecho redundaria em duas mortes de estudantes.. Entretanto, argumenta o professor americano, o governo não dá combate cerrado no país à organizações criminosas do tráfico de drogas, essas sim, responsáveis diretas pela expansão da venda aos usuários, o que faz o país a ser o campeão do consumo de drogas no mundo.
De certa forma, a crítica do professor americano se aplicaria também ao Brasil não só em relação ao comportamento de algumas pessoas e jovens, mas também à ostentação do poder econômico. Aqui, como nos EUA, a arrogância também tem lugar certo, a indiferença pelos que têm riqueza material não é menor. Tanto assim que, num só ano, o país ganha uma quantidade considerável de novos milionários quando se sabe que a miséria aqui é imensa a despeito das demagógicas medidas paliativas implantados pelo governo às custas do arrocho salarial da classe média e do escorchante imposto de renda mais caro do mundo cobrado aos assalariados. É fácil fazer programas às expensas do bolso do cidadão brasileiro.
Basta lermos alguns tipos de colunas da imprensa e alguns programas da mídia televisiva para comprovarmos que o hedonismo entre nós é tão grande quanto o de fora. A sociedade está cindida entre o poder econômico e a ausência dele, entre quem pode comprar um terno de mais de vinte mil reais (!!!) e outro que nem emprego tem (???). E isso em pleno Brasil.
Tanto quanto na sociedade individualista americana, dos multimilionários, das “celebridades”( a imitação do termo passou a nós) de vários naipes, o nosso “vizinho” não existe mais praticamente. Tornamo-nos cidadãos da mesma língua “inculta e bela” mas sem comunicação. Fizemos de nós pobres seres monológicos para usarmos um termo bachtiniano. Estamos surdos aos outros, Vivemos num deserto de subjetividades intransitivas “just like the American society.”