O pintor amazonense Manoel Santiago
Por Flávio Bittencourt Em: 13/10/2011, às 10H51
[Flávio Bittencourt]
O pintor amazonense Manoel Santiago
Uma síntese biográfica, elaborada por Márcio Páscoa.
BOMBEIROS MILITARES EM AÇÃO:
TRABALHO DE SALVAMENTO DE BANHISTA,
EM 23.8.2008, NA PRAIA DE COPACABANA, RIO:
SENDO A FOTO DE AUTORIA DE EUMIR SALGADO,
LEITOR DE O GLOBO [JORNAL QUE A PUBLICOU])
(http://todaoferta.uol.com.br/comprar/manoel-santiago-decada-de-1970-7TFGSKJ8L8)
De 1929, trabalho [SEM TÍTULO] assinado por Manoel Santiago
(http://blogdaretro.uol.com.br/?p=2877)
PORTINARI RETRATADO
POR MANOEL SANTIAGO:
(http://www.dezenovevinte.net/bios/bio_ms.htm)
DE MANOEL SANTIAGO,
Banhistas
(http://www.vitorbraga.com.br/leilao2009/reveilon2010/000.htm)
EM MEMÓRIA DO GRANDE MESTRE DA PINTURA IMPRESSIONISTA
MANOEL SANTIAGO (1897 - 1987),
DAS PESSOAS QUE FALECERAM NO
TERRÍVEL ACIDENTE HOJE OCORRIDO, APROX. ÀS 7h30,
NA PRAÇA TIRADENTES, CENTRO DO RIO -
quando se transmitem sentidas condolências às famílias enlutadas
dessas vítimas da até agora inexplicada explosão de gás engarrafado
[CILINDROS DE GÁS / GPL (GÁS DE PETRÓLEO LIQUEFEITO) OU
GLP (GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO); OS CILINDROS, MESMO OS
MAIS ALTOS - diferentes, portanto, dos utilizados em residências -,
SÃO TAMBÉM CHAMADOS DE BILHAS, BOTIJAS, BUJÕES OU BOTIJÕES],
com orações também pelos que não morreram, para que
suas plenas saúdes sejam restituídas, com a ajuda de Deus e
das equipes médicas que deles perfeitamente cuidam -,
HOMENAGEANDO OS HERÓICOS
BOMBEIROS MILITARES DO RIO DE JANEIRO-RJ,
TODOS OS PROFISSIONAIS DA ÁREA DE SAÚDE DESSA CIDADE BRASILEIRA,
AGRADECENDO A MÁRCIO PÁSCOA PELO EXCELENTE
ARTIGO QUE PRODUZIU SOBRE O
MAIOR PINTOR AMAZONENSE DE TODOS OS TEMPOS E A
EUMIR SALGADO, LEITOR DO JORNAL O GLOBO,
QUE FOTOGRAFOU UM TRABALHO DE SALVAMENTO
QUE ESTAVA SENDO COMPETENTEMENTE EXECUTADO
POR BOMBEIROS MILITARES CARIOCAS,
NA PRAIA DE COPACABANA, EM 23.8.2008
13.10.2011 - Escreveu Márcio Páscoa: "(...) O conjunto de sua obra revela-o um artista figurativo e impressionista, voltado especialmente à pintura de gênero, bem como à paisagem, ao nu, à marinha e ao retrato (tendo também executado auto-retrato). (...)" - Manoel Santiago, pintor maior do Estado do Amazonas [*], Brasil. F. A. L. Bittencourt ([email protected])
[*] - Não confundir, por favor, com o Estado Amazonas, Venezuela
(http://es.wikipedia.org/wiki/Amazonas_(Venezuela)).
"Manoel Santiago
por Márcio Páscoa
De qualquer modo sua formação superior deu-se no Rio de Janeiro, para onde foi residir. Em 1919, na capital brasileira, enquanto formava-se em Direito freqüentou a Academia de Belas Artes, sendo orientado por Chambelland e Batista da Costa, assistindo também a aulas particulares com Eliseu Visconti.
A partir de 1920 sucederam-se exposições suas e em 1923 criou o Salão Primavera, mesmo ano em que se casou com Haydéa Santiago, também pintora.O maior evento aconteceu em 1927 quando recebeu prêmio de viagem ao exterior do Salão Nacional de Belas Artes, seguindo para Paris, o que lhe permitiu entrar em contato com Portinari, Quirino Campofiorito, Di Cavalcanti, Alfredo Galvão e Armando Viana. De volta ao Brasil foi contratado para lecionar no Instituto Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro e em seguida no Núcleo Bernardelli, sendo professor de Pancetti, Bustamante e Sá, Milton Da Costa, Rescala, dentre muitos outros.
