O perigosíssimo general Curtis LeMay
Por Flávio Bittencourt Em: 18/09/2011, às 19H08
[Flávio BIttencourt]
O perigosíssimo general Curtis LeMay
Robert McNamara, no espantoso documentário de longa-metragem As brumas da guerra (2003), menciona várias vezes o General que queria atacar rapidamente, não medindo consequências de bombardeios maciços a serem desfechados pela Força Aérea dos EUA.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_McNamara)
ADVERTÊNCIA - HÁ INCORREÇÃO DE INFORMAÇÃO NAS DUAS PRIMEIRAS LINHAS DO TRECHO A SEGUIR TRANSCRITO. TODAVIA, A DESPEITO DE TERMOS DETECTADO O LAPSO NO CAMPO DA HISTORIOGRAFIA DO CINEMA UNIVERSAL, NA PASSAGEM TEXTUAL logo adiante REPRODUZIDA, NA MEDIDA EM QUE, NESTE ESPAÇO DE recontação DE ESTÓRIAS POPULARES, AS LENDAS SURGIDAS POR ASSIM DIZER naturalmente NO SEIO DO POVO APARECEM COMO RELEVANTES, a ideia de que o próprio personagem Dr. Strangelove, do filme de S. Kubrick, foi baseado em LeMay, é relevante, uma vez que, NA MENTE DE QUEM NÃO DESCE A DETALHES DE ROTEIRO, 'Strangelove era LeMay' (MAS, COMO AQUI SE ASSINALA, QUEM SE aproxima vagamente de LeMay É OUTRO PERSONAGEM DO FILME DE KUBRICK: o general "Buck" Turgidson [FIGURA FICCIONAL], vale dizer que 'Strangelove NÃO ERA LeMay').
O RESPONSÁVEL PELA COLUNA "Recontando..."
TRECHO COM FALHA HISTORIÓGRAFICO-CINEMATOGRÁFICA, MAS EXEMPLIFICATIVO DE SINTOMA
DE TRANSFORMAÇÃO DE HOMEM EM LENDA (há poucas décadas,
DA TRANSFORMAÇÃO DE HOMEM VERDADEIRO EM LENDA VIVA [antes da morte, em
outubro de 1990, do Gen. LeMay, evidentemente]:
"LeMay foi imortalizado [NO FILME DE] (...) Stanley Kubrick 'Dr Strangelove', interpretado pelo genial Peter Sellers [*]. Durante a II Guerra, LeMay comandou esquadrões de B-17s em missões de bombardeios sobre a Alemanha antes do desembarque na Normandia, em 1942 e 1943, e transferido para o Pacífico, foi o tático idealizador dos bombardeios noturnos incendiários em massa e a baixa altitude, que destruíram e transformaram em cinzas as cidades japonesas, com residências basicamente feitas de papel e madeira, em 1944 e 1945, incluindo o famoso bombardeio incendiário de Tóquio em 10 de março de 1945, feito com bombas de fósforo, que matou 100 mil civis, incendiou 250 mil construções e incinerou 41 km² da cidade."
(http://blogln.ning.com/video/lemay-foi-quem-organizou-o?xg_source=activity)
[*] - VEJA-SE LOGO A SEGUIR QUE O PERSONAGEM DO FILME DE KUBRICK INSPIRADO - ou "vagamente inspirado", de acordo com o verbetista que escreveu o artigo de síntese biográfica - FOI O GENERAL "BUCK" TURGIDSON.
"Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb (br: Dr. Fantástico / pt: Dr. Estranho Amor[1]), ou apenas Dr. Strangelove, é um filme americano de 1964, uma comédia de humor negro dirigida por Stanley Kubrick, com Peter Sellers e George C. Scott nos papeis principais (...)
Elenco principal
- Peter Sellers como
- Capitão de grupo Lionel Mandrake, um oficial de intercâmbio britânico
- Presidente Merkin Muffley, o comandante-em-chefe americano, supostamente baseado no político Adlai Stevenson.
