Café do Pina em 1976 (registro coletado do Google)
Café do Pina em 1976 (registro coletado do Google)

[João Pinto]

O que é Pina? Um bar, uma rodada de café com o meu compadre e o Nelson Castro. Um bar que adquiriu pernas e saiu de um ponto da praça da polícia, mas sem deixar o pé de mulateiro e ter a memória de passar um moca com pão francês. O bar era do garçom Pina, daí saírem das mesas as garrafas de cervejas vestidas de crônicas e poesias revolucionárias da cidade. Foi tanta margarina passada no pão francês com o café que a imaginação de escultura da linguagem perdura na bebida e nos pães e nos salgadinhos. Com baré e a Coca-Cola. Tudo está no Pina histórico.

A sobreviver de meros produtos para o jantar da família que,apertado entre apetrechos, o dono talvez dizia, Atenda, o Diniz, o poeta prefeito do Careiro.

Mas leve o fumo para a piteirIra do Bacelar e o uísque para o cachimbo doTufic. Aqui só se junta laia de poeta para comer e sonhar tudo quebrado.

O Pina não saia da boca dos poetas. Nem sabia quase desse mundo barroco, onde o Boca do Inferno metia a lenha nas quengas de uma Salvador que moía cana mas com gente acorrentada nos canaviais.

Nunca encontrei poeta no Pina, mas deveria estar de boné ou de bengala, com algum escrito à mão numa pasta puida. Ali latejava seu sangue simbolista ou anacrônico que depois virou um revolucionário moderno na forma ufana de ver o rio Negro. Esquartejar as rimas bonitinhas. E tomar desejo de lavar os panos velhos de escrever por outros mais orais.

Quando cheguei em Manaus, o mundo já estava de cabeça pra baixa. Não era poeta, era contista e trazia também da faculdade meu martelo para espicaçar a prosa velha.

E o Pina punha no meu pratinho pão francês com margarina e queijo. E era desse gordura que ganhei um pedaço de criador. A barriga roncava depois de duas horas, o Pina estava na pasta da escola também o mulateiro, o Becellar, o poeta genial, o Álvaro Maia e seu Beiradão, e várias apostilas para dar aula. Assim nasceu meu convívio no início de letras no passado quando cheguei nordestino.

Hoje, tornei me sentar numa mesa de outra geração do Pina. Estava o editor Nelson Castro, o compadre Hélito e mais gente. O café foi fraco, um som atrapalhava, e depois de conversas sobre futuros livros, um rabo de uma gostosa passava do outro lado da 7 de setembro, fiquei dividido. Inspirado para recriar o rabo desde que fosse numa narrativa, onde um sabiá na praça me ajudasse no enredo.