O quarteto
Em: 11/03/2013, às 14H47
                             Rogel Samuel
Eles  conversavam e tocavam pela noite a dentro naquela casa, em Manaus,  que  reunia três a quatro senhores para tocar. Um era um comerciante  francês,  outro um padre velho alemão, um terceiro era um músico  manauara, pai do  poeta Luiz Bacellar, e mais outro de que não me  lembro. Tocavam para si  mesmos, não para um público. O francês no piano  ou no violino, o alemão  com o violino, o amazonense na viola. Não me  lembro se alguém tocava  violoncelo. Tocavam trios ou quartetos de  Beethoven. Tocavam bem. Como o  teto da casa velha era muito alto, a  acústica da sala era muito boa. A  casa velha tinha um teto muito alto, e  uns desenhos inscritos, umas  pinturas onde a sonoridade das arcadas se  infiltravam. A sala era muito  boa. Eles conversavam e tocavam  Beethoven pela noite a dentro. Em plena  selva amazônica, tocavam  Beethoven. Ensaiavam juntos, argumentavam, e às  vezes punham algum  disco da RCA VICTOR para comparar alguma passagem  difícil. Beethoven  era ouvido ali, e talvez algum 
desconhecido que  passasse pela rua àquela hora se perguntasse o que  eram aqueles sublimes  sons na cidade de Manaus da década de 40.