- Dr. Strangelove, ex-nazista especialista em guerra nuclear, confinado a uma cadeira de rodas e com uma mão incontrolável que aparentemente tem uma mente nazista própria. Strangelove é um pastiche de cientistas alemães como Wernher von Braun e estrategistas nucleares como Herman Kahn, Edward Teller (o pai da bomba de hidrogênio), e talvez até mesmo o líder do Projeto Manhattan, John von Neumann. [2]
- George C. Scott como general Buck Turgidson, um general exagerado e patriota que não confia no embaixador De Sadesky, vagamente baseado no General da Força Aérea Curtis LeMay.
- Sterling Hayden como general Jack D. Ripper, paranóico e ultra-patriótico; seu nome é uma referência ao célebre serial killer Jack, o Estripador (Jack the Ripper).
- Slim Pickens como major T. J. "King" Kong, comandante e piloto do bombardeiro B-52 Stratofortress. Seu nome é uma óbvia referência a outro personagem cinematográfico, o gorila gigante King Kong. (...)"
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Dr._Strangelove_or:_How_I_Learned_to_Stop_Worrying_and_Love_the_Bomb)
"O norte-americano general Curtis LeMay, em resumo,
queria o seguinte:
atacar o inimigo, bombardeando implacavalmente o
seu território, não importando se os alvos fossem
humanos (militares ou civis) ou o que fosse para arrasar,
com a ajuda da força da gravidade, por meio de bombas
lançadas de aeronaves militares"
(COLUNA "Recontando...")
O general LeMay, tentando convencer o
presidente JFK a aniquilar rapidamente
Cuba e seu povo, em 1962, de acordo
com o pesquisador brasileiro
Voltaire Schilling:
General Curtis Lemay ao presidente J.F. Kennedy, 19 de outubro de 1962
O PROF. VOLTAIRE SCHILLING
ESCREVEU SOBRE O PERIGOSO
GENERAL DOS IMPLACÁVEIS
BOMBARDEIOS DA II GUERRA MUNDIAL
SOBRE TÓQUIO - e outros mega-alvos
a serem arrasados de cima - O SEGUINTE
ARTIGO:
"História - Século XX |
SÉCULO XX | |||
Curtis Lemay, explodindo o mundo A Crise dos Mísseis de outubro 1962 foi, seguramente, o momento mais perigoso para a sobrevivência da humanidade inteira. Nunca, ao longo da Guerra Fria, se esteve tão próximo de uma Hecatombe Nuclear como naquela ocasião. De um lado, John Kennedy, o presidente dos Estados Unidos, exigia que os soviéticos retirassem imediatamente os seus foguetes instalados secretamente na ilha de Cuba; do outro, Kruschev, o primeiro-ministro da URSS, desejando fazer uma barganha com a posição que conquistara, procurava ganhar tempo. Naquela ocasião, particularmente entre os dias 19 e 26 de outubro, até a autoridade do presidente norte-americano em conduzir os assuntos estratégicos foi questionada por altos setores militares, entre outros pelo general Curtis LeMay, fazendo com que os Estados Unidos quase mergulhasse numa ditadura militar de direita.
Portanto eu não vejo outra solução. Nem bloqueio ou ação política, eu vejo é começar a guerra. Eu não vejo outra solução. Eu quero ir direto à guerra...Eu não vejo outra solução senão que a intervenção militar direta, agora!"
