O PAÍS NÃO É “LAICO” COISA ALGUMA

Miguel Carqueija

 

            De uns tempos para cá, influenciadas pela intensa propaganda materialista que invadiu a mídia, pessoas comuns estão repetindo como papagaios, a frase-chavão “O Estado é laico”, isto quando se trata de assuntos como crucifixo nos tribunais, ensino religioso etc. Pior, estão falando isso na ponta da língua, como resultado da lavagem cerebral.

            Mas a coisa está piorando já que, confundindo as coisas na cabeça, já se ouve dizer “O país é laico”. Ora, o Estado é uma coisa; o país é bem outra. E tanto, que normalmente grafamos “país” com inicial minúscula, mas “Estado” pede maiúscula porque se refere á parte institucional, governamental.

            Conquanto quem assim fala nem perceba em geral a malícia existente, em si a frase “O país é laico” representa um desaforo contra os crentes, a maioria absoluta da população, porque o país é o povo. Não é o Estado, que apenas representa o país ou a nação. E o povo brasileiro é essencialmente cristão.

            Quanto ao termo laico, sou contra o seu uso; é uma palavra que soa estranha em nossa língua e já adquiriu conotação de hostilidade ou mesmo ódio contra a religião (principalmante o Cristianismo). Sou totalmente a favor da separação entre Igreja e Estado (como bem disse Jesus, “Daí pois a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”; Lc 20,25)), mesmo porque quando o estado era religioso – no tempo do Império — a Igreja não tinha liberdade e era perseguida (o governo de Dom Pedro II fechou os noviciados, condenando as ordens religiosas à morte lenta, e encarcerou os bispos Dom Vital e Dom Macedo Costa).

            Digamos então que o Estado não é laico, mas leigo ou civil. Algumas pessoas entendem que “leigo” quer dizer não especialista em alguma coisa (leigo em Medicina p.ex.) mas também quer dizer o mesmo que laico. Sem o tom hostil. Tanto que existe a ideologia do laicismo, mas ninguém fala em leiguismo.

            Estado leigo não quer dizer Estado ateu. E o caráter civil do Estado quer dizer apenas que ele cuida de assuntos como transportes, economia, segurança pública etc. próprios de sua natureza, enquanto a religião cuida mais de assuntos espirituais, a nossa relação com Deus. Nada impede a colaboração mútua, ou que em cerimônias públicas estejam presentes “autoridades civis, militares e eclesiásticas”.

            Não há mal nenhum na presença de símbolos cristãos em tribunais e outros locais públicos, não pode ofender ninguém. Há toda uma tradição histórica e cultural inclusive, não é razoável que o Estado ignore a Fé de quase toda a população, isto não o desvia de seus afazeres civis. Os últimos chefes de estado eleitos no Peru (presidente) e na Espanha (primeiro-ministro) praticaram o ato tradicional de jurar sobre a Bíblia, não se envergonharam de fazer isso. Não é razoável querer que Religião e Estado sigam linhas paralelas sem nunca se encontrarem, por isso um sacerdote pode também exercer atividades civis como dar aulas de Geografia e Matemática.

            Não se iludam. O que existe é ódio à religião, por trás desse slogan capcioso de que “o Estado é laico”. Hoje retiram os crucifixos dos órgãos públicos. Amanhã nos proibirão de entrar neles ou mesmo de circular pelas ruas (que são públicas, do Estado...) com símbolos cristãos como medalhas e cruzinhas. E depois de amanhã dinamitarão o Cristo Redentor.

 

Rio de Janeiro, 4 de janeiro de 2014.