[Maria do Rosário Pedreira]

Os livros em vários volumes são raros, excepto se estivermos a falar de histórias de vampiros ou quejandos, cujos autores e editores costumam aproveitar o sucesso do primeiro para explorar o filão até à náusea. Mas falo de literatura – e as trilogias e tetralogias contam-se pelos dedos (vá lá, das duas mãos). De qualquer modo, os japoneses são sempre uma surpresa (para mim, pelo menos) e o famoso Murakami, o mais internacional de todos, atreveu-se à obra de fôlego que, em Portugal, tem já o primeiro volume publicado, mas verá os restantes dois saírem para as livrarias em 2012 com tradução de Maria João Lourenço e Maria João da Rocha Afonso. O título é, no mínimo, estranho, 1Q84, qualquer coisa reminiscente do 1984 de Orwell, mas com o seu Q de enigmático. E a história gira em torno de Aomame e Tengo, dois professores que, afinal, não são só o que parecem e que, talvez por isso mesmo, o destino reúna num mundo que também só aparentemente é normal e no qual tudo acaba por ser questionado, incluindo a religião, a condição feminina e a corrupção – um mundo com um ponto de interrogação que busca, se não a nossa resposta, pelo menos, a nossa leitura.