[Maria do Rosário Pedreira]

Há uns dias, assim, de repente, veio a má notícia: Ilídio Matos, o primeiro agente literário português (e o único em Portugal ao longo de décadas), representando os direitos de editoras alemãs, suíças, norte-americanas e outras, tinha morrido. Dois dias antes, duas editoras da LeYa tinham almoçado com ele e dito que estava entusiasmado com uma operação às cataratas que ia fazer, pois andava a ver muito mal. Mas que, de resto, parecia francamente bem e cheio de projectos. Nesse dia planeei combinar mais um almocinho com ele e com a minha amiga Ana Pereirinha, editora na Planeta, pois há muito que lho prometêramos; mas já não irei a tempo – e arrependo-me obviamente de deixar que o stress se sobreponha tanta vez às coisas realmente importantes da vida. O Ilídio era um grande amigo – e, com aquele seu ar de pai, chamava-me carinhosamente «joiinha» ou «doutorita», pois conhecia-me desde 1987, o ano em que me iniciei no mundo dos livros. Ele tinha um fantástico sentido de humor e, estando no mundo editorial há tantos anos (tinha oitenta e sete), histórias interessantes para contar que nunca mais acabavam e faziam as delícias de quem o ouvia. Quase todos os editores sentirão a falta dele, tenho a certeza, e merecia que todos os jornais lhe dedicassem umas valentes páginas porque faz claramente parte da História da Edição em Portugal e foi um dos seus mais originais protagonistas. Ficámos sem o nosso agente em Lisboa – e estamos tristes.