O poeta Álvaro Maia

Rogel Samuel

Pois as garças são ângulos móveis, voadores, esparsas são as garças, são graças, finíssimas criaturas que bailam, figurativas, como anjos dos céus... estão tristes? São alegres? Estão em festas? Desenham retas e círculos de farsas, bordam pospontam com seus longos bicos em talagarças, nas tules das florestas... são aladas sensações, asas de mágoas, sobem e descem nas planuras, enfeitando os barrancos de brancura, estão em sonhos sobre as águas, são mães-dágua... rimadas ritmadas no poema de Álvaro Maia:

No azul, em móveis ângulos, esparsas
as penas em finíssimas arestas,
fugindo em tempo às cerrações funestas,
vão em busca do céu bandos de garças ...
Em meio de tristezas e de festas,
fazem retas e círculos de farsas,
ou pospontam sendais nas talagarças
e nas tules ondeantes das florestas...
Na tarde escura, no verdor da aurora,
voam, revoam pelo espaço afora,
- aladas sensações, asas de mágoas...
Descem, depois, aos longes da planura,
e, enfeitando os barrancos de brancura,
lembram Mães-dágua em sonhos sobre as águas...


Álvaro Maia nasceu em 1893, no seringal “Goiabal”, rio Madeira, município de Humaitá. Advogado, professor catedrático de português, jornalista, poeta, romancista, político, deputado, governador e senador pelo Amazonas. Faleceu em 1969. Está vivo entre os seus raros leitores.