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 O POLÍTICO IDEAL

Miguel Carqueija

 

            Carta remetida para o jornal “O Globo” do Rio de Janeiro, escrita em 31 de dezembro de 1990. Não sei se foi publicada.

 

            Às vezes eu penso em como deveria ser o político ideal num país como o Brasil, onde a classe política está totalmente desmoralizada. A meu ver tal político teria de ser austero até o heroísmo, pois a sua atitude de honestidade acarretaria perseguição vinda de seus próprios pares. Por exemplo: tal político não aceitaria casa de graça, nem jetons, nem qualquer espécie de mordomia. Pagaria suas cartas, seus telefonemas, suas viagens. Defenderia o fim do recesso parlamentar e sua substituição por uma escala normal de férias — ou então recesso de apenas 30 dias.

            Tal político não faria tráfico de influências nem promessas impossíveis de cumprir, não arranjaria empregos para protegidos sem merecimento e não aceitaria super-salários. Entraria na Justiça para reduzir seu próprio salário ou doaria a maior parte para os pobres, tornando isso público não por farisaísmo mas para dar exemplo aos demais.

            Tudo isso se deveria esperar dos parlamentares. Se parece impossível é porque o anormal se entronizou como normal.