Uno Siempre vuelve a los viejos sitios donde amó la vida
Em: 21/08/2023, às 10H24
[Cláudio Trasferetti]
Das cidades nas quais morei, Teresina é a que mais revisito em pensamento. Vira e mexe, me vejo andando de carro na avenida Frei Serafim ou num longo trajeto a pé que começa dentro da Igreja de São Benedito, passa por seu adro, desce suas escadarias, passa na frente do Karnak, do centenário teatro 4 de Setembro e segue em direção à Avenida Maranhão, que margeia o Rio Parnaíba. Mas antes de chegar à beira do rio, ainda passo pela Matriz Nossa Senhora do Amparo e pela tão bonita e tão negligenciada Praça da Bandeira. Chegando ao rio, caminho até avistar a famosa e fotogênica Ponte Metálica que liga o Piauí ao Maranhão.
Outras vezes, me vejo caminhando ou correndo na beira do Rio Poty e parando para comer o abacaxi mais saboroso que existe no mundo, servido em cubos em sua própria casca transformada em providencial cumbuca. E o abacaxi me leva à carne de sol servida com baião de dois num restaurante próximo ao campus da UESPI, e a goles de cajuína gelada e a porções generosas de Maria Isabel...
Juntam-se à minha experiência de morar na cidade, os livros e as canções que li e que fazem menção a ela. Penso em Fontes Ibiapina e em seu triste livro “Palha de Arroz”, em poemas do H Dobal e Climério Ferreira, nas canções de Torquato Neto e até em “Cajuína”, canção que Caetano fez em homenagem a seu Heli, o pai de Torquato, figura que tive a honra de conhecer. E assim, Teresina se transforma em memória de um misto de vivências e criações.
Muito antes de Teresina aparecer em minha vida, eu escutava “Três da madrugada”, canção que Torquato compôs em parceria com Carlos Pinto, sem saber quem eram os compositores. Pensava que a canção fizesse menção a alguma cidade de clima frio, talvez por conta da “mão fria, mão gelada” presente em sua letra. Nem cogitava que a cidade em questão pudesse ser a tórrida Teresina:
“Três da madrugada
Quase nada
A cidade abandonada
E essa rua que não tem mais nada de mim”
Escuto a canção e me pergunto se ainda existe algo de mim em Teresina. E se existir, “a que será que se destina”?