O VELHO CHALÉ DE JOSÉ DE FREITAS (PARTE 1)
Por Elmar Carvalho Em: 17/05/2012, às 19H04
ELMAR CARVALHO
Li na internet que o atual prefeito de José de Freitas, Ricardo Camarço, cumprindo promessa política antiga, restaurou o chalé onde morou José Rodrigues de Almendra da Fonseca Freitas, patriarca da família Almendra Freitas no Piauí. Nasceu em Portugal em 07.05.1865 e faleceu em 01.03.1931, em Livramento, hoje cidade de José de Freitas, em sua homenagem. Foi o fundador da Casa Almendra, uma das mais importantes firmas comerciais em sua época, ao lado da Casa Inglesa, indústria Moraes e Roland Jacob. Exerceu a liderança política de José de Freitas (da qual foi intendente), por mais de duas décadas. Foi deputado estadual em quatro legislaturas. Seu neto Aluísio Napoleão escreveu-lhe a biografia, em cujo livro revela que ele tinha preocupações ecológicas. Mas não é dele propriamente que desejo falar, e sim da Vila do Tejo, mais conhecida simplesmente como o chalé.
No ano de 1970, quando eu tinha de 13 para 14 anos, morei em José de Freitas, numa casa que ficava perto e na mesma rua da residência do afamado marceneiro Zezé Barros, do qual fui aprendiz por alguns meses, a pedido de minha mãe, que me desejava dar alguma ocupação. Ao lado de nossa casa morava a viúva conhecida como dona Irá (Iracema). Eu era amigo de seu filho Carlos, que desde essa época não mais revi. O Itamar, bom de drible, era também nosso amigo.
Jogávamos bola todo dia num campo de areia, encravado entre grandes mangueiras, situado na frente da casa do Zezé Barros. Eu e o Carlos estudávamos no Ginásio Antônio Freitas, no qual eram professores o padre Deusdete Craveiro de Melo, o ecetista Sebastião, colega de meu pai, a promotora de Justiça, Durvalina Pereira dos Santos, mas que todos chamávamos simplesmente de doutora, o José Acélio Correia, gerente da agência local do Banco do Estado. Entre outros colegas, havia o Edmílson, irmão do Itamar, o “Bacharel”, o João Rocha, o Paulo, que morava perto do famoso Bar Glória, célebre pelo seu balcão moderno e lustroso.
Nessa época, com a ajuda do padre Deusdete, liderei um grupo de garotos e criamos um campo de futebol, na frente do cemitério velho, também chamado de cemitério dos ricos. O padre deu as traves, a bola e os tornos de marcação. Fiz uma carta ao Armazém Paraíba, narrando essa história, e terminei conseguindo uma equipe do Santos, que agora está na moda com o Neymar e outros craques. Pelo menos uma vez por semana, eu, o Carlos e o Itamar, além de outros companheiros, íamos a caminhar até o açude Pitombeira, que ficava a alguns quilômetros de nossa casa. Os quintais se abriam em plena dádiva, e às vezes degustávamos umas mangas no caminho. No paredão do açude havia pés de criolis e outras árvores, sempre verdes, que formavam uma alameda. Serviam de pano de fundo para os nossos saltos do trampolim.
Nesse itinerário, algumas vezes passávamos pelo chalé, que já nessa época parecia abandonado, e já um tanto deteriorado. Tínhamos certo receio dele, e nunca entramos no imóvel. Portanto, nunca conheci o seu interior. Já nessa época eu me interessava por história e estória. Sabia que ele fora a residência do patriarca dos Freitas, cuja biografia eu já lera em sua lápide, no cemitério a que fiz referência. Ali eu já pesquisara dados biográficos de Antônio de Almendra Freitas, que fora deputado estadual, e de dona Cândida Cunha, que contribuiu com grandes cabedais para a construção da bela igreja de São Francisco.
Em muitas de nossas perambulações passávamos por essa igreja e pelo teatro, que lhe ficava perto. No ano em que morei em José de Freitas, fizeram show no teatro os ídolos populares Waldick Soriano e Roberto Muller, este piauiense de Piracuruca. Seguíamos para escalar o morro, que fica no centro comercial e histórico da cidade. Tínhamos diferentes trilhas para subi-lo, sendo a menos usada a escadaria de cento e tanto degraus. Preferíamos os caminhos que nos requeriam mais esforço e mais adrenalina.