General Curtis Lemay ao presidente J.F. Kennedy, 19 de outubro de 1962 Os acontecimentos se sucederam numa rapidez impressionante No dia 14 de outubro de 1962, um U-2, um avião de espionagem norte-americano que patrulhava a ilha de Cuba, trouxe de volta para a sua base uma bateria impressionante de fotos. Reveladas pelo Photint, o departamento especializado em fotografia aéreas, elas mostraram claramente a existência de uma série de silos de mísseis que estavam sendo instalados pelos soviéticos na ilha de Fidel Castro. Imediatamente elas foram mostradas ao presidente Kennedy. Ele, que ainda estava amargando o fiasco que fora o desembarque dos contra-revolucionários anticastristas, ocorrido um ano antes na baía dos Porcos, em Cuba – projeto da CIA - , sentiu que ali estava a sua oportunidade da desforra, de criar um grande caso contra a URSS. Sob ponto de vista estratégico, a posição do presidente americano era inatacável. Os Estados Unidos não poderiam permitir que uma potência inimiga, bem distante do Hemisfério Ocidental, viesse a colocar os foguetes SS-4, com suas ogivas nucleares, quase que às portas do país. O que Kruschev, o então primeiro ministro soviético fizera, pelo menos assim entendeu a maior parte do staff presidencial, ainda que inadvertidamente, era praticamente uma declaração de guerra contra a América do Norte." (VOLTAIRE SCHILLING) |
(http://educaterra.terra.com.br/voltaire/seculo/2003/10/01/001.htm)
"Nickname | "Old Iron Pants", "Bombs Away" LeMay |
---|---|
Place of birth | Columbus, Ohio, United States |
Place of death | March Air Force Base, California, United States |
Allegiance | United States of America |
Service/branch | United States Air Force United States Army Air Forces United States Army Air Corps United States Army Ohio National Guard |
Years of service | 1928–1965 |
Rank | General |
Commands held | Twentieth Air Force Strategic Air Command USAF Chief of Staff |
Battles/wars | |
Awards | Distinguished Service Cross Army Distinguished Service Medal (3) Silver Star Distinguished Flying Cross (3) Air Medal (4) Distinguished Flying Cross (United Kingdom) Légion d'honneur (France) |
Other work | Politician, candidate for U.S. vice president" |
(http://en.wikipedia.org/wiki/Curtis_LeMay)
19.9.2011 - Em 1962 (já havia acontecido o FIASCO DA INVASÃO DA BAÍA DOS PORCOS), o homem queria arrasar inapelavelmente Cuba: militares, civis, animais irracionais e coisas - Como o presidente John Kennedy não era insano, impediu, felizmente, que o ultradisciplinado LeMay fizesse isso. (Pelo menos, LeMay cumpria estritamente ordens vindas de níveis superiores do Poder Executivo de seu País.) F. A. L. Bittencourt ([email protected])
"Curtis LeMay
Curtis LeMay | |
---|---|
Nascimento | 15 de novembro de 1906 Columbus, EUA |
Morte | 3 de outubro de 1990 (83 anos) March Air Reserve Base, EUA |
Nacionalidade | norte-americano |
Cargo | Chefe do estado-maior da Força Aérea dos Estados Unidos |
Serviço militar | |
Patente | General da USAF |
Curtis Emerson LeMay (Columbus, 15 de novembro de 1906 - Base da Força Aérea March, 3 de outubro de 1990) foi um general da Força Aérea dos Estados Unidos e candidato a vice-presidente dos Estados Unidos, em 1968, pelo Partido Independente Americano, na chapa do ex-governador do Alabama, George Wallace, seu comandado durante a II Guerra Mundial.
LeMay era um dos grandes 'falcões' das forças armadas norte-americanas, tendo servido na II Guerra como planejador e implementador do programa tático de bombardeios aéreos no teatro do Pacífico, Depois da guerra, durante a Guerra Fria, ele foi o principal organizador da ponte aérea para Berlim, no período em que ela teve seu acesso por terra bloqueado pelos soviéticos, e reorganizou o Comando Aéreo Estratégico (SAC), dotando-o de meios efetivos de levar à cabo uma guerra nuclear.
Carreira
Durante a II Guerra, LeMay comandou esquadrões de B-17s em missões de bombardeios sobre a Alemanha antes do desembarque na Normandia, em 1942 e 1943, e transferido para o Pacífico, foi o tático idealizador dos bombardeios noturnos incendiários em massa e a baixa altitude, que destruíram e transformaram em cinzas as cidades japonesas, com residências basicamente feitas de papel e madeira, em 1944 e 1945, incluindo o famoso bombardeio incendiário de Tóquio em 10 de março de 1945, feito com bombas de fósforo, que matou 100 mil civis, incendiou 250 mil construções e incinerou 41 km² da cidade.
Após a guerra, LeMay serviu brevemente no Pentágono, sendo depois enviado para a Europa, onde comandou o planejamento da ponte aérea dos aliados em 1948, para a Berlim bloqueada por terra pelos soviéticos. Durante onze meses, os aviões aliados de carga transportaram para a cidade, em 213 mil voos, o equivalente a 1,7 milhões de toneladas de mantimentos e combustível, impedindo a população civil de morrer de fome e a estrutura da cidade de entrar em colapso. Com o fracasso do bloqueio - que visava a fazer os aliados abandonarem Berlim - os soviéticos abriram novamente as estradas.
