O poeta veste-se
Em: 22/09/2012, às 19H38
                            [Luiz Bacellar]
Com seu paletó de brumas 
e suas calças de pedra, 
vai o poeta. 
E sobre a cambraia fina 
da camisa de neblina, 
o arco-íris em gravata 
vai atado em nó singelo. 
(Um plátano, sobre a prata 
da água tranqüila do lago, 
se debruça só por vê-lo). 
Ele leva sobre os ombros 
a cachoeira do lago 
(cachecol à moda russa) 
levemente debruada 
de um fino raio de sol. 
Vai o poeta 
a caminhar pelas serras. 
(pelos montes friorentos 
mal se espreguiça a manhã) 
com seu pull over cinzento 
(feito com lã das colinas) 
com seus sapatos de musgo 
(camurça verde dos muros) 
com seu chapéu de abas largas 
(grande cumulus escuro). 
Mas algo ainda lhe falta 
Para a elegância completa: 
Súbito pára, se curva, 
num gesto sóbrio e perfeito, 
um breve floco de nuvens 
colhe e prende na lapela.
 

