O sol
Por Rogel Samuel Em: 11/09/2008, às 00H57
O primeiro poema de «Plenilúnio» de Ledo Ivo dá nome ao livro e surpreende.
Na força, quase brutal, de seus versos, uma estranha rima, que diz:
“Uma lua enorme
paira no céu pálido
..................
lua dissoluta
dos filhos da puta”
Depois o poeta, em «Soneto da neve», conta da neve «branca como o esperma», e inveja a noite,
«cobra escondida
entre as bananeiras»
os anjos ocultos no bosque»,
as almas, como o gelo, se evaporam
no dia findo», onde «galinhas brancas
ciscam o universo».
O poeta se encapsula «na rua General Polidoro»:
«minha vida eterna
é problema meu»
ou no «Soneto injurioso», onde
«o silêncio sucede ao barulho infernal
Assim será a morte, assim será o dia
em que a morte virá, fria como uma jia».
Assim será a morte, a velha puta escrota
que avança para nós escondida na bruma."
Gosto da poesia de Ledo Ivo dos 80 anos. Ele exorciza a morte. O título do livro não bate com os versos. Poesia do contraste. Pós-moderna.
Leio na praia. Interrompo a leitura. Olho o mar. Quatro engraxates descem a rampa. São quatro meninos parecidos, morenos. Dois devem ser irmãos, mesmo gêmeos. Um alcoólatra entra na água. O avô e sua netinha chegam na areia. Uma mulher se aproxima da água com cuidado. A mãe se preocupa com os filhos que correm. O rapaz põe seu cão para nadar. O velho sem barriga ainda se pensa jovem atleta e passeia de peito estufado, jogando os braços. O casal de amigos passa e me vê. Acena, e passa.
O sol.
“Assim será a morte, assim será o dia
em que a morte virá, fria como uma jia”.