De volta aos EUA, foi empossado como chefe do comando Aéreo Estratégico (SAC) entre 1949 e 1957, em plena Guerra Fria, quando modernizou e treinou a frota aérea de bombardeiros norte-americanos para uma eventual guerra nuclear com a União Soviética.
Uma de suas mais polêmicas declarações se deu durante a Crise dos mísseis de Cuba, em outubro de 1962, quando, como chefe do estado-maior da força aérea, teve grandes discussões com o presidente Kennedy e o secretário de defesa Robert McNamara, ao enfatizar que Cuba deveria ser bombardeada nuclearmente e os Estados Unidos deveriam ir à guerra contra a URSS. Mesmo após os soviéticos retirarem os mísseis que haviam instalado em território cubano e preferirem uma solução pacífica para a situação, LeMay chamou o episódio, que quase levou o mundo a uma guerra nuclear, de 'a maior derrota de nossa história'.
Com sua discordância com o tipo de bombardeio limitado usado no Vietnã, nos primeiros anos de guerra, devido aos receios do governo Johnson de que uma escalada geral nestes ataques, advogada por LeMay, pudesse causar reação dos soviéticos e chineses, mostrada através de uma oposição pública constante, LeMay acabou sendo forçado a se retirar da carreira militar em fevereiro de 1965 e voltou suas atenções para a carreira política.
Política
Em 1968, LeMay mudou-se para a Califórnia e foi convidado por conservadores republicanos do estado a disputar a cadeira para o Senado do partido com um candidato moderado, mas declinou do convite. Pouco depois, convidado por George Wallace, governador do Alabama, a ser seu companheiro de chapa por um partido independente na eleição presidencial, em princípio declinou do convite, por apoiar a candidatura de Richard Nixon. Com o desenrolar da campanha, entretanto, se convenceu de que Nixon, se eleito, procuraria fazer uma política conciliatória com os soviéticos e aceitar uma paridade nuclear, abrindo mão de manter a superioridade americana, e isso o levou a aceitar o convite de Wallace, entrando na campanha do governador, como candidato a vice-presidente.
Entretanto, a fama de Wallace, notório segregacionista do Alabama, tachado de racista pela mídia americana, contaminou LeMay, que se viu envolvido em acusações de racismo, apesar de ter sido um dos grandes responsáveis pela dessegregação dentro das forças armadas do país. Wallace e LeMay obtiveram 13,5& dos votos nas eleições, a maior votação já conseguida por um terceiro partido nos EUA, mas não o suficiente para impedir Nixon de se tornar o 37º Presidente dos Estados Unidos.
Derrotado na eleição, LeMay voltou para a vida privada, declinando outros convites para permanecer na política e passando a cuidar de projetos sociais, falecendo em 3 de outubro de 1990 na base aérea de Marsh, na Califórnia.
Bibliografia (em inglês)
- Atkins, Albert Air Marshall Sir Arthur Harris and General Curtis E. Lemay: A Comparative Analytical Biography. AuthorHouse, 2001. ISBN 0-7596-5940-0.
- Craig, William The Fall of Japan. The Dial Press, 1967. Library of Congress Catalog Card No. 67-10704.
- Coffey, Thomas M. Iron Eagle: The Turbulent Life of General Curtis LeMay. Random House, 1986. ISBN 0-517-55188-8.
- LeMay, Curtis E. "Mission with LeMay: My Story". Doubleday, 1965
- McNamara, Robert S. In Retrospect: The Tragedy and Lessons of Vietnam. Vintage Press, 1995. ISBN 0-679-76749-5.
- Moscow, Warren "City’s Heart Gone". The New York Times. 11 March 1945: 1, 13.
- Narvez, Alfonso A. "Gen. Curtis LeMay, an Architect of Strategic Air Power, Dies at 83". The New York Times. 2 October 1990.
- Allison, Graham. Essence of Decision:Explaining the Cuban Missile Crisis (1971 – updated 2nd edition, 1999). Longman. ISBN 0-321-01349-2.