Manoel Santiago recebeu outros importantes prêmios na carreira, dentre eles a Medalha de Ouro, em 1929, e a Medalha de Honra, em 1948, ambas no Salão Nacional de Belas Artes, do qual participou em várias edições ao longo de quase 30 anos. Foi também um assíduo freqüentador do Salão Paulista de Belas Artes, desde 1936 a 1945, obtendo Menção Honrosa na edição de 1936, Medalha de Bronze em 1938, Pequena e Grande Medalha de Prata, em 1940 e 1945. Foi também premiado no exterior. Em 1941 recebeu a Medalha de Ouro da Exposição do IV Centenário da Cidade de Santiago (Chile), prêmio semelhante ao que receberia em 1965 na Exposição do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, tendo recebido a Medalha de Honra nesta ocasião.
Dentre as demais exposições de que sua obra tomou parte destacam-se o IV Salão do Núcleo Bernardelli, ocorrido em 1935, a I Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, o III Salão Nacional de Arte Moderna (Salão Preto e Branco), em 1954, o Salão Pan-americano de Arte, de Porto Alegre, em 1958, além de várias exposições realizadas na França, entre 1927 e 1932, mormente no Salão dos Artistas Franceses, no Salão de Outono, no Salão Colonial dos Artistas Franceses, no Salão das Tulherias e no Salão de Inverno. Nas décadas de 70 e 80 sua obra já aparecia mais escassamente em exibições do gênero, como aconteceu na Mostra de Arte de Curitiba, em 1970 ou na individual da Toulouse Galeria de Arte, em 1987, ano em que faleceu.
Nem só a óleo sobre tela se limitou a atividade artística de Manoel Santiago. Por volta de 1942 ele dedicou-se à realização de murais para a Alfândega do Rio de Janeiro e para o Instituto Nacional do Açúcar e do Álcool.
O conjunto de sua obra revela-o um artista figurativo e impressionista, voltado especialmente à pintura de gênero, bem como à paisagem, ao nu, à marinha e ao retrato (tendo também executado auto-retrato).
Sua obra é livre do desenho de contorno, como toda a obra impressionista, e talvez por isso não se destaquem pessoas em meio a muitas de suas paisagens, tal o colorismo acentuado de toda a tela. Pode-se mesmo dizer que o curvar do modelo, a que ele era fiel no tratamento do tema, resolvia-se de forma fluida. Nem por isso Manoel Santiago era menos desenhista. Sabidamente o foi de grande personalidade e em especial nas perspectivas aéreas, mas como idealista que era de convicção, manipulava de modo particular os elementos do real, quase dissolvendo-os na abundância poética que pretendia exprimir com as cores, conforme descreveu seu biógrafo Flávio de Aquino. De um modo geral os críticos o consideraram sempre uma personalidade pictórica marcante.
Fonte:
1. Aquino, Flávio de - «Manoel Santiago: vida, obra e crítica» , Rio de Janeiro, Cabicieri, 1986
2. Morais, Frederico - «Núcleo Bernardelli: arte brasileira nos anos 30 e 40», Rio de Janeiro, Pinakhotheke, 1982
3. Vários Autores - «O Museu Nacional de Belas Artes», Rio de Janeiro, Banco Safra, 1985.
(*) Márcio Páscoa é Professor da UEA, Mestre em Artes pela UNESP e atualmente é doutorando em Ciências Musicais pela Universidade de Coimbra. "
Manoel Santiago |
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Estamos no ano de 1896, fim de século. Bem distante da capital federal, um outro núcleo, igualmente importante, vive um estado de efervescência econômica, política e cultural. É a misteriosa cidade de Manaus, mergulhada na selva amazônica, sem estradas ou qualquer meio de comunicação que não sejam os seus rios, mas, neste momento, tão cortejada quando o Rio de Janeiro.
O ambiente continua selvagem. Não é preciso afastar-se muito da cidade para dar de encontro com aldeias de índios vivendo em seu estado primitivo; bastavam alguns quilômetros de espaço para retroceder pelo menos um milhar de anos na civilização.
E as amazonas ? Ah, as amazonas! Aquela sociedade de mulheres selvagens, as primeiras feministas que o mundo já conheceu, que mantinham-se afastadas do mundo masculino, que cortavam um dos seios para entesar melhor o arco, disparando a flecha certeira que atingia a presa e garantia sua alimentação, ou que mantinha o inimigo distante da aldeia.
Teriam existido, de verdade, as amazonas ? Pelo menos naquela época, havia quem acreditasse nisso. E, em meio às conversas, sempre aparecia um paranóico a garantir que já vira alguma delas.
Presente e futuro na
capital amazonense
Pois Manaus, mergulhada na selva e em sua mitologia, vivia, no final do século, a euforia trazida pelo milagre da selva: para os cientistas, a «hevea brasiliensis»; para nós outros, simplesmente a «seringueira», guardada por uma eternidade na imensidão da selva e agora cobiçada pelo mundo inteiro, matéria prima essencial para a produção de pneus, procurada desesperadamente pela recém criada indústria de automóveis.
Era uma dádiva que parecia nunca acabar. Bastava abrir trilhas pela mata para encontrar a árvore milagrosa da borracha. A terra, nada representava, economicamente. O que tinha valor comercial, realmente, eram as trilhas que conduziam de uma seringueira a outra. Cada trilha tinha seu proprietário e a propriedade da trilha era respeitada religiosamente. E pobre de quem se atrevesse a invadir trilha alheia, para tirar a seiva de uma árvore que não lhe pertencia!
