[Maria do Rosário Pedreira]

Depois de edições incertas e muitos soluços, parece finalmente que a obra do grande poeta Eugénio de Andrade encontrou um caminho firme e vai ser disponibilizada sem achaques nem interrupções. A Assírio & Alvim vai tomar conta dos escritos do saudoso Eugénio e acaba de pôr à venda os dois primeiros volumes, que correspondem aos cinco primeiros livros do autor. Num deles,Primeiros Poemas, As Mãos e os Frutos e Os Amantes sem Dinheiro(um dos meus preferidos); no outro, As Palavras Interditas e Até Amanhã,este último de 1956, o que quer dizer que ainda há muito para vir porque, ao contrário de alguns poetas parcos ou preguiçosos (nos quais me incluo), Eugénio foi prolixo e escreveu até ao fim. Vou, por isso, ficar de papinho cheio, como todos os leitores que apreciam o grande mestre. E, só para espicaçar os que não se interessam por aí além pela nossa poesia, aqui vai um fragmento belíssimo de As Mãos e os Frutos (XXXV) que os tirará do marasmo.

 

Em cada fruto a morte amadurece

deixando inteira, por legado,

uma semente virgem que estremece

logo que o vento a tenha desnudado