- Rhodes, Richard Dark Sun: The Making of the Hydrogen Bomb. Simon & Schuster, 1995. ISBN 0-684-80400-X
- Tillman, Barrett. LeMay. Palgrave's Great Generals Series, 2007. ISBN 1-4039-7135-8
- USAF National Museum, "Gen. Curtis E. LeMay, Awards and Decorations"
- USAF Service Record of Curtis LeMay, Military Personnel Records Center, St. Louis
Robert Strange McNamara deixou este mundo no passado dia 6 de Julho de 2009, com 93 anos. A história da sua vida confunde-se com alguns dos períodos mais conturbados da história mundial do século passado. Em 2003, através do brilhante documentário de Errol Morris, Sob a Névoa da Guerra: Onze Lições da Vida de Robert S. McNamara, parte desses momentos e algumas das lições, segundo McNamara, que dai podemos retirar ficaram registadas para a posteridade.
É um homem com o peso da culpa sobre os ombros aquele que nos é apresentado, sem que este, contudo, alguma vez manifeste essa mesma culpa ou aceite sequer discuti-la. No documentário, este refere a primeira recordação de que tem memória, a celebração em terras norte-americanas da vitória na primeira guerra mundial, lembrando como as ruas se encheram de gente, no dia em que a felicidade triunfou sobre o medo da pandemia que então também afectava o mundo, onde as pessoas saíram para a rua sem qualquer máscara de protecção como que a festejar o fim de uma peste maior. McNamara recorda Woodrow Wilson e a sua ingenuidade quando afirmou a propósito dessa guerra que "ganhámos a guerra que terminou com todas as guerras". Mal sabia Wilson como estava errado e como a não concretização desse sonho atormentaria McNamara nos anos vindouros.
Mas voltemos ao inicio: quem foi afinal Robert McNamara? O seu percurso inicial é o de um homem brilhante, inteligente, cuja educação formal culminou com a obtenção de um MBA na prestigiada universidade de Harvard. Pela sua formação académica, quando os Estados Unidos entraram na segunda guerra mundial, McNamara foi alocado ao departamento de controlo estatístico das forças aéreas norte-americanas. Depois disso foi integrado, através de um programa que visava atrair jovens brilhantes, nos quadros da Ford (curiosamente, uma empresa que estava desde 1926 à beira de falir). Nesta conseguiu ascender à posição de presidente, o primeiro a atingir tal feito não pertencendo à família Ford. Esteve pouco tempo no cargo, uma vez que John F. Kennedy ganhara a presidência dos Estados Unidos da América e, com o objectivo de criar uma equipa com os mais capazes e independentes membros da sociedade civil, convenceu McNamara a aceitar o cargo de Secretário de Estado da Defesa. É por este cargo e o que fez durante o seu mandato que McNamara será para sempre recordado, mas antes do acontecimento que representa a sua principal marca na história, recuemos um pouco.
O documentário é dividido por vários momentos. Desses, destaco três:
O primeiro é sobre a crise dos mísseis de Cuba, situação que McNamara viveu por dentro. Nesta recorda como foi 'Tommy' Thompson, antigo embaixador norte-americano em Moscovo, quem contrariou o presidente norte-americano sobre a resposta a dar aos russos face ao incidente. Kennedy manifestava muitas dúvidas que pela via da negociação os americanos conseguissem levar os russos a retirar os misseis de Cuba, mas Thompson, colocando-se no papel de Krutchev, um homem que conhecia bem, contrariou o presidente e previu que bastaria apresentar uma hipótese de salvar a face ao líder comunista que este recuaria. Thompson estava certo. E sobre isto McNamara retira a lição da necessidade de sentir empatia com o inimigo. A capacidade de olhar para os acontecimentos através do ponto de vista do outro lado. Coisa que mais tarde admite não ter sido possível sentir para com os vietnamitas. A situação é também aproveitada para retirar outra lição: a racionalidade não nos salvará. A explicação é simples, McNamara remete sobretudo para a sorte o evitar de uma guerra nuclear na situação dos misseis de Cuba. E imaginar que pessoas completamente racionais estiveram em rota de desencadear uma situação explosiva desse género não é lá muito animador. A propósito, McNamara também recorda a reacção do general Curtis LeMay quando Kennedy deu o evitar da guerra como uma vitória, LeMay terá reagido com "Ganhámos? [P.], nós perdemos. Temos de os arrasar hoje.". Era a loucura dos tempos da guerra fria.