Pois nesse final de século, dois importantes eventos para o futuro da arte se registrariam em Manaus: Em 1896 ocorre a inauguração do esplendoroso Teatro Amazonas, uma salada russa de estilos e decoração, mas também um monumento à riqueza do Estado. Era a demonstração de poder dos recém estabelecidos empresários, os novos ricos.
No ano seguinte, outro acontecimento de importância para a arte, mas naturalmente despercebido: em 25 de março de 1897, nasce Manoel Santiago, criatura simples, herdeiro de nada, nem de trilhas nem de árvores, mas possuidor de um dom inato, que o colocaria entre os mestres da pintura brasileira.
Uma figura marcante
O teatro, tornou-se um símbolo do passado, de uma riqueza efêmera; Santiago simbolizou o futuro, senão em sua própria e suficiente arte, ao menos pela influência que exerceu em outros grandes artistas brasileiros do Século 20, tendo orientado os primeiros e decisivos passos de José Pancetti (1902-1958), Ado Malagoli (1906-1994) e Milton Dacosta (1915-1988), além de muitos outros.
Manoel Santiago não aprendeu, propriamente, pintura ou desenho; a arte nasceu com ele, era parte integrante de seu ser e ele mesmo, não tem certeza sobre quando começou a rabiscar figuras humanas: «Tinha seis anos quando pintei um retrato a carvão de meus avós, sendo este, que eu me lembre, o primeiro trabalho meu.»
Com tendência inata para o desenho e a pintura, tudo que teve de estudar, para melhor desenvolvimento, foi a técnica da arte pictórica, o que transformou-se, para ele, em uma faca de dois gumes: de um lado, o estudo moldou-lhe a personalidade, sujeitando-o a uma rigorosa autodisciplina, criando nele um zelo todo especial com os detalhes, uma luta incessante na busca da perfeição; de outro, manteve-o atrelado aos ensinamentos da Escola Nacional de Belas Artes, onde foi aluno e, mais tarde, professor. Não conseguiu soltar-se, sendo sua pintura, quase toda ela, uma repetição monótona de estilo, conquanto muito bem elaborada.
Sob a luz dos refletores
É possível que, se tivesse permanecido em Manaus, terminaria sua vida como um obscuro artista. Todavia, contingências da economia levaram seus pais, poucos anos após, a mudarem-se para Belém, Estado do Pará e, de lá, para a cidade do Rio de Janeiro, onde Santiago completou seus estudos básicos e entrou para a Faculdade de Direito.
Paralelamente aos estudos regulares de direito, ingressou na Escola Nacional de Belas-Artes como aluno livre, sem matricular-se, pela impossibilidade de comparecer regularmente às aulas.
O Rio de Janeiro era, como é até hoje, a caixa de repercussão das artes, e a presença de Santiago nessa cidade foi importante para ter seu talento notado e incentivado. Ganhando, no Salão Nacional de Belas-Artes, um prêmio de viagem à Europa, passou quatro anos em París, entre 1928 e 1932, com lucro dobrado: ao mesmo tempo em que estudava com renomados professores franceses, firmou amizade com um grupo de pintores brasileiros também de passagem pela Europa, dentre eles, Portinari e Di Cabalcanti.
Mas foi mesmo no Brasil que veio a conhecer um pintor que o marcaria de maneira indelével: era o professor italiano Eliseu D'Angelo Visconti (1866-1944), cujo ateliê passou a freqüentar, e cuja influência carregou pelo resto da vida, considerando-o o «artista que continuo a acatar como legítimo mestre».
Vencendo a força da inércia
Embora fazendo duras críticas à pintura desses moços, sentiu-se atraído pelo interesse demonstrado por todos eles e dispôs-se ajudá-los, o que o fez muito bem, pois muitos, dentre esses novos discípulos, conseguiram escalar a trilha da fama, tendo seus nomes registrados na história da pintura no Brasil.
Participou, ainda, sem cessar, de várias exposições, no Brasil e no Exterior, destacando-se as do Salão Paulista de Belas-Artes, onde foi várias vezes premiado; do Salão de Rosario, na Argentina; do 4º Centenário de Santiago do Chile; do Salão de Belas-Artes comemorativo do 4º Centenário do Rio de Janeiro (medalha de honra) e muitas outras.
Deixando à parte a grande obra que realizou como pintor, sua importância maior foi a formação dessa nova geração de pintores que conseguiram igualar-se, quando não, até superar o próprio mestre.
Sua esposa, Haydéa Santiago (1896-1980), também era pintora. Manoel Santiago veio a falecer no Rio de Janeiro em 1987 e, nesse mesmo ano, uma galeria de arte no Rio de Janeiro realizou uma exposição de quadros do casal.
Voltando da Europa, em 1932, tomou contato com o Núcleo Bernardelli, formado por um punhado de iniciantes desorientados, entre eles, Edson Mota (o organizador do grupo), José Pancetti, Bustamante Sá, José Pancetti, Milton Dacosta e Ado Malagoli.(Texto de Paulo Victorino)