As indústrias cinematográfica e literária já sabem, há muito, como uma estória pode vender. Deve-se somar uma boa estória a uma contação que emocione. O expectador e o leitor devem ser irresistivelmente convidados a entrar no ambiente narrativo. Ele, o destinatário da estória, uma vez “no barco”, movido pela emoção, se põe na pele deste ou daquele personagem. Por vezes, mesmo contrariado com o que o “alguém” ficcional faz ou pensa, o expectador-leitor mantém o seu gosto de “viver” o personagem. A ficção segue o que se dá na vida real. Nessa, na medida em que somos animais contundentemente sociais, dependemos de outros para realizarmos ações e projetos. Temos de ter parceiros para sermos felizes e sobrevivermos, bem como para culparmos pelo nosso sofrimento e frustrações. Somos vencedores porque há vencidos, e vice-versa. Na visão da Bioquímica, é o hormônio chamado ocitocina que aproxima a vida real da vida ficcional dos filmes e livros. Ele é produzido no organismo quando nos identificamos com alguém pelo fato desse alguém, de algum modo, nos representar. Nós nos colocamos dentro da nossa representação. Vemos e sentimos como ela. Isso se observa na nossa adesão irrestrita a uma candidatura presidencial, por exemplo, ou quando torcemos por um tipo de futebol ou quando adoramos de um cantor. Ou quando nos encantamos com o protagonista de um romance. A geração de ocitocina é a manifestação interna que acompanha a emoção afetiva e nos empurra para o sentimento de identificação. Esse hormônio, conforme as pesquisas, também acompanha o medo do desconhecido. Assim, amamos o que é nos é próximo e rejeitamos o que nos é estranho. No âmbito da contação de estórias, o mesmo ocorre. A substância ocitocina nos faz tomar partido nos conflitos e a nos pormos na pele de um personagem, ou de incorporarmos o narrador crítico como se fôssemos o próprio. Os cientistas da bioquímica descobriram que o segredo dos roteiristas e escritores para provocar a produção de “ocitocina narrativística” é a apresentação de uma tensão, em que se deva tomar um lado. Imediatamente, exposta ao conflito, a pessoa vai partilhar das emoções, das razões e das sensações da narrativa. Os fatos adversos e figuras antagonistas assombram a jornada do herói, mas proporcionam mais ocitocina e, assim, renovação da atenção ao texto ficcional visual ou escrito. Como conclusão, a contação é mais importante que a estória. É a contação, ou a dinâmica emocional da narrativa, que faz o escritor ser lido e ser admirado, e não a estória crua que ele apresenta