No segundo episódio recuamos à segunda guerra mundial, a tal que não deveria existir pela tese de Wilson, e regressamos também à figura que foi Curtis LeMay. O episódio é o bombardeamento com bombas incendiárias de Tóquio, em 10 de Março de 1945, que vitimou cerca de 100 mil japoneses, ordenado por LeMay (que mais tarde viria a autorizar também o uso das bombas atómicas) e segundado por relatórios de eficiência elaborados por McNamara. "Se tivéssemos perdido, seríamos julgados como criminosos de guerra", afirmou LeMay na altura e McNamara não só aceita a tese como incluí-se no grupo de "criminosos de guerra". É a moralidade vista pelos olhos dos que perdem e dos que ganham que surge aqui. Antes disso, já McNamara havia enunciado uma das suas outras lições: A proporcionalidade deve ser regra numa guerra. O exemplo surge com Tóquio: justifica-se a destruição de 51% de uma cidade ou a utilização de bombas atómicas para vencer uma guerra? A resposta que fica no ar é que não. Mas McNamara de certa forma desresponsabiliza os intervenientes dos acontecimentos naquela altura, em parte porque foi a primeira guerra da história onde um tal nível de desproporcionalidade foi possível. Ele culpabiliza é todos os que se seguiram por não terem aprendido com esse suposto erro. Nos culpados, como é óbvio, estará ele próprio. E é ai que entra aquela que chegou a ser conhecida como a Guerra de McNamara.
O terceiro episódio é, portanto, a incontornável guerra do Vietname. Há uma coisa que fica clara das conversas que surgem entre Lyndon Johnson e Robert McNamara a propósito do escalar da guerra: Johnson a certa altura irritou-se com a situação de instabilidade na zona. A McNamara exigiu uma resolução do problema e este, sob pressão, fez o que sabia melhor: agiu. Como Daniel Finkelstein aqui tão bem interpreta, "homens de acção querem agir. São pagos para agir, chegam ao governo para agir. Desde a primeira visita ao Vietname, McNamara podia ter aprendido - se assim pretendesse - o quão difícil as coisas seriam. Mas era um homem tipo executivo e não estava para dizer ao patrão que não conseguia realizar o trabalho. Então, a dúvida foi excluída. E os factos alterados para sustentar a teoria." E a acção foi afundar os Estados Unidos numa guerra como que perdida logo de início. Mais do que isso, McNamara viu o próprio filho nas manifestações anti-guerra. Uma guerra que levou à auto-imolação de Norman Morrison frente ao gabinete de McNamara, no Pentágono, em protesto. A propósito deste último caso, a mulher de Morrison emitiu um comunicado a exigir que os homens deixassem de matar outros homens. McNamara recorda o acontecimento no documentário e questiona: "Quanto mal temos de praticar como forma de promover o bem? Temos certos ideais, certas responsabilidades. Mas existem momentos em que temos de recorrer ao mal, minimizando-o". Nota-se que é a reflexão sentida de um homem que tem em Norman Morrison um dos seus piores fantasmas. Estes acontecimentos afectaram o então secretário da defesa norte-americano. Tanto afectaram que, no dia em que recebeu a Medalha da Liberdade, a propósito do abandono do cargo, em 29 de Fevereiro de 1968, sete anos após ter começado a exercer funções, McNamara não conseguiu pronunciar mais do que uma frase com sentido. O próprio refere, no documentário, que em conversa com uma amiga havia reconhecido que não sabia se "tinha-se demitido ou havia sido demitido". Saiu derrotado e convencido que a guerra estaria perdida. Apesar disso, nunca, em momento algum, manifestou essa convicção em público nos anos seguintes em que a guerra ainda perdurou. De certa forma, e terminando com Finkelstein, já aqui citado, "A última lição é que os homens não se tornam prisioneiros só dos seus aliados. São também prisioneiros dos seus erros. No livro de Halberstam sobre o Vietname este é apresentado como a tragédia dos melhores e dos mais brilhantes. Estes nunca declararam guerra, apenas seguiram de acto em acto, enquanto a lógica sobrepunha-se ao senso comum. Enviar conselheiros, proteger conselheiros, o ataque é a melhor forma de defesa, usar bombas para atacar, ter tropas em terra para dar apoio aos ataques aéreos. Mais fundo e fundo eles cavaram".